(Foto: Symbol) |
Por Nicholas Araujo
Especial para o Blog do Esporte
O futebol se reinventa a cada ano e busca de alguma maneira alçar voos mais altos. Enquanto grandes clubes como Corinthians, Flamengo, Cruzeiro e Grêmio dominam o cenário nacional há muitos anos, equipes modestas buscam alternativas para viabilizar o futebol e garantir seu espaço no concorrido e inchado cenário brasileiro.
Por outro lado, os grandes investimentos trazem boas consequências se bem elaborado. Em meio à crise financeira do Brasil, uma má administração pode acarretar em sérios riscos, como dívidas e prejuízos, e até a extinção da agremiação. Com isso, o torcedor perde o entusiasmo e dificilmente o clube se ergue de forma integral. A aposta recente do esporte é o formato clube-empresa, muito utilizado no futebol da Inglaterra, Alemanha, dentre outros.
Basicamente, o clube deixa de ser uma associação civil sem fins lucrativos, que acontece na maioria dos times brasileiros, para responder como pessoa jurídica, no caso o “clube-empresa”, onde o lucro gerado pela agremiação é investido no próprio clube e para pagar os salários da diretoria, conselho e funcionários. Ao contrário da associação civil, o presidente e conselheiros trabalham para o clube em tempo integral e exercem cargos registrados em carteira.
O início deste processo no Brasil começou na década de 1990, quando o União São João, de Araras, passou a ser comandado por uma usina da cidade do interior de São Paulo. No entanto, após quedas consecutivas no estadual e também no Campeonato Brasileiro, a equipe se afastou de competições oficiais e hoje não existe uma expectativa de retorno.
(Foto: Divulgação/Red Bull Brasil) |
Riscos
Por mais que o clube-empresa possa ser a solução para muitos clubes, é necessário um certo cuidado quando o lucro e o sucesso são grandes e acontecem muito rapidamente. Este é o caso do Grêmio Barueri, que teve uma ascensão meteórica no Campeonato Paulista, chegando a disputar a série A1, e consequentemente, os inúmeros acessos no Brasileiro até a elite do futebol nacional.
Após encerrar a parceria com o município de Barueri, localizado na região metropolitana de São Paulo, o clube se mudou para Presidente Prudente, a mais de 500 km de onde foi fundado. Em 2010, foi realizado o desligamento oficial da equipe de Barueri, e desde então, o Grêmio coleciona decepções no futebol. Em 2016, sem vencer nenhum jogo da série A3 do Paulista, foi rebaixado para a quarta divisão, e o atual presidente, Alberto Ferrari, vendeu o clube. O nome do novo proprietário não foi revelado. Este ano, a equipe se afastou das práticas futebolísticas.
São Paulo
O estado de São Paulo coleciona uma série de equipes, que hoje, são geridas como clube-empresa. São Caetano, Ferroviária, Audax, Grêmio Osasco, Red Bull, Desportivo Brasil e Atibaia são apenas alguns nomes que “ressurgiram” após esta mudança.
Neste caso, o sucesso também veio de modo instantâneo. O Audax, por exemplo, chegou a ser vice-campeão da série A1 do Campeonato Paulista, ao perder a final para o Santos, em 2016. Em 2017, por outro lado, a equipe foi rebaixada para a série A2 e não faz boa campanha na série D do Brasileiro.
Quem ainda lucra com o sucesso é o São Caetano, que retorna a elite paulista em 2018 e prepara seu elenco para a Copa Paulista. A Ferroviária também colhe os frutos, assim como o Red Bull.
Ações de marca de energéticos cria polêmica no mundo
Entretanto, o clube-empresa corre o risco de não agradar a todos. No caso do Red Bull Brasil, que faz parte de um mercado ainda explorado pela marca de energéticos, o que falta é consciência por parte da imprensa. Em especial ao Grupo Globo, que insiste em chamar o clube de RB Brasil pelo motivo de que a marca Red Bull não patrocina o Grupo e evita de ligar o esporte a um “negócio lucrativo”. Não é à toa que na Fórmula 1, em vez de dizer Red Bull Racing, a Globo apenas abrevia o nome da equipe para RBR.
(Foto: Getty Images) |
Indo para o exterior, a Red Bull ainda possui equipes na Alemanha (RB Leipzig) e Áustria (RB Salzburg). No caso alemão, o futebol possui uma lei de proteção local criada antes da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) que exige que uma empresa não pode ser dona de mais de 50% das ações de clubes, justamente para evitar que o time passe a ter donos ao invés de pertencer à cidade natal.
Entretanto, essa lei não se aplica a casos como o Bayer Leverkusen, fundado pela empresa farmacêutica, e o Wolfsburg, que possui uma parceria com a Volkswagen, que hoje detém cerca de 92% das ações do clube. Outro caso é o Ingolstadt, que em 2017 esteve na Bundesliga, e 20% de suas ações pertencem a Audi, que impulsionou o futebol local. Tamanho investimento fez o clube ser conhecido como o “clube da Audi”.
A título de curiosidade, o Bayern de Munique é controlado por uma parceria tripla entre Audi, Allianz e Adidas. Somados, as empresas detêm 25% das ações do clube, 5% a mais que o Ingolstadt.
(Foto: Reprodução/Facebook Bayer Leverkusen) |
Retornando a Red Bull, o mesmo projeto acontece na Áustria, onde a equipe abrevia o nome do clube para RB Salzburg e passa pela mesma hostilidade com as torcidas adversárias. Além disso, a Red Bull mantém uma equipe nos Estados Unidos - o New York Red Bulls - e o projeto da empresa é ambicioso para todas as suas "filiais".
Torcida
O que pode preocupar esses investimentos é a ligação do clube com a torcida. No caso do Red Bull Brasil, o páreo é difícil, pois o Touro divide a paixão com o Guarani e a Ponte Preta, em Campinas. Além disso, por ainda ser uma equipe muito nova no cenário brasileiro, o time manda os seus jogos no Estádio Moisés Lucarelli, casa da Macaca.
Hoje, o mercado futebolístico é ditado por grandes patrocínios e o investimento de poderosos magnatas, que chegaram a comprar clubes como Inter de Milão, Chelsea e Paris Saint-Germain. O mercado caminha devagar no Brasil e ainda é uma grande incógnita. Não sabemos se esse mercado dará certo, mas sabemos para onde ele irá caso ganhe grande repercussão. E os torcedores, estão prontos para encarar essa “nova realidade”?
(Foto: Reprodução) |
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