Aos 40, sérvio remanescente de "time dos naturalizados" lidera polo aquático do Brasil no Mundial

(Foto: Satiro Sodré/SSPress/CBDA)


A seleção brasileira masculina de polo aquático converteu-se em uma autêntica Torre de Babel antes dos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016. No afã de fortalecer a equipe na busca por um pódio no megaevento, a CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) promoveu inúmeras naturalizações de estrangeiros.

Na equipe nacional pela qual passaram a atuar atletas vindos da Croácia (Josip Vrlic), Itália (Paulo Salemi), Cuba (Yves González) e Espanha (Adriá Delgado) ganhou destaque um goleiro de quase dois metros de altura e uma envergadura assombrosa. Slobodan Soro, nascido em Novi Sad, na Sérvia, deixou para trás um sem número de conquistas por seu país natal para defender as cores verde e amarela.

O Brasil terminou a Olimpíada do Rio em oitavo lugar, e passada a euforia daquele momento todos os jogadores naturalizados deixaram o país - e, obviamente, a seleção. Menos Soro.

- Eu tinha não apenas um motivo para jogar pelo Brasil. Foram várias coisas. Mas o motivo mais forte foi ajudar o polo brasileiro e mundial. Eu tenho uma carreira de quase 24 anos no polo, e tudo o que eu consegui foi graças ao esporte. Jogar pelo Brasil nos jogos foi uma oportunidade incrível. No final saiu tudo perfeito, e eu acho que toda essa minha história de Brasil e de Jogos Olímpicos é uma experiência maravilhosa - afirmou o goleiro de 40 anos.

O veterano lidera o time na estreia contra a Itália, nesta segunda-feira, no Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos de Gwangju, na Coreia do Sul.

Soro fala um português bem razoável para alguém que passa boa parte do ano na Europa. Por atualmente defender um clube na Itália, alguns "ciao" e "perche" se misturam a expressões típicas brasileiras, como "a gente". Nada que atrapalhasse a entrevista ao GloboEsporte.com, realizada no Parque Aquático Maria Lenk, no Rio.

As trajetórias do goleiro e da seleção brasileira se cruzaram em 2013, quando Soro veio atuar no país pela primeira vez. Um dos melhores goleiros de sua geração, com duas medalhas olímpicas de bronze (em Pequim 2008 e Londres 2012) e uma de ouro em Campeonato Mundial (Roma 2009) no currículo, ele acertou um contrato com Fluminense e posteriormente com o Botafogo e, meio que sem querer, fortaleceu os laços com sua nova casa. Em 2015, pleiteou e obteve cidadania brasileira e, em 2016, disputou a Olimpíada.

Ao longos desses anos, Soro especializou-se em servir de referência para o restante da seleção nacional, muito menos experiente do que ele. Ele costuma dizer que, com as temporadas de convívio, os compatriotas brasileiros "não gostam muito de treinar"...

- Mas gostam muito de jogar e eu adoro sentir essa sensação quando estamos em algum evento. Na competição, todo mundo está muito animado e tem muita energia e muito coração para jogar.

Na Copa Uana, vencida pelo Brasil no começo do ano, em São Paulo, ele liderou a equipe ao título contra os Estados Unidos - a vitória final assegurou o Brasil nos Jogos Pan-Americanos de Lima, no próximo mês; o Pan dá ao seu campeão vaga nos Jogos Olímpicos de Tóquio.

- Já disputei três vezes os Jogos Olímpicos e quero jogar mais uma vez. Acho que vou encerrar minha carreira depois de 2020.

Caso o Brasil não obtenha a vaga por meio do evento continental, terá uma chance em um pré-Olímpico no próximo ano, contra equipes de vários continentes.

- Tem muita coisa do Brasil que é impossível explicar para alguém na Sérvia ou na Itália. Uma coisa é ficar aqui uma ou duas semanas como turista. Outra é ficar mais tempo. Os primeiros três meses meus aqui foram difíceis. Mas agora está tudo certo depois de quase seis anos de convívio. Eu acho o Rio de Janeiro a cidade mais maravilhosa do mundo. Há praias, montanhas, natureza, as comidas, as frutas. É tudo incrível - disse.

Outro elo com seu novo país é a filha Sofia, hoje com quatro anos, que até se nasceu na Sérvia, mas tem cidadania brasileira também.

- Depois dos Jogos de 2016, eu voltei para o Brasil no início de setembro com minha esposa e minha filha e ficamos até o final do ano. Foram quatro meses maravilhosos, e eu fico no Brasil o quanto for possível. Eu amo o cheiro do abacaxi. Como explicar o cheiro do abacaxi para um estrangeiro? É muita coisa e tudo muito pessoal. Eu gosto de dizer obrigado ao polo aquático porque tive a possibilidade de conhecer o Brasil e quero manter essa conexão para sempre - comentou.

Globo Esporte

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