Boicote evidencia tensão entre atletas e CBV: "Me sinto agredida", diz Maria Elisa

(Foto: Divulgação / FIVB)


Em meio à primeira etapa do Circuito Brasileiro de vôlei de praia, atletas e Confederação Brasileira de Vôlei parecem longe de um acordo. A ausência dos principais nomes da modalidade na disputa em Saquarema evidencia o racha entre duplas e confederação diante das mudanças no sistema de disputa.

Maria Elisa, que faz dupla com Fernanda Berti, não se inscreveu para a primeira etapa, realizada neste fim de semana em Saquarema. Para a jogadora, o boicote é fruto da falta de diálogo entre atletas e CBV.

- Eu tenho me sentido agredida, como todos os atletas. Isso que está me motivando a não jogar. Você imagina, ficar uma etapa sem jogar. As pessoas precisam desse dinheiro. Para chegar a esse ponto, é porque está sendo pesado. Ninguém está feliz. Esse diálogo tem de acontecer. Não pode haver uma imposição de sistema. Tem de agradar a todo mundo, patrocinadores, confederação e atletas. Não dá para ser da forma que foi colocado. Está todo mundo triste por não estar jogando, mexe com o bolso de todo mundo. Nossa opinião tem de contar – disse Maria Elisa, uma das principais jogadoras do circuito.

Para a jogadora, o sistema antigo de disputa não é o culpado pelo desempenho ruim nas Olimpíadas de Tóquio. Nos Jogos, pela primeira vez, o vôlei de praia voltou para casa sem medalhas. Segundo Maria Elisa, a explicação está na queda de investimento depois de a modalidade subir duas vezes ao pódio no Rio 2016.

- Acho que agora foi a gota d’água de tudo o que vem acontecendo. Tivemos as Olimpíadas de 2016, que fomos vitoriosos, com um ouro e uma prata. E logo depois caiu muito o investimento no nosso circuito. Tivemos uma Olimpíada que não obtivemos medalhas. Mas não foi por falta de empenho dos atletas. Esqueceram do investimento. Depois das Olimpíadas do Rio, quando deveríamos ter um boom, tivemos apenas sete etapas no circuito. Não dá para colocar a culpa no nosso sistema. Eu vim desse sistema. Achar que a solução está em trocar tudo está errado.

O boicote à etapa de estreia do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia começou ainda no qualifying. Pela primeira vez na história da competição, a fase de classificação não ocorreu por falta de duplas inscritas. O novo formato de disputa do Circuito não agradou em nada os atletas. Algumas das principais duplas, então, decidiram não se inscrever para competição.

A CBV apontou que o principal motivo de discórdia seria por conta da premiação menor por etapa. Diante da acusação, a Comissão de Atletas negou e voltou a criticar o formato de disputas. Presidente da Comissão dos Atletas, Carlos Martins, o Carlão, afirmou que as principais duplas, que seriam beneficiadas financeiramente com o novo modelo, não se inscreveram.

- Isso é uma narrativa que a comissão rechaça prontamente. Porque, se você entender o novo regulamento, que chama-se top 8 e aberto, se você olhar que a adesão do top 8 foi mínima ou quase que insignificante, essa narrativa cai por terra no mesmo instante. A Comissão de Atletas e os atletas do vôlei de praia brasileiro respeitam as instituições. Nós não distorcemos narrativa. A comissão está respaldada inclusive por 95% dos atletas. Respeitamos aqueles que se inscreveram. Não pedimos para ninguém não se inscrever, mas falar sobre essa questão da premiação, isso é um absurdo – afirmou.

Nova polêmica

Em Saquarema, a tensão subiu ainda mais. Duas duplas, Maria Eduarda (RJ)/Pillar (RJ) e Julio Cesar (RJ)/Luiz Felipe (RJ), afirmam não terem feito a inscrição na etapa. Ainda assim, apareceram na tabela do torneio, com horário e adversários definidos. Os jogos terminaram em WO. A CBV afirma que os registros aparecem no sistema e que, por isso, os nomes foram mantidos na etapa.

A CBV defende o novo formato. Guilherme Marques, diretor da modalidade, acredita que os atletas vão aderir ao sistema já na próxima etapa, prevista para março. Uma nova reunião entre confederação e comissão deverá ocorrer na próxima semana.

- O tempo vai mostrar a todo mundo qual a proposta por trás, o conceito. Todo mundo vai entender que fazemos parte de um time. Não estamos em times opostos. Temos de trabalhar juntos. Tenho certeza que todos vão entender e, na segunda etapa, esse capítulo vai ficar para trás – afirmou o dirigente.

As principais mudanças de formato:

  • Competição terá dois torneios dentro de uma mesma etapa;
  • O top 8 será disputado pelas sete melhores duplas do ranking, mais o vencedor do torneio aberto anterior;
  • Torneio aberto é o torneio que engloba do oitavo do ranking para baixo, com um total de 16 duplas, sendo treze definidas pelo ranking, uma de jovens sub-21 e duas vindas do classificatório da própria competição;
  • As duas competições contarão pontos para o circuito nacional. A pontuação do primeiro lugar do open será similar ao quinto lugar do top 8. Então, as duplas poderão mudar de status ao longo do tempo;
  • Serão 10 torneios top 8 e 15 abertos por gênero durante a temporada;
  • Em um dos pontos reclamados pelos atletas, nos torneios de classificação, os jogos da primeira rodada serão disputados em set único, de 25 pontos.


Globo Esporte

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