(Foto: Reprodução) |
No começo de junho, atletas das mais diversas modalidades, como Ana Moser, Isabel e Serginho (vôlei), Raí (futebol) Guga Kuerten (tênis), Diogo Silva (taekwondo), os nadadores Joanna Maranhão e André Brasil, atleta paraolímpico, entre outros, com o apoio de vários profissionais do âmbito esportivo e fora dele, formaram um grupo: o “Esporte pela Democracia”. Esta reunião de atletas lançou um manifesto em defesa da democracia, dos direitos humanos e civis, do respeito à vida e à diversidade.
O documento expõe o posicionamento do coletivo, cujos valores que acredita existir no esporte devem ser estendidos a todos as esferas da vida em sociedade. Como exemplo, o direito à vida, à justiça, à igualdade, o respeito às individualidades, à importância do trabalho coletivo para o bem de todos e o antirracismo. No mesmo manifesto, também são apontados exemplos de ações que estão afetando negativamente a democracia: o autoritarismo, o desrespeito à constituição, a restrição à liberdade de imprensa, o desrespeito aos nossos povos originários e o descaso com a educação, cultura, ciência e meio ambiente.
Além disso, o grupo se posiciona a respeito da pandemia, quando comenta sobre as medidas corretas que não foram tomadas e que os que mais sofrem são as pessoas em situação de vulnerabilidade social e econômica. Eles reforçam que vários ídolos nacionais vieram do esporte e por diversas vezes serviram – e ainda servem – como referência de esperança para o futuro, de subsistência e de condições mínimas de dignidade para muitas pessoas.
Por tudo isso, esses esportistas decidiram se posicionar contra arbitrariedades, injustiças, desrespeito, racismo, violência, enfim, situações que deveriam ser abominadas não só no universo esportivo como na vida. A questão que colocam é: como representar uma imagem nacional em um momento em que o país é protagonista de tantos problemas, como os citados em seu manifesto, e que são notícias recorrentes no cenário internacional? Em suma, clamam por um país mais justo, progressista, igualitário, democrático e que respeite todas as vidas.
As ações do coletivo não se resumem ao manifesto. Eles seguem, desde junho, realizando diversas atividades, como entrevistas, debates, lives e conferências sobre temas polêmicos e importantes para a preservação da democracia.
Não é comum vermos este tipo de atitude entre personalidades do esporte. Sabemos que diversas instituições e organizadores de eventos esportivos proíbem manifestações políticas e ideológicas, a ponto de estabelecerem punições por tais motivos. Muitos atletas ou ex-atletas não se manifestam por medo de retaliações de clubes, imprensa ou empresas patrocinadoras.
No entanto, os membros do grupo “Esporte pela Democracia” decidiram que querem ter voz, demonstrando sua responsabilidade social individual e coletiva, participando ativamente da discussão que busca soluções para certos problemas da nossa sociedade. Eles acreditam que têm um papel importante nesse contexto. E estão certos! Como figuras públicas e influentes, que são admiradas e seguidas por milhares de pessoas, eles podem ajudar a construir opiniões e valores e têm a capacidade de chamar a atenção para temas sensíveis para a nossa sociedade.
Do esporte, fica um exemplo e um questionamento para todos nós: o que fazemos quanto à nossa responsabilidade social individual e coletiva? Buscamos fazer a diferença na sociedade em que vivemos ou somos só mais alguém que, com base no senso comum, diz que política não se discute?
Uma dica para dar início à ação: política não se resume ao partidarismo. Ela está presente em todas as esferas das nossas vidas – nas questões sociais, culturais, ambientais, econômicas, entre outras. Aliás, falar ou se calar também são atos políticos, assim como tudo o que fazemos.
* Katiuscia Mello Figuerôa é doutora em Ciências da Atividade Física e Desportiva, professora da área de Linguagens Cultural e Corporal nos cursos de Licenciatura e de Bacharelado em Educação Física do Centro Universitário Internacional Uninter.
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