(Foto: Vitor Silva/Botafogo) |
Em "15 dias que mais pareceram 15 meses", Durcesio Mello conta que viveu o Botafogo desde o momento em que acordou até a hora de ir dormir. Com cobranças da torcida até por mensagens no celular, o presidente tenta reestruturar o clube em meio à iminente queda para a Série B do Brasileirão, que pode gerar perda de R$ 100 milhões em receitas nos cálculos do mandatário.
Na primeira entrevista exclusiva desde que foi empossado no último dia 4, Durcesio falou ao ge sobre o planejamento para a próxima temporada e a expectativa sobre a S/A, que já foi maior. O presidente ainda acredita, mas diz não contar mais com o projeto clube-empresa, e está atrás de dinheiro novo.
- O problema desses primeiros dias, esses 15 dias que estão parecendo 15 meses, é que o time está numa situação desconfortável, e a pressão só aumenta.
- Estou em algumas negociações avançadas, mas nada finalizado. Então só posso contar com o dinheiro depois. Porque eu não vou ficar contando mais com a S/A, pode ser até que a S/A saia antes do que eu espero, mas eu não vou mais contar. No ano passado, era muito otimista, mas eu não estava participando diretamente do processo. E acabei pagando um preço alto, porque todo mundo cobra isso até hoje de mim. Eu falei que ia sair em julho, em setembro, em outubro, e não saiu. E agora nós estamos no plano B, que é completamente diferente.
Ainda com a esperança pela permanência na Série A, Durcesio aguarda o diretor de futebol nos próximos dias para definir o planejamento do Botafogo. O rebaixamento é praticamente inevitável e, se confirmado, vai ditar mudanças no departamento, como a decisão de quais jogadores deixarão o clube. Com confiança no trabalho do técnico Eduardo Barroca, o presidente gostaria de mantê-lo por mais tempo, mas garante que o novo dirigente é quem baterá o martelo.
- Dos atletas que saem, acho que o Victor Luis principalmente é o que tem o salário maior. Outros que vão ficar impactam muito a folha, tipo o Kalou e os próprios Gatito e Cavalieri, que têm salários mais significativos no Botafogo. Não estou falando que eu não vou manter, eu não quero vender o Gatito de jeito nenhum, tenho que arrumar dinheiro para poder pagá-lo. Victor Luis é comprometido e adora o Botafogo. Diego Cavalieri é um reserva de muito luxo.
- Eu gostaria de manter o Barroca, gosto do trabalho dele e gostaria de mantê-lo por quatro anos, mas não sei nem se vou manter para o Campeonato Carioca. O diretor de futebol vai decidir isso, ele vai ter essa autonomia - afirmou Durcesio ao ge.
Leia abaixo a entrevista completa com Durcesio Mello:
Como foram esses primeiros 15 dias à frente do Botafogo?
- Durante o grupo de transição, a gente fez um levantamento da situação do clube e um plano de 100 dias, que vão ser completados com a chegada do CEO. A gente já contratou um headhunter, que esteve recentemente aqui no Rio, e a largada eu gosto de dizer que vai se dar com a chegada do CEO. Agora, o problema desses primeiros 15 dias, que estão parecendo 15 meses, é que o time está numa situação desconfortável, e a pressão aumenta, pressão por demissões, pressão por penalidades pra jogadores.
- Tem sido muito trabalho. Diferentemente de outras administrações, até por não ser amador, e não estou recriminando ninguém, mas eu estou vivendo o Botafogo de 8 da manhã às 8 da noite. Estou em General Severiano, às vezes no Nilton Santos, todos os dias às 8 da manhã e fico o dia inteiro. Vai continuar assim até a chegada do CEO pelo menos. A situação financeira é difícil, o que foi deixado de várias gestões está complicado e, se eu sair e não fizer nada, vai estar mais complicado pro outro, mas acho que vamos fazer um trabalho de longo prazo que vai ser bacana.
De onde vem essa pressão que o senhor fala?
- A pressão vem da torcida, a torcida fica pedindo, alguns conseguem meu telefone e me mandam mensagem no Whatsapp: “Você vai tirar o Barroca? Vai tirar o Tulio? Vai mandar ciclano embora?”. As pessoas não entendem as dificuldades. É sócio-proprietário, sócio-torcedor que me ligam, mandam mensagem reclamando. Não é fácil assim. Vou mandar o jogador embora e pago como? Todo jogador tem contrato.
Nos últimos dias, o senhor disse ter aplicado multas em jogadores e fala-se muito no estado de apatia e falta de comprometimento de alguns. Como está o vestiário?
- Eu sinto, estando mais de fora, que a maioria dos jogadores comprometida. Vai ter sempre um, dois ou três que não estão comprometidos, e isso pode afetar os outros, é a história da laranja podre num cesto. Obviamente a comissão técnica está avaliando isso e vai tomar medidas também. A gente está na reta final, qualquer tumulto que se fizer agora só piora.
Em termos de dinheiro, o que significaria o rebaixamento para o Botafogo hoje?
- Significa perder mais ou menos 100 milhões de reais. Acho que não precisa falar mais. Basicamente você sai de R$ 80 milhões de receitas de TV para R$ 10 milhões na Série B. Aí você tem patrocínio de camisa que pode ser impactado, diversas outras receitas que a monetização fica menos valorizada do que se tivesse na Série A. Isso no papel dá quase R$ 100 milhões. Aí dá pra imaginar o tamanho do rombo num clube que tem o orçamento de R$ 200 milhões e cai pra R$ 100 milhões. É complicado.
"O planejamento, mesmo com o diretor de futebol, vai esperar algumas rodadas, porque milagres existem e eu sou otimista por natureza. Matematicamente rebaixado, já vai haver nesse campeonato mudanças significativas até visando o elenco do Campeonato Carioca".
Oito atletas têm contrato terminando ao fim do Campeonato Brasileiro. Outros podem ser negociados. A diretoria pretende fazer acordos?
- Dos atletas que saem, acho que o Victor Luis principalmente é o que tem o salário maior. Outros que vão ficar impactam muito a folha, tipo o Kalou e os próprios Gatito e Cavalieri, que têm salários mais significativos no Botafogo. É um problema que teremos que conviver porque eles têm contrato. Eu mando embora, eles entram na Justiça e o valor até o final do ano dobra. O que tem que fazer é trazer dinheiro novo, e é isso que eu tenho trabalhado 24 horas por dia.
"Estou com várias perspectivas de tentar recompor pelo menos em parte esses R$ 100 milhões que a gente pode perder se cair pra Série B".
- O Gatito, por exemplo, é uma pessoa muito querida, um ídolo, que eu adoro, mas se tiver uma oferta... Nenhum time da Série A tem os goleiros do nível que a gente tem. Qual time da Série A que tem um goleiro como o Gatito, que é um dos melhores do Brasil, e ainda por cima um reserva de muito luxo que é o Cavalieri? Ainda tem o Diego (Loureiro), que agarrou tudo e mais um pouco contra o Santos. A gente vai estar aberto pra negociar isso.
- Não estou falando que eu não vou manter, só estou falando que são jogadores ou que acabam o contrato ou mais caros. O Victor Luis é um exemplo, ele é comprometido e adora o Botafogo. Eu não quero vender o Gatito de jeito nenhum, tenho que arrumar dinheiro para poder pagá-lo. Eu adoraria ter dois goleiros desse nível mesmo na série B. A gente tem um jogo agora na quarta-feira que se a gente vence pode ser um divisor de águas. A gente tem Sport, Atlético-GO, Goiás, Fluminense, o próprio Ceará. Então a gente tem uma tabela favorecendo.
"Eu ainda acredito na Série A, e isso eu falo para os jogadores toda vez que eu vou lá. E eu conto com todos eles".
O ge noticiou recentemente interesse de um clube mexicano pelo Kanu. Fala-se também na possibilidade de jogadores como Marcelo Benevenuto e Caio Alexandre saírem. Existe alguma proposta oficial?
- Só o Kanu teve sondagem, mas além de ser um baita jogador, é um baita líder, um baita homem, eu não venderia o Kanu por menos de muito dinheiro, porque eu gostaria de contar com ele. Tudo é possível, mas só teve sondagem: “O Botafogo teria interesse de vender ou emprestar com valor de compra determinado?”. A princípio não, ou é venda ou não é. Foi só uma sondagem. Para Marcelo Benevenuto e Caio Alexandre não teve nada.
Sobre o planejamento para a próxima temporada, Eduardo Barroca está nos planos?
- O Barroca eu gostaria de mantê-lo até o final do ano sim. Mas eu não vou tomar essa decisão, quem vai tomar essa decisão é o diretor de futebol. Se vai ficar com ele ou vai partir para outro. Eu gosto do Barroca, gosto muito do Barroca e confio no trabalho dele. Eu quero mudar esse padrão no Brasil, muita pretensão da minha parte, mas a imprensa é a primeira a falar que é contra essa mudança de técnico toda hora, o elenco reclamou muito dessa mudança que a gente teve esse ano, de vários técnicos. Então, eu gostaria de manter o Barroca.
- Gosto do trabalho dele e gostaria de mantê-lo por quatro anos, mas não sei nem se vou manter para o Campeonato Carioca. O diretor de futebol vai decidir isso, ele vai ter essa autonomia. Eu não quero fazer esse tipo de influência. Mas a minha vontade, se eu sou o diretor de futebol eu manteria o Barroca. Eu manteria o Barroca com certeza.
O senhor está participando do processo de criação da S/A? Como está o projeto?
- Eu tenho falado com o Gustavo Magalhães (líder do processo) regularmente, estou agilizando coisas na parte jurídica porque tinha cláusulas para proteger o Botafogo, então eu alterei isso no acordo de investimento. Agora ele vai finalizar porque você tem os dois acordos. A apresentação que é para os investidores e tem o dos 49%. Essa coisa está meio amarrada e agora é sair em campo para conseguir, para fazer a segunda rodada, a terceira rodada de negociações. Estou muito otimista, mas não estou só contando com a S/A, por isso que estou falando que estou indo atrás de dinheiro novo, independentemente de Série A, B, a gente vai precisar de dinheiro novo.
- Estou em algumas negociações avançadas, mas nada finalizado. Então só posso contar com o dinheiro depois. Porque eu não vou ficar contando mais com a S/A, pode ser até que a S/A saia antes do que eu espero, mas eu não vou mais contar. No ano passado, eu era muito otimista, mas eu não estava participando diretamente do processo. E acabei pagando um preço alto, porque todo mundo cobra isso até hoje de mim. Eu falei que ia sair em julho, em setembro, em outubro, e não saiu. E agora nós estamos no plano B, que é completamente diferente.
- Agora está aberto para investidores estrangeiros, e o otimismo meu é porque o dinheiro que se fala para colocar numa S/A é muito pouco em relação ao mundo do futebol. Você falar hoje num fundo para investir alguma coisa em torno de 60 milhões de euros no Botafogo é muito barato. Apesar da dívida. Isso que me deixa muito otimista. Você vê aí clubes pequenos, não tem nem de perto a expressão que o Botafogo tem, e sendo vendidos na Europa por fortunas. Eu acho muito viável, porque é muito pouco dinheiro para esse mundo do futebol.
O senhor vai vender o Botafogo?
- Não é vender, o Botafogo vai continuar existindo. Nesse contrato tem obrigações, eles têm que manter a marca, eles têm várias obrigações. Inclusive royalties que o Botafogo vai ficar, que é o detentor da marca. É um contrato de 30 anos, como já era no anterior. Tem cláusulas de rescisão, se não performarem o Botafogo pode pegar de volta antes dos 30 anos. Então tem metas para eles de pontuação. É um Campeonato Brasileiro, uma Liberadores, uma Copa do Brasil ou algumas finais. Tem um modelo que define isso, e são cláusulas que permitem a rescisão do contrato. Ou seja, para isso garante um contínuo investimento do fundo no Botafogo.
O senhor emprestou dinheiro ao Botafogo? Como está essa dívida?
- É um bom dinheiro, mas isso já foi no passado. Ajudei a pagar salário de jogadores há muito tempo. Já teve com o Manoel Renha (ex-coordenador da base) na base que eu ajudei numa época, e teve na época do último ano do Mauricio Assumpção, que eu nem conhecia, mas eu fui um do grupo daqueles que Montenegro (ex-presidente) liderou na época que ajudava a pagar salário pra não perder os jogadores.
- Eu tenho até um contrato sem juros, que todo mundo fez, não foi só eu. Mas tenho tantas prioridades que eu acho que eu posso abrir mão disso, se daqui a 100 anos pagarem para os meu netos, aí está tudo bacana. O Botafogo já vai estar rico, aí paga para os meus netos. Eu não vou considerar mais esse dinheiro.
Globo Esporte
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