Da euforia ao protesto: Inter revive tensão no Beira-Rio após empate e queda de Guto

 (Foto: Agência Estado)


Os colorados aproveitaram o sábado ensolarado para chegar cedo ao Beira-Rio, munidos de confiança e expectativa de sobra para ver o Inter enfim sacramentar seu retorno à elite. Em vão. Os dois sentimentos se transformaram em frustração e insatisfação para os mais de 33 mil torcedores ao longo dos 90 minutos do empate em 1 a 1 com o Vila Nova, pela 35ª rodada da Série B. O resultado foi a gota d'água para Guto Ferreira, demitido pela diretoria a três jogos do fim do ano. E o ambiente de festa deu lugar ao clima bélico em um protesto dos torcedores, que entraram em confronto com a polícia após a partida.

A inversão de expectativas – do acesso à crise com demissão de treinador – faz o Inter reviver uma cena recorrente de seu pior momento na temporada, mesmo a um empate de assegurar o retorno à Série A. O Inter até tropeçou em seus dois compromissos anteriores em casa, na derrota para o Ceará e no empate contra o ABC. Mas não via seu torcedor reagir dessa forma desde o 1 a 1 com o Criciúma, em 7 de agosto, pela 12ª rodada da Série B.

À época, o Colorado ocupava a sexta colocação e estava no início do trabalho de Guto Ferreira, ainda em busca de uma formação ideal para engrenar na competição. Algo que ocorreu com 11 vitórias em 13 jogos, antes da turbulência atual. O protesto de então foi mais severo, com depredação ao Beira-Rio, até por se tratar de uma situação mais delicada na tabela.

Atualmente, a equipe até perdeu a liderança para o América-MG, que garantiu o acesso e abriu dois pontos de vantagem ao Colorado neste sábado. Ainda assim, segue na vice-liderança, com 64 pontos e vantagem de sete pontos ao Oeste, quinto colocado.

Mas o posto é insuficiente para agradar à torcida por toda a expectativa criada em torno da partida. Contra o Vila Nova, o Inter tinha a chance de selar seu retorno à primeira divisão exatos 11 meses após o rebaixamento, sacramentado no 1 a 1 com o Fluminense, no Giulite Coutinho, em 11 de dezembro, na última rodada do Brasileirão de 2016. Não à toa, o torcedor chegou confiante ao Beira-Rio e fez uma bela festa com bobinas de papel e fumaça vermelha para receber o clube.

E o andamento da partida ajudou. O Inter abriu o placar cedo, aos 11 minutos, com Cláudio Winck, após cobrança de falta. A torcida ensandeceu e cantou muito alto no Beira-Rio e manteve o apoio e a confiança ao longo da primeira etapa. Mas o gol de Ruan, logo a três minutos do segundo tempo, fez a euforia dar lugar à apreensão.

Os torcedores, diga-se, mantiveram o apoio ao longo de 90 minutos, como o capitão D'Alessandro reconheceu ao final da partida. Mas não se furtaram de fazer ressoar uma vaia sonora à equipe e a Guto Ferreira na saída para os vestiários.

– Quando cai o treinador, a gente fica triste, porque a gente não fez o trabalho que tinha que fazer. Deixamos passar três oportunidades em casa. Precisamos ganhar e não ganhamos. Tivemos uma queda importante em relação ao que a gente vinha fazendo. A gente deixou de ser esse time. Não tem explicação. Que acabe o ano, para a gente conseguir o que a gente precisa pelo acesso, que o torcedor merece. O torcedor lotou o Beira-Rio. Lotou, apoiou. Não vaiou. Se manifestou de forma correta no final – disse D'Ale.

A indignação das vaias se transformou em violência para um grupo de torcedores que protestou ao final da partida, no pátio do Beira-Rio, em pedidos de "fora Guto" e gritos de "time sem vergonha". Após alguns manifestantes entrarem em conflito com os seguranças e arremessarem garrafas e pedras contra o estádio, o pelotão de choque da Brigada Militar entrou em ação para apaziguar os ânimos.

O tumulto e os apupos ecoaram no vestiário colorado. Em meio ao ambiente de tensão, a diretoria do clube demitiu Guto Ferreira após 33 jogos no comando da equipe. A justificativa tem a ver não apenas com os quatro tropeços consecutivos, mas com o rendimento decrescente do time, com atuações apagadas em todas essas partidas.

– Fizemos a decisão correta no momento. Chegamos faltando três rodadas com chances de conquistar a classificação, estivemos na liderança do campeonato, mas achamos que nos últimos jogos o desempenho da equipe caiu demais. Não estamos conseguindo mais jogar. A equipe se desorganizou – explicou o vice de futebol Roberto Melo.

Com o auxiliar Odair Hellmann como interino no comando do elenco, o Inter se reapresenta para trabalhos já neste domingo e faz um último treino antes de pegar o Oeste na segunda-feira. O duelo na Arena Barueri está marcado para as 20h30, pela 36ª rodada da Série B. O Colorado precisa apenas de um empate para enfim garantir matematicamente o acesso.

Globo Esporte

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