Após duas mortes, Prefeitura de São Paulo suspende corridas de moto no autódromo de Interlagos

(Foto: Divulgação)


A segunda morte consecutiva em pouco mais de dois meses em provas do SuperBike Brasil no autódromo de Interlagos estremeceu o cenário da motovelocidade no Brasil. Depois do acidente de Danilo Berto, que faleceu no último domingo, a Prefeitura de São Paulo suspendeu qualquer corrida de moto por 60 dias. Além disso, três das quatro fábricas que disputavam a competição também interromperam as atividades, e o Ministério Público está acompanhando as apurações sobre o caso.

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Berto, de 35 anos, perdeu o controle da moto na curva do Pinheirinho. Ao tentar frear, a traseira da moto empinou e, na queda, prensou o piloto na barreira de pneus. A família do piloto temia por sua segurança.

- Por muito nós conversamos com ele, por muito nós pedimos a ele que deixasse esse esporte. Mas ele criou uma paixão. E ele dizia "esse é o meu escape, mãe. É o meu lazer, eu consigo absorver os meus stress quando eu vou pra esse esporte, pra moto" - contou a mãe do piloto, Dalva Berto.

Em nota oficial, o SuperBike brasil lamentou a morte do piloto e disse que prestou "assistência à família neste momento". Dalva nega.

- Nenhuma! Nós não recebemos. E isso me me deu até força para estar aqui. Ninguém deu um telefonema. Aconteceu desse jeito - emenda.

Danilo Berto entrou para uma trágica lista: nos últimos três anos, quatro pilotos de moto morreram no autódromo de Interlagos - todos do SuperBike, a principal categoria do Brasil. Em 2017, Sergio dos santos bateu na Curva do Sol. Ano passado, Rogério Munuera perdeu o controle da moto no S do Senna.

Mês passado, no mesmo local, Maurício Paludete se chocou violentamente contra a barreira de pneus e não resistiu. Tantas mortes em um curto período de tempo gerou um debate: certificado internacionalmente para o automobilismo, Interlagos está preparada para receber provas de moto? O SuperBike dá aos pilotos as condições de segurança necessárias para acelerar nas pistas?

- No mundo inteiro, tudo que é homologado para motocicleta é fácil você encaixar na Fórmula 1 ou em qualquer outro tipo de atividade em quatro rodas - resumiu Alex Barros.

O regulamento da Federação Internacional de Motociclismo (FIM) classifica os circuitos quanto à segurança em uma escala que vai de "A", mais seguro, a "E", menos seguro. O artigo 3.1 das regras de homologação da FIM estabelece que pistas de grau "D", como Interlagos, só deveriam receber corridas de motos elétricas, que são menos velozes, mas não corridas de Superbike.

Orlando Faria, secretário de Turismo de São Paulo, falou sobre a suspensão das corridas de moto no local por 60 dias.

- Existe uma questão da certificação do piloto que está correndo. Se ele tem certificação suficiente pra correr numa categoria profissional, amadora, ou semi-amadora. Existe uma questão de vistoria das motos, da condição do material. A gente vai aguardar primeiro um plano deles em conjunto com Confederação, com ligas. Eles têm que nos provar e garantir que são capazes de prover a segurança necessária -a firma Faria.

O secretário também explicou sobre a homologação da pista:

- Se a gente conseguir a homologação da FIM no seu nível mais alto, a gente garante a segurança de todos os outros eventos e categorias inferiores. Além de todas as ações que já tomamos e estamos tomando, ainda conseguiríamos garantir de uma maneira mais ampla a segurança de todos os pilotos e categorias.

Esta avaliação será feita pelo francês Franck Vayssié, diretor de segurança responsável pela homologação de circuitos no mundo todo, que visitará Interlagos nas próximas semanas.

- Carros de corrida são feitos para absorver energia em caso de acidente. No caso de motos, a moto e o piloto costumam deslizar em direções diferentes. nosso objetivo é fazer com que a moto e o piloto parem antes de atingir as barreiras. Precisamos de alguns metros de asfalto e brita. A brita é muito suave, absorve energia e ajuda o piloto a parar antes de atingir as barreiras - explica.

Nessa semana, as montadoras Honda, Yamaha e Kawasaki suspenderam o patrocínio à SuperBike Brasil até que "as causas sejam esclarecidas e medidas efetivas sejam tomadas pela organização para garantir a segurança dos pilotos". O Ministério Público de são paulo vai acompanhar as investigações sobre o caso.

Organizador e piloto do evento, Bruno Corano tenta amenizar as críticas:

- Eu, pessoalmente tive um contato com o Bruno Berto, irmão do Danilo Berto, discuti com ele o que podia oferecer e através desse contato eu entendi até onde eu podia ir. Eu respeito a decisão dos patrocinadores de saírem nesse momento, mas a participação deles é fundamental para o futuro da Superbike no Brasil - comentou.

A família de Berto garante que a morte do piloto não passará em branco.

- O quanto está envolvido nisso tudo para manter esse lugar, para manter esse campeonato? Quanto está envolvido, que vale tanto a pena pra roubar da gente a nossa maior riqueza, o nosso maior valor, amor da nossa vida que são os nossos filhos? Ah, estatística. Morreu mais um. Danilo não vai só ser uma estatística. Nós vamos lutar pra que isso não aconteça com outras famílias - conclui Dalva.

Globo Esporte

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