(Foto: Dean Mouhtaropoulos/Getty Images) |
Os esquemas de manipulação de resultados podem ter chegado ao boxe olímpico. Uma extensa investigação, conduzida pelo professor canadense Richard McLaren, famoso pelo dossiê que revelou o escândalo de doping no esporte russo, agora lança luz sobre os ringues, e o endereço desse golpe está mais perto do que se imagina. As suspeitas são de que até dez lutas das Olimpíadas do Rio, em 2016, tenham integrado um esquema de corrupção. A informação foi divulgada nesta quarta-feira pelo jornal britânico "The Guardian".
Richard McLaren havia sido contratado pela Associação Internacional de Boxe (AIBA) para investigar alegações de irregularidades no torneio olímpico. Uma das maiores controvérsias daquela edição foi o caso envolvendo o irlandês Michael Conlan. Nas quartas de final do peso-galo, até 56 kg, ele dominou a luta contra Vladimir Nikitin. Ainda assim, viu a arbitragem dar a vitória ao russo na decisão dividida. Curiosamente, o vencedor não conseguiu retornar ao ringue para as semifinais devido aos ferimentos causados pelo adversário. Naquela época, o irlandês chegou a chamar os dirigentes da AIBA de trapaceiros.
Cinco anos depois, a luta é um dos alvos da investigação, que aponta favorecimento a determinados resultados. A expectativa é que McLaren e sua equipe da agência de investigações McLaren Global Sport Solutions (MGSS) deem mais detalhes das descobertas dessa fase inicial e dos desdobramentos do trabalho nesta quinta-feira, em entrevista coletiva a ser concedida em Lausanne, na Suíça. Eles passaram os últimos três meses debruçados em documentos suspeitos de julgamentos e negociatas.
Risco de exclusão do programa olímpico
As suspeitas agravam ainda mais a realidade atual vivida pela AIBA. Desde 2020, a federação está suspensa pelo Comitê Olímpico Internacional pelo envolvimento em crimes de corrupção. Em 2017 e 2019, os então presidentes da entidade, Wu Ching-Kuo, de Taiwan, e seu sucessor, Gafur Rakhimov, do Uzbequistão, tiveram que renunciar pressionados pelas investigações e pelo COI, incluindo suspeita de envolvimento com o tráfico de heroína, no caso do dirigente uzbeque.
A investigação faz parte do plano de restauração da imagem da AIBA que o atual presidente, Umar Kremlev, planeja colocar em prática. Ainda em 2017, alegando concentração do poder de decisão e eixo de influência indesejável, a entidade expulsou os árbitros "cinco estrelas" do quadro. Ainda assim, afirmou que nenhum deles interferiu em resultados. Já em 2021, após denúncias de corrupção e irregularidades financeiras, a federação também perdeu o direito de organizar a modalidade nos Jogos de Tóquio.
Com mais uma suspeita grave em evidência, há um temor crescente na AIBA de que o boxe acabe excluído do programa olímpico, já a partir das Olimpíadas de Paris 2024. A expectativa da entidade é que a contribuição na investigação do suposto esquema na Rio 2016 e a mudança de cenário sob a nova gestão colaborem para retomar a relação junto ao COI.
Na semana anterior, a entidade máxima do esporte olímpico manifestou desconfiança quanto aos resultados do boxe nos Campeonatos Mundiais Juvenis e Asiáticos, organizados pela AIBA no início deste ano. O Conselho Executivo do COI também reafirmou suas “preocupações profundas” com a administração da federação, e reiterou sua posição de que o lugar do boxe em Paris 2024 não estava confirmado
Globo Esporte
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