Cogitado na Ferrari em 2019, Ricciardo diz "não ter certeza" se Vettel o aceitaria

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Do GP da Espanha, quinto do calendário, dia 14 de maio, até o do Japão, 16º, dia 8 de outubro, Daniel Ricciardo, da RBR, deixou até os adversários bastante surpresos. O carro da sua equipe, RB13-Renault, era apenas o terceiro mais rápido da F1. Mas mesmo assim esse piloto australiano de 28 anos conquistou nove pódios, muito além do que se poderia esperar.

E mesmo descontando os problemas de quebra do seu companheiro, o talentoso Max Verstappen, Ricciardo se impunha com desenvoltura na luta entre ambos. Max passou a ser mais constante, o carro da RBR evoluiu mais de qualquer outro e nas últimas quatro etapas o jovem holandês atropelou, vencendo na Malásia e no México e obteve o segundo lugar no Japão.

Assim, Ricciardo foi mais eficaz que Max a maior parte do campeonato, a ponto de hoje ele somar 200 pontos, quarto colocado, diante de 158 de Max, sexto. Não é mais segredo para ninguém que Ricciardo interessa a Ferrari. Os dois lados conversam. Mas há uma questão importante no ar: Ricciardo lançou dúvidas sobre a real capacidade de Sebastian Vettel, em 2014, ao dominar a luta com ele na RBR.

Uma das razões de Vettel deixar a RBR, no fim de 2014, depois de conquistar quatro títulos mundiais, de 2010 a 2013, foi para fugir da concorrência interna com Ricciardo. Perguntado, nesta entrevista exclusiva ao GloboEsporte.com, se acha que Vettel o aceitaria com companheiro novamente, agora na Ferrari, em 2019, o australiano respondeu: “Não tenho nenhuma certeza de que aceitaria”.

Você conquistou nove pódios em 16 corridas, mais de 50%, com um carro que lhe daria, na verdade, o quinto lugar, atrás dos dois pilotos da Mercedes e da Ferrari. Como conseguiu a proeza?

- Nada mal, mas poderia ser melhor. Eu sinto que desde a minha chegada a esta equipe sempre que surge a chance de vencer ou conquistar um pódio eu normalmente a aproveito. Max conseguiu algumas vitórias este ano também, as tirou, talvez, de mim. Ele tem pilotado muito bem. Eu também estou satisfeito com minha performance. Os carros deste ano estão difíceis de tirar tudo deles sempre, mas nos domingos estou conseguindo entendê-lo melhor, o que não é o caso aos sábados, não sinto o carro na mão como gostaria, como acontecia no ano passado.

(Até agora foram disputadas 19 etapas este ano. O placar por melhor colocação no grid entre Max e Ricciardo é bastante favorável a Max, 13 a 6. Na classificação do campeonato, como já mencionado, o australiano está na frente, quarto colocado, com 200 pontos, diante do sexto lugar de Max, com 158. Já em 2016 Ricciardo venceu a disputa por melhor colocação no grid por larga margem, 14 a 7. No campeonato, Ricciardo também foi melhor: terceiro, com 256 pontos, enquanto Max, quinto, 204.)

O novo regulamento, este ano, com mais potência e carros e pneus mais largos, favoreceu mais seu estilo ou funcionou ao contrário?

- Se você é um bom piloto, você pode sempre se adaptar e encontrar seu caminho. Às vezes eu preciso de um tempo um pouco maior para me adaptar. Todo mundo diz que os carros geram mais pressão aerodinâmica, verdade. Mas a janela em que você tem esse carro com maior pressão é menor este ano. (Refere-se à faixa de temperatura ideal de aderência dos pneus Pirelli). Eu rodei em Melbourne, na classificação, sem que até agora tenha entendido a razão. Em Baku, bati também na definição do grid. Estava com o carro na mão quando, de repente, escapou, sem nenhum aviso. Isso faz com que percamos um pouco aquela confiança necessária, em especial na classificação. Está mais imprevisível controlar o carro.

- Sim, é verdade, bem legal da parte deles. Desejam manter eu e Max por mais tempo na equipe. Mas não estou com pressa. Tenho muito respeito pela Red Bull ou qualquer outra equipe no paddock, mas ainda tenho um tempo para analisar tudo, entender como o mercado vai se mover. Eu quero estar no melhor carro, no melhor lugar para poder vencer. Talvez seja a Red Bull. Como disse, porém, disponho de tempo para ver como será, até os testes de inverno (em fevereiro) e nas primeiras corridas de 2018.

Seu pai é italiano e sua mãe, filha de italianos. Dentre outros fatores, a Ferrari é um sonho para você?
- Tudo o que eu disser agora será... Se eu responder que não é um sonho, vai parecer que não estou interessado. A palavra sonho é um pouco pesada. O meu sonho é conquistar o título mundial e estar no melhor carro. Portanto, não sei o que te responder. Se tiverem (Ferrari) o melhor carro e me desejarem como piloto para ser campeão com eles, vou ter muito mais a ganhar do que a perder. Mas não fico pensando muito nisso.

Será que Sebastian Vettel aceitaria você como companheiro de equipe novamente, depois do que aconteceu em 2014?

(Os dois foram companheiros na RBR. Vettel vinha de conquistar quatro títulos seguidos, de 2010 a 2013. Já Ricciardo estreava na RBR, depois de duas temporadas na STR. O resultado desse confronto surpreendeu a todos. Ricciardo venceu três corridas, Canadá, Hungria e Bélgica, e chegou oito vezes no pódio. Vettel não ganhou nenhum GP e obteve quatro pódios, apenas. Na disputa pela melhor colocação no grid, o placar ficou 10 a 9 para Ricciardo. E na classificação do mundial, Ricciardo foi terceiro, com 238 pontos, ao passo que Vettel, apenas quinto, 167.)

- Não tenho nenhuma certeza de que aceitaria. Não sei a força que ele tem, quero dizer se tem esse poder de dizer à equipe quem ele quer o que deseja. Mas eu não estou preocupado com isso porque se seja lá para quem for que eu vá pilotar em 2019 acredito que será por boas e fundamentadas razões. Tudo o que tenho de fazer é continuar competindo nesse nível elevado, é isso que definirá meu destino.

Max é hoje um dos centros de atenção na F1. Mas seu desempenho ao logo do campeonato tem sido, na média, melhor que o dele. Como se sente ao ver esse superinteresse por Max?

- Normalmente eu choro bastante. Muito mesmo (risos). Eu entendo isso, nos últimos dois anos Max se tornou um dos pilotos mais populares da F1, portanto essa atenção não é obra do acaso. Ok, ele tem nome e quebrou o recorde de mais jovem vencedor da história, ganhou todas as manchetes. As pessoas ficam, agora, na expectativa do que vem pela frente. Eu vivi situação semelhante em 2014 quando vencia Sebastian. O interesse em Max não significa que eu sou irrelevante. Mas é verdade que eu preciso também disputar corridas espetaculares como ele fez recentemente.

Acredita que com essa performance de Max, com o mesmo carro que você pilota, pode colocar sua capacidade em xeque?

- Eu gosto disso, é um desafio. Este ano eu não fui perfeito em todo GP, eu tenho de rever isso. Acredito que posso tirar mais de mim. Se eu tivesse um companheiro de equipe mais fácil eu provavelmente me manteria em nível suficiente apenas para vencer. Mas nesse caso você não conhece o seu verdadeiro potencial, tudo o que você pode produzir. Portanto, quando você é pressionado por um piloto do mais alto nível você sai em busca de tentar ser mais e mais rápido, eficiente. No fundo, é muito bom, você evolui. Apesar de em 2017 não ter tido apenas bons fins de semana, sinto que cresci. Este ano praticamente já acabou, mas desejo vencer outra corrida e, vendo mais para a frente, sinto que posso começar a próxima temporada com maior conhecimento e controle da situação.

Por qual razão Max tem sido tão mais veloz que você nas sessões de classificação, sendo que no ano passado aconteceu o oposto?

- Duas razões. Ele melhorou muito este ano sua performance em uma volta lançada. No ano passado cometeu vários erros nas classificações. Max está com a sua autoconfiança lá em cima no momento. Já eu estou me ressentindo da característica do carro que expliquei, as suas mudanças súbitas de aderência. Ele só funciona bem em uma faixa estreita (de novo Ricciardo se refere à temperatura dos pneus). Eu preciso sentir todo movimento do carro no meu bumbum e nas minhas mãos, mas este ano esse exercício está um tanto confuso.

Adrian Newey não participou ativamente do projeto do modelo atual, mas assim que assumiu o seu desenvolvimento, no começo do campeonato, o carro foi o que mais melhorou ao longo do ano, como as últimas performances de Max atestam. Marko afirma que vocês têm hoje o melhor chassi da F1. Concorda?

- Sim, se não for o melhor no mínimo é igual ao melhor. E quando conseguimos fazer os pneus trabalharem na sua faixa ideal de temperatura, nosso chassi é o melhor. Não é assim fácil fazê-lo atingir e permanecer nessa faixa, mas está se tornando mais fácil ficarmos nela. É incrível o desenvolvimento que fizemos no carro. Se começarmos o ano que vem no mesmo patamar de Mercedes e Ferrari, seremos os favoritos porque o avanço que conseguimos introduzir no carro é de fato impressionante.

Em termos de unidade motriz, onde a sua unidade Renault perde para a da Ferrari e da Mercedes?

- Confiabilidade, em primeiro lugar. Depois, há uma diferença enorme de potência entre a nossa e a das duas nas sessões de classificação. Para a Mercedes é maior ainda que para a Ferrari. E quando você começa as corridas na frente e dá uma boa largada, você administra melhor os pneus e tudo joga a seu favor. O modo “qually” da Mercedes faz uma diferença brutal. Você pode comprovar isso vendo na câmara on board. (Mercedes, notadamente, e Ferrari, disponibilizam a seus pilotos, nas voltas decisivas da sessão de classificação, uma potência extra, estimada em 30 cavalos, o tal do “qually mode”.

Adrian Newey acredita que em 2018, segundo ano do novo regulamento, a tendência é haver uma maior compactação do grid, as diferenças entre as equipes diminuir. O que pensa?

- Estou ansioso para dizer a verdade. Eu preciso me conter para não ficar tão esperançoso como estou. Temos razões muito boas para acreditar que iremos começar o campeonato bem competitivos. Mesmo que meu desempenho nas classificações este ano não tenha sido o melhor, tudo o que aprendi na temporada eu vou levar comigo para 2018. A combinação entre dispor de um melhor carro e a minha evolução me faz acreditar muito que poderei ser um piloto ainda mais forte no ano que vem. Mas, vamos ver.

Você jogou futevôlei na quarta-feira e deixou excelente impressão, o que não é o caso quando pratica futebol. Os exercícios frequentes que realiza para aprimorar reflexos os ajudam nesse esporte?

- Eu sempre tive boa coordenação motora, boa resposta muscular para a estimulação visual. Toda competição que envolve esse tipo de destreza costumo me sair bem. E nós praticamos exercícios para aprimorar nossos reflexos, tudo está ligado.

Hamilton, um campeão legítimo, o melhor venceu?

- Acredito que sim. O nível de pilotagem de Vettel este ano foi muito elevado. Em algumas sessões de classificação ele voltou ao seu melhor momento. Mas eu sinto que em algumas ocasiões esteve um pouco irregular, não constante. Hamilton teve alguns poucos GPs difíceis, mas sempre foi capaz de voltar ao nível alto de antes. Hamilton demonstrou poder superar rápido um fim de semana ruim, esteve mais calmo que Vettel.

Globo Esporte

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