(Foto: Ivan Storti/Santos FC) |
A atual diretoria do Santos acusa o ex-presidente do clube Modesto Roma Júnior e o vice dele, César Conforti, de simularem um contrato de intermediação do pagamento da indenização prevista pela cláusula de solidariedade na transferência de Neymar do Barcelona ao PSG, há dois anos.
De acordo com documentos aos quais o GloboEsporte.com teve acesso, o Santos aponta que não há demonstrações de que a Quantum Limited, empresa de Malta contratada para supostamente negociar com o PSG, tenha de fato realizado o trabalho.
O ex-presidente nega a acusação e diz que apresentou documentos que provam a prestação de serviços à Comissão de Inquérito e Sindicância do Conselho Deliberativo do clube, que ainda analisa o caso. Conforti não quis comentar.
– Quando a coisa está ruim, eles começam a gerar notícias assim. Claro que (a Quantum) prestou o serviço, eu mandei todos os documentos na época para a Comissão de Inquérito e Sindicância – afirmou Modesto.
Segundo a versão da atual diretoria do Santos, e-mails do departamento jurídico do clube apontam que todos os contatos com o PSG foram feitos por meio da equipe interna de advogados santistas, sem a participação da Quantum.
Há também a declaração de um funcionário do PSG que afirma desconhecer a intermediação da companhia de Malta, um paraíso fiscal no mar Mediterrâneo.
Tratam-se de valores milionários: a venda de Neymar ao PSG foi recorde, por 222 milhões de euros. Por ter sido formador do atacante, o Santos teve direito a cerca de 8,5 milhões de euros graças à cláusula de solidariedade imposta pela Fifa.
O contrato com a Quantum, assinado em agosto de 2017, previa o pagamento de uma comissão de 429.950,94 euros (5% do total), o equivalente a R$ 1,85 milhão na cotação atual. A dívida jamais foi quitada.
À época, o Santos alegou que o PSG resistia em pagar a cláusula de solidariedade – o argumento era de que a transferência havia sido realizada com o pagamento da multa rescisória.
– Foi feito um trabalho político para receber. Se fosse algo simulado, eu não deixaria a conta para outros pagarem, eu teria pago – disse Modesto.
De acordo com os e-mails anexados ao processo judicial, o departamento jurídico do Santos faz o primeiro contato com o PSG para a cobrança dos valores a que acreditava ter direito no dia 2 de agosto de 2017 – um dia depois de o contrato com a Quantum ser assinado e um dia antes de Neymar ser apresentado em Paris.
Na longa troca de mensagens, não há menção dos franceses em não pagar os valores pedidos – o cálculo feito pelo PSG, inclusive, é superior ao feito pelo Santos, uma diferença de cerca de 400 mil euros.
Dois meses depois, no dia 2 de outubro, o PSG encaminha ao Santos um comprovante do pagamento dos 8.599.018,82 euros (R$ 32 milhões pela cotação na época).
Nesses e-mails, em momento algum a Quantum é citada. A empresa, em contato com o Santos após a suspeita, apresentou mensagens que comprovariam a participação dela nas conversas. Os e-mails são entre um representante da Quantum, identificado como Alain, e incluem pessoas do PSG.
Em 12 de dezembro de 2017, três dias após a eleição no Santos, quando José Carlos Peres venceu Modesto Roma Júnior nas urnas, o ex-presidente e o ex-vice assinaram uma confissão de dívida com a Quantum pelo valor de 429 mil euros. No cargo, Peres se recusou a pagar os valores.
Em e-mail enviado a membros do atual departamento jurídico do Santos em novembro do ano passado, o chefe do mesmo departamento do PSG, Gregory Durand, que participou da negociação pelo pagamento da verba de solidariedade, afirma:
– Estou um pouco surpreso com tal disputa (com a Quantum), provavelmente como você, pois posso confirmar que nossos dois clubes lidaram diretamente com o tema da solidariedade.
O Santos está sendo cobrado na Justiça de São Paulo pelo não pagamento desta comissão. Quem cobra o clube, porém, não é a Quantum, mas uma empresa brasileira, a FK Sports Agenciamento, que afirma ter adquirido os direitos a este crédito.
A FK chegou a pedir a penhora de parte do que o Real Madrid tem a pagar pela transferência do atacante Rodrygo.
Procurado, o escritório Gentil Monteiro, Vicentini, Beringhs e Gil Advogados, que representa a FK, afirmou, em curta nota, que "foram apresentadas provas de que o serviço foi efetivamente prestado".
O Santos informou que não comenta ações em andamento.
O clube quer que a Justiça anule o contrato com a Quantum. Na última quinta-feira, o pedido de uma liminar foi negado, mas Modesto, Conforti e a empresa de Malta deverão ser intimados para apresentar contestação.
Globo Esporte
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