(Foto: Bruno Alvares e Jéssica Liar/Garena) |
Astros brasileiros dos esportes eletrônicos seguem repercutindo a declaração da ministra do Esporte, Ana Moser, de que esports não podem ser considerados esportes. O influenciador e empresário Bruno "Nobru", o streamer Alexandre "Gaules" e o jogador de Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO) Gabriel "FalleN", três dos maiores nomes dos esports no Brasil, se pronunciaram, assim como outras personalidades que já haviam se manifestado anteriormente com críticas e ironias.
Em uma entrevista ao UOL, a ministra, ex-jogadora de vôlei, comparou o treino de atletas de esports ao da cantora Ivete Sangalo e declarou que os esportes eletrônicos fazem parte da indústria do entretenimento, assim como a música, e não são esportes.
O ex-jogador profissional Nobru, que é cofundador do clube de esports Fluxo ao lado do também influenciador Lucio "Cerol", gravou vídeos nos Stories do Instagram para criticar a manifestação de Ana Moser.
— Senhora ministra, eu queria falar em nome de todos os atletas de esports, que são muitos, aliás. Esport é um esporte, sim! — cravou Nobru.
— Eu acho que fazer a comparação que você fez com uma artista como a Ivete Sangalo, que treina para fazer um show, para justificar que esport não é esporte só porque um jogador treina é você ignorar todo o processo que a pessoa tem ali de preparo físico e mental para disputar uma competição. Se além de esporte, os games também são entretenimento, é só para mostrar que as pessoas já estão buscando outras coisas além do que os jogos tradicionais podem oferecer. A senhora me desculpe, mas eu acho que a diferença está exatamente no seu desconhecimento desse nosso mercado gigantesco, que movimenta milhões e atrai milhares de pessoas.
Ele ainda citou a rotina de um jogador de esports para compará-la com a de um atleta de esporte tradicional.
— Vou falar como atleta de esports: para você se tornar um atleta, não é somente sentar a bunda no sofá, na cama, na cadeira, pegar um celular ou um computador e começar a jogar. Você precisa muito além disso. Você precisa de estrutura. O que seria estrutura hoje em dia para um atleta de esports? É ele se localizar numa 'GH'. Para vocês que não sabem o que é 'GH', fazer uma comparação rápida com o futebol. Quem joga futebol fica alojado em um centro de treinamento. A gente, que é atleta de esports, se localiza em uma 'GH', que é uma 'gaming house'. Além dessa estrutura, a gente tem que ter horários de treinos, tem que cuidar da nossa alimentação, a gente passa com fisioterapeuta, psicólogo. Eu não sei o que mais precisa para a gente mostrar que os esports são esportes e que precisam de uma preparação absurda para você se tornar atleta.
Nobru concluiu seu raciocínio citando a própria história de vida e lamentou que o Governo Federal não tem a intenção de investir nos esportes eletrônicos:
— Considerando nosso país, onde os atletas de luta, surfe, qualquer outro segmento, têm que vender doce na rua, fazer várias paradas para treinar e correr atrás dos seus sonhos, eu tenho certeza que os jogos eletrônicos nasceram para dar mais esperança para a criança, para realmente mostrar que existem outros caminhos que a gente consegue vencer na vida, assim como eu venci. Eu, garoto de comunidade, com 17 anos, da zona sul de São Paulo, que não tinha nem celular, venci na vida graças aos jogos eletrônicos. Hoje em dia eu consigo sustentar minha família, ter uma vida financeiramente estável e ter uma empresa com mais de 200 funcionários, que também dependem do sucesso desta empresa de esports para sustentar a família deles.
— Senhora ministra, lamentável saber que não considera um esporte e que vocês não pretendem investir. Mas é isso, estamos tristes — concluiu Nobru.
Gaules, que é o segundo streamer mais assistido do mundo e venceu, por três anos consecutivos, a categoria "melhor streamer" do Prêmio eSports Brasil, minimizou as declarações de Ana Moser.
— A parte boa disso é que a gente nunca precisou e nem vai precisar dessa galera para ficar dizendo se é esporte ou não é. A gente nunca precisou desse pessoal, nem nunca vai precisar — disse Gaules, em uma stream, depois de ter ironizado a fala da ministra do Esporte em uma publicação no Twitter.
— A live do entretenimento está ON. E, assim como Ivete, hoje me preparei para dar show! — escreveu Gaules ao divulgar o link para a sua transmissão.
FalleN, capitão da Imperial, bicampeão mundial e o principal nome do CS:GO brasileiro, pregou que haja diálogo com o Poder Público.
— Eventualmente, cedo ou tarde, a gente vai precisar ter algumas regulações para o esporte eletrônico no país. São coisas que já estão acontecendo em outros países — iniciou FalleN.
— A grande verdade é que as pessoas que estão na condição de poder e cuidam de pastas como esta precisam tentar entender o Brasil como um todo. Muito se fala sobre esse governo que chegou ao poder mais uma vez, sobre tentar ver todos os lados da moeda. É uma coisa que é verdade. Tem que ser olhado mesmo. Se alguém entra em uma pasta com a noção dela sem pesquisar, sem levar em consideração o que outras pessoas pensam, sem levar em consideração coisas que não conhecem, elas correm o risco de fazerem coisas que não fazem sentido para uma parcela da galera.
Foi nesse contexto que FalleN pregou que haja diálogo com as autoridades públicas.
— Quem sabe com diálogo e apresentando ideias, seja possível mostrar uma outra faceta, porque eu acho que é importante, sim, ter ações reguladas, que abram oportunidades para fazer coisas bacanas nos esports, leis que ajudem os profissionais, os atletas que estão vindo, leis que ajudem as empresas a também investirem neste mundo. Existem várias leis no Brasil e acabam incentivando algumas empresas a participar de eventos, patrocinando e tal. Quando você tem essas coisas reguladas, quando você permite essas coisas, você acaba ajudando a crescer. Mas os esports vêm crescendo bem, os esports vêm traçando seu próprio caminho no mundo tudo, inclusive no Brasil, e esse pequeno contratempo vai nos atrasar um pouquinho em alguns sentidos, mas, por outros pontos de vista, acabam atrapalhando menos o que já vem acontecendo bem.
Ele concluiu:
— Da nossa parte, de quem conhece os games e vive o mundo dos games há muito tempo, quem é fã e conhece os games, cabe à gente positivamente tentar fazer um diálogo para mostrar que existe uma outra realidade que algumas pessoas ainda não conhecem. Está tudo bem. Ninguém conhece tudo. A gente vai, aos poucos, lidando com essas pautas.
Globo Esporte
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