Vettel vê Mercedes em "liga própria", mas mostra confiança na Ferrari em Melbourne

(Foto: Reprodução)


As explicações de Sebastian Vettel e Charles Leclerc sugerem que a Ferrari não escondeu o jogo nesta sexta-feira no primeiro dia de treinos do GP da Austrália, em Melbourne. Havia grande expectativa quanto a ambos poderem ser os mais velozes, depois do apresentado nos testes da pré-temporada. Mas o que vimos no Circuito Albert Park foi Lewis Hamilton dominar as duas sessões livres da etapa de abertura do campeonato.

O discurso do piloto inglês e do diretor da Mercedes, Toto Wolff, antes da prova, afirmando que a equipe italiana estava na frente, também não parece apenas uma estratégia para dissimular a própria força. O fato de Hamilton ter sido o mais rápido tanto na sessão da manhã como da tarde não quer dizer, necessariamente, que a Mercedes já mostrou que de novo irá dominar o campeonato.

Provavelmente o resultado é uma decorrência da melhor adaptação inicial do modelo W10 da Mercedes às condições do asfalto e do meio ambiente, bem distintas das verificadas nos oito dias de treinamento no Circuito da Catalunha. Lá a temperatura do asfalto não passou dos 20 graus. Já na pista australiana, 41 graus, além de ser bem mais ondulada que a de Barcelona. É um outro cenário.

A Mercedes pode até de novo surpreender, depois de não demonstrar supereficiência na pré-temporada, e Hamilton e seu companheiro, Valtteri Bottas, se imporem nas corridas iniciais do mundial, mas o fato de a Ferrari não ter sido rápida nesta sexta-feira não nos permite tirar conclusões definitivas a respeito do potencial do modelo SF90 italiano.

Agora, neste sábado, os engenheiros sob a coordenação de Mattia Binotto devem dar a resposta, encontrar um melhor ajuste do carro aos 5.303 metros do traçado australiano e Vettel e Leclerc voltarem a ser velozes como foram nos testes de inverno na Espanha. Se não for o caso, parecerá que o modelo SF90 aceitou bem o inverno catalão, apesar de ameno, mas não o calor e o piso de Melbourne, o que exigirá apressar o desenvolvimento do carro, pois é esse o cenário da maioria das provas do calendário.

Os números de Vettel e Leclerc mostram que alguma coisa não funcionou na Ferrari, daí o SF90 se comportar tão diferente dos treinos na Espanha. Na sessão da tarde, a de maior representatividade, por o asfalto estar menos sujo, Hamilton registrou 1min22s600, melhor tempo. Já Vettel, 1min23s473, quinto, 873 milésimos mais lento.

Para atestar a boa adaptação inicial do modelo W10 da Mercedes ao circuito, Bottas obteve o segundo tempo, a 48 milésimos de Hamilton. Já Leclerc teve um carro menos equilibrado que Vettel e trabalhou mais para encontrar o melhor acerto para as 58 voltas da corrida, domingo, tinha mais gasolina no tanque.

O monegasco fez somente o nono tempo, 1min23s754, a 1s154 do inglês da Mercedes. Os quatro pilotos utilizaram os pneus Pirelli C4, ultramacios, definidos como macios no GP da Austrália, banda vermelha.

Exame distinto

No cenário de Barcelona, Vettel ficou três milésimos na frente de Hamilton e este foi sete milésimos mais veloz que Leclerc, terceiro. De repente, no primeiro dia de treinos, em Melbourne, como mencionado Vettel foi quase um segundo mais lento que Hamilton, 873 milésimos, e Leclerc, mais de um segundo e não somente sete milésimos.

Para evidenciar ainda mais que as dificuldades da Ferrari podem estar associadas ao ajuste inicial à pista, Vettel foi nesta sexta-feira somente 99 milésimos mais veloz que Kimi Raikkonen, da Alfa Romeo, sexto, enquanto em Barcelona, 1s018.

Vettel comentou:

- Não fomos tão rápidos como gostaríamos, mas ainda é sexta-feira. Foi um dia difícil para nós, provavelmente para todos, refiro-me não aos tempos obtidos, mas ao comportamento do carro, ao equilíbrio, não tínhamos ritmo. Espero que amanhã seja diferente.

Sobre o que teria causado a perda de competitividade em relação a Barcelona, Vettel disse:

- Não sabemos. O carro não faz o mesmo que fazia nos testes. Estamos estudando as razões. Nossos engenheiros são muito capazes, há muito o que tirar do carro, estou relaxado, confiante.

Não é bem assim

O piloto alemão tetracampeão do mundo, de 2010 a 2013, com a RBR, não perdeu a oportunidade de falar da Mercedes, dando a entender que procurou diminuir sua força.

- Estou surpreso com a performance deles. A Mercedes está na liga dela. A equipe se mostrou bem mais forte do que dizia antes do fim de semana.

E enquanto Vettel descrevia a diferença de comportamento do seu carro se comparado aos testes, Hamilton de novo surpreendeu com o discurso:

- Sinto o carro em uma posição semelhante a de Barcelona. Completamos hoje o programa planejado, temos muito o que tirar do carro. Não foi um mau começo.

Já Bottas afirmou o contrário:

- O carro está se comportando melhor do que nos testes, não trouxemos muitas novidades para cá, mas otimizamos o que dispomos. Não vimos todo o potencial de nenhuma equipe. Sabemos o quanto podemos melhorar, mas desconhecemos o potencial dos outros. Será interessante ver amanhã (na sessão de classificação).

James Allison, diretor técnico da Mercedes, ainda não testou no W10 de Hamilton ou Bottas o novo aerofólio dianteiro, inspirado na solução da Ferrari, que procura com o seu desenho desviar o ar para fora das rodas dianteiras e não para o espaço entre as rodas da frente. Ao menos um dos pilotos deverá testá-lo neste sábado. Para tanto, é preciso a introdução de outras peças do conjunto aerodinâmico para poder funcionar.

Como disse Vettel, é de se esperar que os engenheiros da Ferrari descubram o que aconteceu, quais os fatores que interferiram no desempenho do modelo SF90 e, dessa forma, a escuderia italiana se torne adversária da Mercedes já neste sábado. Se isso não acontecer, se a pré-temporada passou uma imagem irreal do momento dos dois times, então que ao menos Bottas possa ser adversário de Hamilton, como fez Nico Rosberg.

RBR parece forte

Outros que poderiam, talvez, entrar nessa luta são os pilotos da RBR, Max Verstappen, terceiro nesta sexta-feira, a precisos 800 milésimos de Hamilton, e seu companheiro, Pierre Gasly, quarto, a 42 milésimos de Max. A exemplo da maior parte do tempo em Barcelona, Max trabalhou no Circuito Albert Park mais para as 58 voltas da corrida, domingo. Quando faltavam 15 minutos para o fim da sessão da tarde, o holandês de 21 anos colocou pneus C4 para fazer 1min23s400.

- Estou contente com o nosso ritmo de corrida, mas é apenas o primeiro dia, os tempos vão melhorar muito daqui para a frente. Precisamos nos concentrar em como tirar mais dos pneus.

A simulação de corrida de Max, de fato, foi promissora. Seria excelente se o modelo RB15-Honda permitisse a ele e Gasly disputarem senão a pole position neste sábado, improvável, mas de repente a vitória ou um lugar no pódio no domingo.

Se o grupo de técnicos coordenados por Adrian Newey encontrar como melhor explorar os pneus C4, hipermacios, C3, macios, e C2, médios, os distribuídos pela Pirelli em Melbourbe, Max poderá disputar uma grande corrida, seu ritmo, como falou, é muito forte.

Os carros voltam à pista, agora, neste sábado, à meia noite, para o terceiro treino livre. A definição do grid começa às 3 horas, horários de Brasília.

Globo Esporte

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