(Foto: Douglas Magno/Light Press/Cruzeiro) |
Alguns dos contratos que estão sob análise da Polícia Civil, no inquérito que apura irregularidades no Cruzeiro, são as renovações do goleiro Fábio em 2018 e 2019. As autoridades investigam se houve irregularidade no pagamento de intermediação. As suspeitas passam, principalmente, pelo segundo vínculo, em que duas pessoas receberam pagamentos como intermediários de, pelo menos, um dos acordos.
Ambos os acordos ocorreram com a participação do representante de Fábio, João Sérgio Ramalho, conhecido como João da Umbro. Ele e o goleiro tiveram de prestar depoimento à Polícia Civil para explicar como ocorreu a renovação do contrato. Mas o que chama a atenção é a presença de mais uma pessoa envolvida na negociação.
O que chama mais a atenção da Polícia Civil é o pagamento a dois intermediários pela renovação do goleiro, algo incomum em uma negociação. Uma foi feita à empresa Veloz e Moraes Negócios e Consultoria Ltda, que pertence ao empresário de Fábio, e outra à Dinamic Marketing e Processamentos Ltda, cujo sócio é Wagner Antonio da Cruz, que não é representante de Fábio.
A história começa em fevereiro de 2019, quando, faltando 10 meses para o término do contrato com o Cruzeiro, Fábio ampliou seu vínculo até o fim de 2020. Na planilha de pagamentos do clube, consta o pagamento de R$ 900 mil à Veloz e Moraes pela intermediação, em quatro parcelas: uma de R$ 600 mil e outras três de R$ 100 mil. Na planilha, um pagamento de R$ 100 mil estava em aberto.
Pela mesma negociação, há o pagamento de R$ 750 mil pelo Cruzeiro à empresa de Wagner Cruz. O valor foi integralmente quitado. O nome do empresário foi citado por Zezé Perrella em uma entrevista, em dezembro do ano passado, quando o ex-gestor de futebol do clube havia suspeitado do pagamento, pelo fato de o empresário não ser o representante de Fábio.
- Tivemos um caso lá, um caso explícito, de um intermediário, que intermediou o contrato do goleiro Fábio. E o Fábio não sabe nada disso. O Fábio é uma figura extraordinária, cara corretíssimo. Mas o empresario oficial recebeu para fazer o contrato do Fábio. E outro empresário recebeu para prestar esse serviço. Perguntei ao Fábio, ele disse que sequer conhecia essa pessoa, que é o senhor Wagner Cruz. Eu liguei para o senhor Wagner Cruz, ele se propôs a devolver o dinheiro. Ele disse que tinha mais R$ 3 milhões para receber de comissão e poderia devolver os R$ 750 mil. Para falar só de um caso. Olha a maneira como as coisas eram tratadas no Cruzeiro - disse o dirigente à época.
A Dinamic ainda recebeu, como consta em planilha do Cruzeiro, intermediações pelas negociações dos argentinos Federico Mancuelo (R$ 388.800) e Hernán Barcos (R$ 758.887). Todo o valor foi pago ao empresário. No total, segundo consta na planilha, foram aproximadamente R$ 1,9 milhão à empresa.
A Veloz e Moraes ainda realizou a intermediação do contrato de patrocínio com o Banco Digimais, braço digital do banco Renner, em que recebeu R$ 500 mil, já quitados. Em 2017, pela renovação de Fábio, a Veloz e Moraes Negócios e Consultoria Ltda - empresa da qual João Sérgio é sócio - teve direito a R$ 750 mil pela renovação acordada de Fábio.
Vale destacar que nenhuma das duas empresas consta na lista de intermediários regularizados disponível no site da CBF. O cadastro na entidade máxima do futebol nacional é obrigatório para que agentes participem oficialmente de renovações e contratações, fazendo jus à comissão.
A condução da negociação, apesar de ter sido ainda na gestão de Gilvan de Pinho Tavares, foi feita pela já diretoria de Wagner Pires de Sá, que havia ganhado o pleito no mesmo mês. O pagamento à empresa do representante de Fábio foi em 12 vezes de R$ 62,5 mil. Na planilha do clube, constava uma parcela em aberto. Nesse acordo, Fábio ampliou o vínculo até o fim de 2019.
O que disseram os citados?
O GloboEsporte.com procurou as pessoas citadas para falar sobre o assunto. João Sérgio Ramalho confirmou que prestou depoimento à Polícia Civil, apresentou todos os contratos e explicações às autoridades, mas disse que não gostaria de realizar mais comentários.
- Não tenho interesse em falar nada, não. O que eu tinha para falar eu falei no cartório, na hora que me chamaram. O Fábio também já falou. Não tem mais nada a falar. Dei todas as informações direitinho, tem todos os contratos lá. Quando me chamaram para depor, quando chamaram para depor todo mundo, daqueles que fizeram o contrato, dei todos os detalhes. Os contratos estão lá com eles - disse.
O empresário Wagner Cruz foi procurado por mensagem e por telefone, mas não respondeu às mensagens da reportagem até o momento da publicação.
Já o goleiro Fábio emitiu uma nota oficial, afirmando que nunca precisou de intermediários para negociar contratos com o Cruzeiro e que repassou o percentual o valor a que tinha direito o seu empresário, João Sérgio Ramalho. O goleiro cruzeirense disse ter ficado "indignado e perplexo" ao ter descoberto a presença de outro intermediário na negociação e que prestou os esclarecimentos à polícia.
- Esta suposta participação de um outro empresário foi revelada em uma entrevista do ex-presidente Zezé Perrella, no final do ano passado, o que até então eu desconhecia. Após a entrevista o procurei e ele me explicou o que estava acontecendo. Como não poderia ser diferente, fiquei indignado e perplexo, pois, como é possível ter participação externa de algum empresário em uma negociação conduzida exclusivamente por mim? Dessa forma, quando fui chamado para prestar esclarecimentos sobre este assunto, o fiz prontamente e expliquei exatamente como foi feita a negociação. Como de costume em todas as outras vezes em que renovei meu contrato com o Cruzeiro, fiz de maneira correta, transparente e de acordo com os valores em que vivo. O que realmente espero é que toda esta situação seja esclarecida através das investigações e que a justiça seja feita - explicou Fábio em um trecho da nota.
Confira, na íntegra, o posicionamento do goleiro cruzeirense:
"Todos sabem da minha história, dos meus valores cristãos, do meu compromisso com o Cruzeiro e também da transparência com que trato os assuntos da minha carreira e da minha vida.
A minha última renovação de contrato com o Cruzeiro foi feita exclusivamente por mim. Eu negociei todos os detalhes do contrato diretamente com a diretoria da antiga gestão do Clube e, após isso, negociei também sem intermediários com o meu empresário o percentual a que ele tinha direito, direto dos valores do meu salário.
Esta suposta participação de um outro empresário foi revelada em uma entrevista do ex-presidente Zezé Perrella, no final do ano passado, o que até então eu desconhecia. Após a entrevista o procurei e ele me explicou o que estava acontecendo. Como não poderia ser diferente, fiquei indignado e perplexo, pois, como é possível ter participação externa de algum empresário em uma negociação conduzida exclusivamente por mim?
Dessa forma, quando fui chamado para prestar esclarecimentos sobre este assunto, o fiz prontamente e expliquei exatamente como foi feita a negociação. Como de costume em todas as outras vezes em que renovei meu contrato com o Cruzeiro, fiz de maneira correta, transparente e de acordo com os valores em que vivo. O que realmente espero é que toda esta situação seja esclarecida através das investigações e que a justiça seja feita."
Globo Esporte
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