MP diz que direção do Inter na gestão Piffero agia como "organização criminosa"

(Foto: Eduardo Deconto)


Uma organização criminosa, com braços nos principais setores do clube e com participação direta do ex-presidente. Assim o Ministério Público do Rio de Grande do Sul (MP-RS) qualificou os ex-dirigentes do Inter investigados por suspeitas de desvio de recursos e diversos outros crimes durante a gestão do ex-presidente Vitorio Piffero, nos anos de 2015 e 2016.

Na manhã desta quinta-feira, o MP cumpriu 20 mandados de busca e apreensão em residências e empresas de Porto Alegre, Eldorado do Sul e Viamão ligadas a ex-dirigentes do clube (confira mais abaixo). Os investigados são o ex-presidente Vitorio Piffero, o ex-vice de Finanças Pedro Affatato, o ex-vice de Administração Alexandre Limeira, o ex-vice de Patrimônio Emídio Marques Ferreira, o ex-vice de futebol Carlos Pellegrini e o ex-vice jurídico Marcelo Domingues de Freitas e Castro.

A investigação apura crimes de apropriação indébita, estelionato, organização criminosa, falsidade documental e lavagem de dinheiro. As suspeitas se tornaram públicas em 2017, após um relatório de uma auditoria contratada pelo clube apontar indícios de irregularidades nas contas.

Segundo o MP, as irregularidades englobam desvio de recursos para obras que nunca foram realizadas, superfaturamento de gastos, como a compra de passagens aéreas, e pagamento de propina na contratação de jogadores, além de acordos trabalhistas com jogadores prejudiciais ao clube em favorecimento de terceiros.

– O Inter além de colaborar durante a investigação inteira, o Inter é vítima de todos esses fatos. Estávamos diante de uma organização criminosa. A partir do momento em que o clube tem em todos os braços importantes do clube, o patrimonial, o financeiro, o jurídico e o esportivo, esse tipo de desvio, havia organização criminosa. E a participação do presidente. Não se imagina que cada um dos dirigentes estivesse agindo por conta própria, sem a ciência. Principalmente um presidente que era participante. Participava do futebol, chegou a exercer o cargo na própria gestão. Tinha participação em todas as esferas em que constatamos as fraudes – disse o promotor Flávio Duarte, coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP.

De acordo com o subprocurador-Geral do MP, Marcelo Dornelles, a investigação comprova que houve "sacanagem" na gestão do departamento de futebol, com o repasse de dinheiro ao vice de futebol Carlos Pellegrini. Dornelles ainda classificou como "escandalosos" os adiantamentos de cerca de R$ 10 milhões pelo vice de finanças Pedro Affatato.

– No braço financeiro é uma coisa escandalosa. Em torno de R$ 10 milhões em espécie foram retirados do clube. Por fim, a questão do futebol é a mais delicada e que talvez tenha a maior expectativa. Nós provamos que tem sacanagem no futebol. Tem vários contratos em que claramente houve a contratração, o pagamento da contribuição do intermediário e depois, através da simulação com outras empresas, o dinheiro volta para o dirigente – afirmou Dornelles.

A investigação do MP revelou que ao menos um jogador sabia dos desvios nas negociações. Há um caso de irregularidade também nas categorias de base do Inter. Os nomes de atletas e empresários são mantidos em sigilo. Não há ainda um valor conclusivo e definitivo dos valores desviados.

A operação desta quinta-feira mobilizou cinco promotores de Justiça e mais de 100 servidores públicos. Foram apreendidos uma série de documentos contábeis e computadores na casas de ex-dirigentes e empresários e em sedes de empresas. As provas serão analisadas para futuras denúncias. Até o momento, não foi feita qualquer solicitação de prisão dos envolvidos. Uma das penas pode ser o ressarcimento dos valores ao Inter.

O que dizem os investigados

A reportagem do GloboEsporte.com tenta contato com os ex-dirigentes citados na investigação do Ministério Público. Confira abaixo o que eles dizem:

Vitorio Piffero, em entrevista à Rádio Gaúcha

"É lamentável. Me dediquei de corpo e alma ao Inter e, estar sendo tratado desta maneira pelo Inter é um absurdo. Quero que provem qualquer ato da minha gestão que eu tenha praticado e que tenha sido desabonatório. Espero que o MP me chame logo. Porque, se eu for depender apenas da minha defesa no Inter, sei que não tenho a menor chance".

Alexandre Limeira, em entrevista ao GloboEsporte.com

"Normal que eu seja investigado porque o Inter encaminhou meu nome aos órgãos vigentes. Não houve nenhuma operação no Ministério Público na minha casa. Não existe citação ao meu nome nos adiantamentos e no futebol. Estou totalmente à disppsição, não vieram aqui em casa. Todo o dirigente é uma pessoa pública. Ele deve explicação ao MP, ao Conselho (Deliberativo), à imprensa, aos torcedores. Estou totalmente à disposição. Da minha parte, são valores irrisórios, perto de outros valores. Eu já expliquei. Tenho as notas. Eu acho que nem falaram".

Globo Esporte

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