Vettel e Max gostaram dos novos carros. Mas dentro do que foi possível verificar

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Se oito dias de treinos, com cada equipe limitada por regulamento a um carro, já representam muito pouco, todos vão para a etapa de abertura do campeonato, na Austrália, cheios de dúvidas, imagine como será este ano, diante das condições do clima extremamente difíceis no Circuito da Catalunha, em Barcelona, local dos testes da pré-temporada.

Nesta terça-feira, a temperatura ambiente variou de 3 a 6 graus e a do asfalto, de 4 a 9, tudo muito distinto do que pilotos e times vão enfrentar ao longo das 21 etapas do mundial. “Não é possível avaliar a performance, os pneus não atingem a temperatura. O que é possível fazer quando há até neve é completar o máximo de milhas. Hoje demos quase 100 voltas”, disse o vice-campeão de 2017, Sebastian Vettel, da Ferrari, pela primeira vez no cockpit do novo modelo SF71H. O GP da Espanha, no mesmo traçado, é disputado em 66 voltas.

O alemão comentou sobre o carro: “O mais importante é que não tivemos nenhum problema. A impressão é que demos um passo à frente”. No fim das duas sessões de quatro horas, das 9 às 13 e das 14 às 18 horas, Vettel ficou com o melhor tempo do segundo dia de ensaios, com a marca de 1min19s673, 98 voltas, registrada com pneus macios. A Pirelli disponibiliza todos os tipos de pneus.

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O seu maior adversário na luta pelo título em 2017, e espera-se repita este ano, Lewis Hamilton, não acelerou o modelo W09 da Mercedes nesta terça-feira. Valtteri Bottas andou de manhã e Hamilton assumiria à tarde. Mas Hamilton e o time decidiram deixar o finlandês permanecer no cockpit o dia todo. Há uma razão para isso: a previsão para esta quarta-feira é de condições menos severas e Hamilton terá o carro o dia todo para si.

Bottas se concentrou no uso dos pneus médios, não os macios, como Vettel. O finlandês fez 1min19s976, tendo completado 94 voltas, segundo melhor do dia. “Eu nunca pilotei em um clima como o de hoje”, afirmou Bottas. A exemplo de Vettel, disse a única coisa possível de se fazer, com tanto frio, é ganhar quilometragem com o carro.

A Pirelli não projetou pneus para asfalto entre 4 e 9 graus porque essa não será a temperatura em nenhuma prova do calendário. Quando baixa, a pista fica entre 20 e 25 graus.

Impressões falsas

No ano passado, em conversa com o GloboEsporte.com, em Barcelona, o engenheiro James Key, diretor técnico da STR, explicou: “Isso faz com que não tenhamos referência do desempenho do carro. E há outra questão em jogo. Os monopostos de F1 têm hoje várias tomadas de ar, para a unidade motriz, os sistemas de recuperação de energia, baterias, óleo e água do motor, câmbio, freios”.

Key seguiu falando: “Às vezes você treina no frio, seu carro funciona, e depois quando vai para o calor, como é ao longo do ano, descobre que, na realidade, precisa rever as tomadas de ar em razão das temperaturas internas estarem muito elevadas. Isso tem implicação em todo o conjunto aerodinâmico, tudo precisa ser revisto. O tempo perdido vale ouro, em especial em uma escuderia como a nossa, sem tantos profissionais como os mais ricos”.

Muita gente pergunta por qual motivo, então, a F1 não faz os testes de inverno fora da Europa, para treinar nas temperaturas normais durante o campeonato. Steve Nielsen, hoje técnico do grupo de Ross Brawn no Liberty Media, essencialmente destinado a conceber o regulamento técnico e esportivo da F1 para 2021, comentou com o GloboEsporte.com, em Barcelona, no ano passado, quando ainda estava na Williams: “Se não é autorizado às equipes nem mesmo utilizar aqui (Circuito da Catalunha) dois carros, imagine levar tudo isso para o Bahrein, por exemplo. Cada piloto tem quatro dias, somente, de testes, é impensavelmente pouco”.

São daquelas incoerências da F1. A alegação é de que o deslocamento para locais com Bahrein e Abu Dhabi, onde sabidamente é quente e não chove, exigiria elevado investimento. Como se a administração do orçamento das escuderias de mais recursos fosse um modelo. Há muito e muito custo supérfluo. É algo que o grupo de Ross Brawn já enxergou, segundo disse ao GloboEsporte.com, em Baku, no ano passado.

Árabes querem a pré-temporada

O mais interessante é que países como Bahrein e Emirados Árabes Unidos até ajudariam nas despesas da F1 para organizar os testes em seus autódromos. Como é o primeiro contato dos pilotos com os novos carros, há um interesse ainda maior pela F1, represado desde o encerramento do mundial anterior, três meses antes. A nação que promove os testes vira manchete no mundo todo. É um bom negócio. Brawn afirmou: “A questão é conciliar interesses, liderar a iniciativa”.

É provável que esse seja o caminho em 2019. O pessoal do Liberty Media entendeu ser possível fazer como no futebol, em que clubes disputam uma competição no início da preparação dos atletas, depois das férias, em algum país, antes de começar propriamente as disputas mais importantes programadas.

Pneus hipermacios

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O autor do terceiro tempo nesta terça-feira foi o belga Stoffel Vandoorne, com a McLaren MCL33-Renault. Pela primeira vez um piloto acelerou nos 4.655 metros do Circuito da Catalunha com os pneus hipermacios, novidade este ano. A Pirelli o produziu para traçados onde o desgaste dos pneus é bastante baixo. Deverá ser usado nos GPs de Mônaco e da Rússia. A pista catalã foi recapeada. Segundo Mario Isola, diretor de competição da Pirelli, explicou ao GloboEsporte.com, no México, no ano passado, o novo asfalto é menos abrasivo. Os hipermacios deverão ser cerca de sete décimos mais velozes que os ultramacios.

A seguir veio o hoje homem-show da F1, Max Verstappen, com o RB14-TAG Heuer, monoposto que levou seu companheiro de RBR, Daniel Ricciardo, ser o mais veloz no primeiro dia de testes, na segunda-feira. Max permaneceu a manhã toda nos boxes por causa de um problema no sistema de alimentação de combustível. Treinou só à tarde. O holandês completou 67 voltas. Com os pneus médios registrou 1min20s326, terceiro tempo. Ele gostou do carro, ainda que, como os demais pilotos, comentou ser impossível saber qual é o seu real comportamento, pelo baixo nível de aderência dos pneus e do asfalto.

RBR de olho na Honda

Fato bastante curioso: o diretor da RBR, o inglês Christian Horner, acompanha com atenção os passos da outra equipe do austríaco Dietrich Mateschitz, dono da RB, a STR. Isso porque ela compete com a unidade motriz Honda. A McLaren rompeu com os japoneses, no ano passado, para cedê-la a STR em troca da Renault. O divórcio aconteceu por causa da evolução mínima da Honda ao longo de três anos.

Mas nos dois primeiros dias de testes, agora, ao contrário do que acontecia nos tempos da Honda com a McLaren, a unidade motriz japonesa está surpreendendo. Nesta terça-feira, o francês Pierre Gasly, da STR, completou 82 voltas com o STR13-Honda e registrou o sexto tempo, 1min21s312, com pneus macios. No primeiro dia, na segunda-feira, o seu companheiro, o neozelandês Brendon Hartley, deu nada menos de 93 voltas, sem que também enfrentasse qualquer dificuldade técnica.

Acredite se quiser, a STR-Honda é a terceira escuderia com maior quilometragem depois de dois dias de experimentos da F1 em 2018: nada menos de 814,6 quilômetros, resultantes das 175 voltas dos seus dois pilotos. Está, até o momento, no mesmo patamar de Ferrari, 178 voltas, e Mercedes, 177.

No ano passado, o diretor da Renault, Cyril Abiteboul, cansado das críticas de Horner, afirmou que a montadora francesa não mais comercializaria sua unidade motriz com a RBR depois do fim deste ano. Hoje sua posição é mais flexível. Agora em Barcelona, ficou acertado que a Renault espera a resposta de Horner, sobre seguir competindo com sua unidade em 2019, até o fim de maio.

O que Horner quer saber é se a Honda deu o salto de performance prometido pelo novo diretor técnico do programa de F1, Toyoharu Tanabe. Os japoneses abriam o projeto para engenheiros mais experientes com a tecnologia híbrida da F1. A versão da unidade motriz que está nos carros da STR é a primeira depois da colaboração entre os técnicos da Honda e estrangeiros.

Ao menos por enquanto tem se mostrado bem mais eficiente. Só lembrando, que este ano o desafio das unidades motrizes é máximo. Cada piloto tem direito a três unidades motrizes, apenas, para as 21 etapas do campeonato. A pré-temporada está fora dessa conta. Em 2017, com McLaren-Honda, Fernando Alonso precisou de nove unidades motrizes, cinco a mais do limite de quatro, e seu companheiro, Vandoorne, dez. Largaram várias vezes no fim do grid por isso.

Se a Honda crescer a ponto de impressionar, a RBR pode dizer “não, obrigado”, a Renault. E os japoneses cederiam sua unidade motriz de graça e, a exemplo do que faziam na McLaren, injetariam um caminhão de dinheiro na RBR. Em 2017, a Honda investiu 60 milhões de libras (R$ 280 milhões) na McLaren.

Estreia com o pé direito

Boa participação do estreante Charles Leclerc com o novo carro da Sauber, C37-Alfa Romeo (Ferrari). O talentoso monegasco de 20 anos, campeão por onde passou, com folga, GP3 e F2, completou na pista de Barcelona 81 voltas. Leclerc obteve 1min22s721, com pneus macios. No dia anterior, o companheiro, Marcus Ericsson, deu 63 voltas e, também com os macios, fez 1min23s408. De novo, os tempos são pouco representativos, por conta do grande número de variáveis capazes de interferir diretamente nos resultados.

A previsão é de menos rigor do clima nesta quarta-feira, bem como na segunda série de treinos, na semana que vem, de 6 a 9, no mesmo Circuito da Catalunha. Pilotos, equipes e fãs esperam que seja mesmo assim. Caso contrário a F1 irá para Melbourne, onde de 23 a 25 de março disputará a abertura do mundial, sabendo menos ainda o que esperar.

Globo Esporte

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