(Foto: Divulgação/ COB) |
O COB (Comitê Olímpico do Brasil) criou um "intensivão" para conscientizar chefes de delegação, atletas, técnicos e dirigentes sobre políticas de prevenção a assédio e abuso moral e sexual. E a primeira grande introdução para o curso ocorrerá nos Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru, que começam neste mês.
Em maio, o comitê aplicou o treinamento aos chefes de equipe de todas as modalidades que vão ao Pan de Lima. O treinamento foi dado por meio de uma plataforma online, e a intenção é que os chefes repliquem os conceitos a treinadores e atletas a medida que eles se apresentem na capital peruana. O COB quer que o grupo que for aos Jogos Olímpicos de Tóquio, no próximo ano, também obrigatoriamente receba as orientações.
- O chefe de equipe tem uma responsabilidade muito grande, de estar atento a tudo o que acontece com seus atletas, sua equipe, dentro do ambiente de treinamento e de competição. Os atletas e treinadores, lá em Lima, ao chegarem, receberão uma palestra voltada para esse tema. E a gente espera que a equipe, com todo esse ambiente, possa ter até um rendimento melhor do que teria. Eu acho que o atleta feliz e com segurança no seu local de treinamento, e de alojamento e competição, tende a ter um rendimento melhor - afirmou diretor-geral do COB, Rogério Sampaio.
O COB quer manter esse "intensivão" como obrigatório para toda a delegação que vai a eventos internacionais pelo Time Brasil, como Pan, Jogos Olímpicos e Jogos Sul-Americanos. Mas não quer parar aí: a partir do segundo semestre, o conteúdo será disponibilizado como curso no site do IOB (Instituto Olímpico Brasileiro), braço educativo do COB. O material será acessível, mediante inscrição, ao público em geral e de maneira gratuita.
- Eu acho que quanto mais informações para nós, atletas, treinadores e gestores, sobre esse assunto melhor. Acho que mais seguro a gente fica. Então é sempre importante a gente se prevenir e se informar - afirmou o ginasta Arthur Nory, medalhista de bronze no solo nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, e que vai ao Pan de Lima.
A ginástica entrou no cerne da questão de abuso sexual no ano passado, depois que o Fantástico revelou que uma série de atletas da modalidade foi assediada pelo ex-técnico da seleção brasileira Fernando de Carvalho Lopes.
Qual é o conteúdo?
O curso de prevenção a abuso promovido pelo COB funciona quase como uma cartilha. Tem orientações de conduta para atletas, treinadores e dirigentes, e abrange também conceitos básicos para explicar pontos que por vezes são relegados.
- A gente vai desde a conceituação mesmo. O que é sexo, o que é gênero, o que é um assédio moral, um abuso sexual. Entramos também com uma parte de legislação, o que é e o que não é. Falamos um pouco da política de assédio do COB. Nossa intenção é implementar formas de criar espaços seguros para todos - afirmou a ex-ginasta Soraya Carvalho, gerente do IOB.
A reportagem teve acesso a algumas das apresentações feitas pelo comitê. No curso, alguns atletas que notadamente sofreram abuso sexual dão depoimentos, entre eles a ex-nadadora Joanna Maranhão, que contou na década passada ter sido molestada por um treinador quando tinha apenas nove anos.
- Crianças, existem algumas que ficam muito tímidas e com vergonha do próprio corpo. Outras afloram a sexualidade de forma mais exacerbada. Algumas têm depressão, algumas têm pânico... Se acontece dentro do local de prática esportiva, há uma repulsa pela modalidade. E algumas mulheres acabam por criar repulsa por todos os homens - disse Joanna, que tem uma lei com seu nome que versa sobre o tema, no depoimento.
Segundo Soraya Carvalho, o conteúdo será atualizado frequentemente, de acordo com mudanças de legislação e disposições do próprio COB.
Atualmente, o comitê olímpico tem um canal para receber denúncias por telefone - também se pode fazer comunicação por um site de ouvidoria (https://www.cob.org.br/pt/cob/ouvidoria).
- Os casos são analisados e, posteriormente, encaminhados ao Conselho de Ética [do COB]. Aí, com pessoas preparadas para julgar cada situação, fazem a apreciação. As punições vão desde multa, afastamento ou até banimento da atividade esportiva - comentou Sampaio.
O GloboEsporte.com apurou que quase dez denúncias de abuso/assédio sexual ou moral chegaram ao conselho de ética do COB no último ano. Todos estão sob análise e correm em sigilo. Desde dezembro o comitê tem uma política de combate a tais situações.
Além do curso de prevenção a assédio ou abuso sexual, o IOB também promove outros programas de formação: entre eles, de transição de carreira de atletas e formação de treinadores, a maioria com possibilidade de efetuar inscrições anualmente. Mais informações podem ser obtidas no site do próprio COB (www.cob.org.br).
Globo Esporte
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