(Foto: Milena Maldonado) |
A progressão de carreira do homem lutador de jiu-jítsu é parecida desde os tempos de Hélio Gracie: quando os desafios no pano terminam, é hora de migrar para o Vale-Tudo, atualmente o MMA. Para as mulheres, o mercado era mais restrito, mas o recente sucesso de nomes como Mackenzie Dern e Michele Nicolini no cage vem abrindo as portas para mais lutadoras. O nome da vez é Beatriz Mesquita, lutadora mais condecorada da história da Arte Suave.
Nesta semana, a decacampeã mundial de jiu-jítsu anunciou oficialmente que não participará do Mundial da Federação Internacional de Jiu-Jítsu (IBJJF) e que iniciará sua transição para o MMA. Ela ainda compete no Mundial do ADCC, o mais prestigioso campeonato de luta agarrada do mundo (do qual foi campeã em 2017), em setembro, e pretende fazer sua estreia nos cages no último trimestre de 2022.
- Eu já vinha querendo fazer essa transição para o MMA há algum tempo. Só que a realidade é que eu sou apaixonada pelo jiu-jítsu, pela competição de quimono. São mais de 20 anos de carreira, então é muito difícil tomar uma decisão assim. Eu vim prorrogando esse momento há uns cinco anos, antes de ter esse breakdown do covid. Senti que, se eu não tomasse essa decisão (agora), eu nunca ia realmente dar o próximo passo para essa transição. Ano passado eu consegui completar o meu décimo título e eu falei, "Agora está 10, redondo, gostei. Então vamos, agora já dá pra dar esse próximo passo” - disse a atleta carioca em entrevista por telefone ao Combate.
De fato, a vontade de se testar no MMA não é um sonho antigo de Mesquita, que admite que achava loucura se dispor a levar soco na cara em combate. Contudo, ela já é uma artista marcial mista desde a adolescência: ainda na faixa azul, começou a praticar wrestling, o que a ajuda no controle posicional e na defesa de quedas. Também praticava muay thai "nas horas vagas", quando não tinha competições de quimono em vista.
A ideia de lutar MMA começou a ficar mais séria em 2018, depois que Bia se mudou para San Diego. Na academia Gracie South Bay, onde treina, dividiu os tatames com lutadoras do UFC e intensificou os treinos de muay thai. Ela cravou que queria mesmo fazer a transição após competir no Combat Jiu-Jitsu, evento no qual os lutadores podem trocar tapas durante a luta agarrada, em 2019.
- Eu comecei a enxergar mais quando essa vontade, de repente, de competir no jiu-jítsu foi dando uma diminuída. A vontade do novo, eu acho que o que me move muito é essa incerteza, “Será que eu vou conseguir? Será que eu não vou? Será que eu vou me dar bem? Será que eu vou gostar?” Isso me motiva muito a treinar e a me dedicar mais do que 100%, de dar tudo de mim para o algo novo. Porque quando eu traço uma meta, eu vou até eu conseguir, foi assim com todos os meus títulos.
- Acho que é isso o que eu vou buscar nessa transição para o MMA. É a motivação do novo, do desconhecido, as sensações de querer mostrar que eu consigo, que eu vou ter um bom desempenho, independente do que eu escolher. Sentir aquele friozinho na barriga - comentou.
De volta à Califórnia após competir em abril no BJJ Stars em São Paulo e passar um tempo no Brasil, Bia Mesquita vai agora começar a traçar o planejamento para a transição. Ainda não tem equipe, manager ou evento para sua estreia. Sua única certeza é que, apesar de largar o quimono ser doloroso, ela vai fazer dar certo.
- Eu pensei muito nisso, que se eu esperar demais, daqui a pouco não vai dar tempo de chegar no cinturão, porque você tem que fazer várias lutas e o MMA não é como no jiu-jítsu, que você faz uma luta todo mês, é diferente. Tenho que dar esse passo agora ou vai ser tarde demais, e aí vou me arrepender de não ter feito antes. Não lutar o Mundial este ano está me partindo o coração, mas tenho certeza que vai valer muito a pena quando eu fizer minha estreia, e no futuro ser detentora do cinturão da minha categoria, tenho certeza que essa decisão vai fazer muito mais sentido do que faz hoje - concluiu a lutadora brasileira.
Globo Esporte
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