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Novos trechos de conversas telefônicas do jogador Robinho, gravadas com autorização judicial, foram revelados nesta sexta-feira pelo UOL Esporte. Na última quinta-feira, a Corte de Apelação de Milão confirmou a condenação do jogador Robinho e de seu amigo Ricardo Falco pelo crime de violência sexual de grupo contra uma mulher albanesa, em 2013.
O tribunal, a segunda instância da Justiça italiana, também referendou a pena de nove anos de prisão. Em um dos trechos divulgados, Robinho aconselha Ricardo Falco a voltar ao Brasil para evitar a prisão.
— Cara, você quer um conselho? Não vai nem lá, voltar pro Brasil, pelo menos tu não fica em cana (risos) — falou o atacante. A transcrição foi anexada ao processo em 18 de novembro.
— Se os caras mandarem eu ir lá depor vai ser foda, vou falar o que pra minha nega? Vou lá depor pra quê? Oito cara rangaram a mina... Ó que fase que eu tô... — disse Robinho, em outro trecho.
Em outubro, o ge teve acesso a uma outra transcrição na qual Robinho e amigos admitiam que a vítima estava "completamente bêbada".
Veja abaixo a transcrição da conversa obtida pelo UOL Esporte (os nomes dos amigos de Robinho que não estão sendo processados na Itália foram omitidos):
Amigo 1: Neguinho, por exemplo, se a mina não teve (filho), não pega nada, mas se ela teve filho aí é DNA, né?
Robinho: Então, e agora mano? Vai entender se a menina teve filho. Ninguém sabe se ela teve, se ela não teve, a polícia não vai falar.
Amigo 1: Então, por exemplo, se ela não teve filho é a palavra dela contra a da gente, não tem como ela acusar, agora se ela teve filho é puxado hein.
Robinho: É, então, mas eu não sei se a menina teve ou não teve... o cara que o Jairo (músico que tocava na boate na noite do crime) contratou falou: "ó, a única coisa boa é que os caras tá lá no Brasil e na discoteca não tinha câmera, porque se pegasse a câmera os caras iam pegar eles até no Brasil, como não tinha câmera vai ficar meio embaçado pra mina provar que estupraram ela se ela não estiver grávida.
O atacante, em determinado momento da conversa, demonstra medo de a história vazar na imprensa:
Robinho: Eu tô com medo se os caras me chamarem para depor, eu não sei, tomara Deus que, o meu medo é esse, o meu medo é sair na imprensa. "Amigos de Robinho estupraram menina lá na Europa", meu medo é esse.
Amigo 1: Nossa.
Robinho: Ó a falha, ó a falha, foda mano, tô com a cabeça um trevo aqui mano.
Amigo 1: Agora até a minha ficou. Se sair no Globo.com cai todo mundo por tabela.
Em outubro, Robinho assinou um contrato com o Santos para ganhar R$ 10 por mês até o fim deste ano e depois ter reajuste em 2021, num acordo válido por dois anos. A diretoria do Peixe suspendeu o acordo antes do julgamento em segunda instância e vai o manter assim à espera de novo julgamento.
O que diz a defesa de Robinho
A defesa de Robinho se manifestou na quinta-feira à tarde sobre a condenação em segunda instância a nove anos de prisão por violência sexual contra uma mulher albanesa, em 2013, na Itália.
Em nota divulgada à imprensa, os advogados do jogador afirmam que entrarão com um novo recurso, agora na Corte de Cassação, tribunal no sistema judiciário do país equivalente ao Supremo Tribunal Federal no Brasil.
Apesar de a condenação a nove anos de prisão ter sido mantida no julgamento desta quinta-feira, na Corte de Apelação, em Milão, a defesa reforça que o jogador é inocente.
Entenda o caso
Robinho e Ricardo Falco foram condenados em primeira instância a nove anos de prisão por violência sexual de grupo, em novembro de 2017, contra uma mulher albanesa. O caso aconteceu numa boate de Milão chamada Sio Café, na madrugada do dia 22 de janeiro de 2013, quando o jogador defendia o Milan, da Itália.
Outros quatro brasileiros teriam participado do ato. Como deixaram a Itália no decorrer das investigações, eles estão sendo processados em um procedimento à parte, atualmente parado.
Robinho e Falco foram condenados com base no artigo “609 bis” do código penal italiano, que fala da participação de duas ou mais pessoas reunidas para ato de violência sexual – forçando alguém a manter relações sexuais por sua condição de inferioridade “física ou psíquica”.
Ao ser interrogado, em abril de 2014, Robinho negou a acusação. Ele admitiu que manteve relação sexual com a vítima, mas disse que foi uma relação consensual de sexo oral e sem outros envolvidos. No caso de Ricardo Falco, a perícia realizada por determinação da Justiça identificou a presença de seu sêmen nas roupas da jovem.
Na reconstituição feita pela Justiça, a vítima de origem albanesa contou que foi ao Sio Café em 21 de janeiro de 2013 para comemorar seu aniversário de 23 anos ao lado de duas amigas. No dia, a programação da boate era dedicada à música brasileira.
Ainda segundo o depoimento, na noite do episódio, a vítima disse que foi ao local convidada por um dos amigos do Robinho, mas que, por SMS, ele a informou que ela só deveria se aproximar da mesa depois que a mulher do jogador fosse embora.
Assim que isso aconteceu, ela e duas amigas se juntaram ao grupo de brasileiros, que depois passou a ter também a presença de Ricardo Falco. Segundo a vítima, os brasileiros ofereceram várias bebidas alcoólicas, mas apenas ela bebia, pois uma das amigas estava grávida e a outra estava dirigindo.
Por volta de 1h30 da madrugada, as duas amigas foram embora, e uma delas se comprometeu a voltar para buscá-la. Depois de dançar com os brasileiros, sem ar e tonta, ela contou ter ido para uma área externa da boate, momento em que um dos amigos do jogador (um dos acusados no processo que corre à parte) tentou beijá-la. Pouco depois, os dois foram para o camarim, onde o mesmo amigo continuou tentando beijá-la.
A vítima admitiu ter apenas "alguns flashes daquela noite", acrescentando que não tinha condições de “falar” nem de “ficar em pé”. Segundo suas recordações, ela ficou no local sozinha por alguns minutos e "percebeu" que o mesmo amigo e Robinho estavam “aproveitando” dela.
Diversas gravações de ligações telefônicas entre os acusados, feitas com autorização da Justiça, foram transcritas na sentença. Uma das mais decisivas para a condenação em primeira instância foi uma conversa de Ricardo Falco com Robinho que indicou ao tribunal que os envolvidos tinham consciência da condição da vítima.
O único dos presentes na boate em Milão que começou a cumprir a pena aplicada pela Justiça é o músico brasileiro Jairo Chagas, que vive na Itália há anos e que naquela noite de 2013 tocava no Sio Café. O crime teria ocorrido no camarim dele, conforme a reconstituição feita pela Procuradoria.
Ele foi condenado por falso testemunho à justiça italiana. Em uma das gravações interceptadas, Jairo diz a Robinho por telefone que viu quando o jogador “colocava o pênis dentro da boca dela”. No depoimento, porém, o músico disse que não viu cenas de sexo naquela noite.
Desde 2018, ele faz serviço comunitário uma vez por semana numa casa de repouso de idosos em Milão.
Globo Esporte
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