Ítalo exalta triunfo sobre Medina que deu o título mundial: "Quase impossível de vencer em Pipeline"

(Foto: Paulo Roberto Conde)


O sorriso no rosto de Ítalo Ferreira foi difícil de esconder, um retrato da felicidade do atual campeão mundial de surfe. O potiguar desembarcou neste domingo em São Paulo após a vitória em Pipeline numa final emocionante diante de Gabriel Medina, que valeu o título diante do compatriota e bicampeão da categoria. Antes disso, uma vitória sobre a lenda Kelly Slater. Um roteiro perfeito para a primeira conquista.

- Deus escreveu a melhor história possível. Contra o Yago (Dora) foi difícil, era um cara de quem já tinha perdido. Fui para a semifinal e peguei o Kelly (Slater), um cara que gosta de botar muita pressão desde o começo (...) Acabei vencendo os dois melhores de todos os tempos (em Pipeline). Gabriel é um cara quase impossível de vencer em Pipeline - disse Ítalo.

Além do troféu pela conquista, Ítalo ainda garantiu a vaga nas Olimpíadas de Tóquio em 2020 ao lado de Gabriel Medina, vice-campeão da temporada. Menor importância? Que nada. O potiguar já projeta a próxima temporada justamente com o foco na vitória no Japão na primeira participação do surfe na história dos Jogos Olímpicos.

- Muito grato pela oportunidade de participar da Olimpíada. Brasil muito bem representado por mim e pelo Gabriel. Queria muito que o Filipe (Toledo) estivesse também. Aí a gente ia ser ouro, prata e bronze. Mas agora vamos ser ouro e bronze. Ih, me confundi. Ouro comigo e prata com o Gabriel (risos). (...) 2020 pode ser um ano incrível se eu conquistar meu objetivo: ganhar a medalha olímpica. Começo minha preparação já em janeiro. Sempre fiz isso, dar um passo sempre à frente - afirmou o potiguar.

Nesta segunda-feira, Ítalo Ferreira segue para Natal, no Rio Grande do Norte, onde vai desfilar em carro aberto do corpo de bombeiro. Ainda na segunda, ele segue para sua cidade, Baía Formosa, onde começou a praticar o surfe e deve ser recepcionado pelo público local.

Veja mais trechos da entrevista de Ítalo Ferreira:

A história do título

- Estava muito ansioso. Cheguei ao Havaí um mês antes. Mas deu tudo certo. Aqui estão as conquistas. Foi um ano de altos e baixos, perdas, conquistas, lesões. Mas, como toda minha perseveração, minha garra, tudo certo. Isso aqui é fruto de todo trabalho, toda perseverança, toda fé que tenho, da equipe que trabalha comigo, dos meus amigos.

Polêmica de Medina com Caio Ibelli

- Esporte individual, a gente batalha pelo melhor, tenta fazer a melhor performance dentro da água, colocando a amizade fora disso. O Gabriel é um atleta muito competitivo. Até no futebol de mesa, ele entra para ganhar. Fez a diferença nesses anos. Virou um ídolo nacional, internacional. Mas, claro, você tem que fazer o jogo. às vezes, prefiro não fazer esse jogo. Quero me concentrar no que eu tenho que fazer. Estou preocupado comigo, com a minha mente, se ela estiver boa eu vou conseguir. Então, sobre a interferência, foi uma jogada inteligente, mas que não soou muito bem para algumas pessoas

Vaga olímpica

- Muito grato pela oportunidade de participar da Olimpíada. Brasil muito bem representado por mim e pelo Gabriel. Queria muito que o Filipe (Toledo) estivesse também. Aí a gente ia ser ouro, prata e bronze. Mas agora vamos ser ouro e bronze. Ih, me confundi. Ouro comigo e prata com o Gabriel (risos).

Espaço maior do surfe

- A gente conseguiu quatro títulos em seis anos. Essa galera mudou o surfe como é visto no Brasil. Não é coisa mais de maloqueiro. Hoje, as pessoas vão e parar diante da TV para assistir.

Recuperação no campeonato

- Foi incrível o que aconteceu no campeonato, a recuperação no campeonato. Quando eu fui para o Havaí, minha avó faleceu. Sempre quis me ver campeão do mundo. Mas de onde ela está com certeza está no melhor assento. Eu não era o favorito para ganhar esse título. Cheguei à Europa meio apagado, como muitos sites disseram mas isso me deu mais gana ainda. Na França, fiz final, perdi do Jeremy. Ali comecei a me recuperar.

A disputa no Havaí

- Havaí, este ano, foi diferente para mim. Outros anos sempre foi um saco. Tinha que pegar ondas com esses caras. Energia foi muito diferente. Estava me sentindo bem. Ficava com a galera, atletas locais eu sentia aquela energia boa que eles estavam passando.

Ondas do Japão

- Campeonato da ISA deu poucas ondas, mas vai ser legal (na Olimpíada). Vai ser mata-mata, só os caras mais sinistros. Vai ser um campeonato que é meu próximo objetivo.

Enfrentar Kelly Slater

- Deus escreveu a melhor história possível. Contra o Yago (Dora) foi difícil, era um cara de quem já tinha perdido. Fui para a semifinal e peguei o Kelly (Slater), um cara que gosta de botar muita pressão desde o começo. Na bateria, ele chegou e me disse: boa sorte, boss. Mas o Shane (Dorian, ex-surfista que ajudou a preparação de Ítalo em Pipeline) me disse que o Kelly gosta muito de conversar na bateria. Fiquei quieto, não falei nada com ele a bateria inteira.

Vitórias sobre Slater e Medina

- Acabei vencendo os dois melhores de todos os tempos (em Pipeline). Gabriel é um cara quase impossível de vencer em Pipeline.

Dificuldades

- É um combustível até hoje. Tudo o que vivi com minha família, poder ajudar o próximo, isso até hoje me inspira até hoje. Início foi bem difícil, eu pedia dinheiro nos mercados, para as pessoas para conseguir dinheiro e poder competir. Depois, o dinheiro que meu pai ganhava vendendo peixe. Lembro uma vez uma pousada em que fui pedir dinheiro para competir, pagar passagem, alimentação. Aí o cara virou e gritou "não". Claro que isso machucou, mas fortalece. Acabou que meu pai conseguiu dinheiro e venci aquele campeonato. São coisas que machucam mas dão força também.

2020

- Vai ser um ano de correria. Pode ser um ano incrível se eu conquistar meu objetivo: ganhar a medalha olímpica. Começo minha preparação já em janeiro. Sempre fiz isso, dar um passo sempre à frente. Foi assim quando entrei no circuito em 2015 e quis ser o rookie of the year (novato do ano). O circuito desgasta muito.

Final de Pipeline

- Era a bateria da minha vida. Se ele (Gabriel) fosse campeão, seria tri. Eu estava atrás do meu primeiro. Comecei com uma onda boa, você conta com sorte, mas é como eu falei: quando está escrito, não tem jeito. Depois, peguei uma onda que me deu uma nota maior, me deixou confortável. Foi um jogo, psicológico até. A praia inteira estava torcendo por mim. Só via camisa azul (da torcida dele) na praia. Quando ele pegou a última onda e não deu, só pensei na minha avó ali.

Gratidão

- Gostaria de agradecer por todas as mensagens que me mandaram. Antes, depois da conquista, não deu para responder todo mundo. Anteontem acordei às três da manhã, o coração estava batendo mais acelerado. É a emoção de perceber que ganhei o título, ganhei o Pipe Masters, um dos maiores campeonatos do circuito. Agora, vou botar as ilhas do Havaí no meu corpo (numa tatuagem). Agradeço à minha família. Feliz de fazê-los sorrir em meio a todo o caos, à perda da minha avó e do meu tio. Mas hoje a gente pode sorrir. Agradeço aos meus amigos, à minha namorada, que me ajudou muito com as perdas nos últimos meses. Hoje, a avózinha dela está no hospital, ana UTI, hoje minha energia vai para ela, para a família dela, que é minha família agora também. Agradeço a presença de vocês (jornalistas), que estão trabalhando no domingão - e não é fácil.

Globo Esporte

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