Kleina se diz em casa na volta à Ponte, cita Lulu Santos e obsessão por títulos

(Foto: Heitor Esmeriz)


Gilson Kleina voltou à Ponte Preta após cinco anos, mas parecia que foi ontem. Ou que nem chegou a sair do clube em 2012, tamanha a naturalidade com que encarou a entrevista coletiva de apresentação como novo treinador da Macaca, na tarde desta quinta-feira. Típico de alguém que se sente em casa. A estreia é domingo, contra o São Bento, às 18h30, em Sorocaba.


Do cumprimento a cada um dos jornalistas na sala de imprensa à palhinha da música "Casa", de Lulu Santos, ele se mostrou totalmente à vontade no retorno ao Majestoso. Sem esquecer também de falar sobre futebol. E aí uma palavra norteou seu discurso: título. É com essa obsessão que ele inicia sua segunda passagem pela Ponte Preta. 

– Quando você vem de corpo e alma, as coisas tendem a caminhar. É canalizar a energia para domingo, e aí incutir na cabeça dos jogadores a necessidade de brigar por títulos. E quando esse jejum for quebrado, é manter a Ponte sempre brigando por finais. Quando falo em brigar por títulos, é se superar. Se eu chegar com o discurso do investimento dos adversários, não vamos chegar a lugar nenhum. Ninguém pode ter a vontade maior que a nossa – disse o treinador. 

O relacionamento com todas os setores, desde os jogadores à imprensa, sempre foi uma marca registrada de Kleina desde sua primeira passagem, entre 2011 e 2012. E essa é uma de suas principais apostas para mobilizar o clube internamente em busca de um objetivo maior. 

– Quando eu saí, lembro que falei para as pessoas na reunião: estou saindo, mas o sentimento fica. E foi construída uma família aqui na Ponte. Passou um filme na minha cabeça, fizemos uma relação verdadeira. A gente vê no semblante de todos que querem resgatar isso. Essa é a minha missão. A ideia é mobilizar para que essa aura positiva possa ficar por muito tempo aqui. 

A saída turbulenta para o Palmeiras, em 2012, também ficou no passado. Alguns torcedores marcaram presença na entrevista para mostrar apoio à escolha do treinador. Devido a divergências internas, a diretoria da Ponte levou quase três semanas para definir o substituto de Felipe Moreira, demitido no início de março. 

– E agora estou voltando para casa. Como diz a música de Lulu Santos: "Estou voltando para casa" – disse, se arriscando a cantar um trecho da música, como fez em algumas oportunidades na primeira passagem, sem nenhum tipo de cerimônia. Típico de quem se sente em casa. 

Depois da entrevista, ele foi para o vestiário falar com os jogadores antes de subir e comandar o primeiro treino neste retorno à Macaca. Com contrato de um ano, ele chega acompanhado de Fabiano Chá e Juninho. Os dois vão exercer a função de auxiliares, mesmo Chá sendo preparador físico, uma vez que a diretoria da Ponte não abriu mão de manter os integrantes de sua comissão fixa, como João Brigatti e Luis Fernando Goulart. 

– Quero agradecer o convite de uma equipe que, desde o primeiro dia que saí, um dia eu iria voltar, por todo o sentimento que deixamos. Quero agradecer a lisura que o presidente do Goiás teve comigo durante o processo de desligamento. Também o empenho do Gustavo, do Vanderlei, que fizeram de tudo para fazer com que esse momento acontecesse. 

FAZER HISTÓRIA
– Volto com o intuito de brigar por títulos. Acho que só falta isso para marcar história. Sabemos como isso está aflorado dentro do clube, e vamos trabalhar muito firme para isso. Claro que estamos chegando agora, ainda não conversei com os pares da diretoria. Sou um profissional do futebol, vi a equipe da Ponte. Tem muita qualidade aqui. Agora de dentro tenho de entender melhor o que cada jogador pensa. Se era líder até ontem, tem total condição de brigar firme. Tem que ver de que maneira vamos depender da gente. Tem que jogar domingo como se fosse decisão. 

SEM ILUSÃO
– Não adianta eu passar para o torcedor que vou fazer um monte de mudanças. O importante é passar o sentimento de decisão, para o time ir com tudo em Sorocaba.

SENTIMENTO DA VOLTA
– Responsabilidade vai ter sempre. Se vai aumentar, ainda não sei mensurar. A vontade de vencer é muito maior. Quando fomos contratados em 2010, para começar a reconstrução da Ponte, me lembro que no segundo jogo contra o Mogi, saí de camburão aqui, a torcida já veio me pressionar. Aqui tem uma característica diferente, o torcedor traz o sentimento para dentro de campo. Ali comecei a entender o que era a Ponte. Não adianta só se doar, tem que ter equilíbrio técnico também.

SOBRE O ELENCO
– Ainda não tive oportunidade de conversar sobre o grupo. Falamos muito sobre o momento, o que essa partida de domingo envolve. Temos um São Bento, que é decisão, e um Palmeiras. Duas vitórias, independentemente do que acontecer, estamos classificados. Não adianta colocar mais pressão onde existe. Mas eles têm de entender que tudo passa por esse jogo. Temos de viver grandes jogos. É esse o espírito. São para essas decisões que temos de nos mobilizar.

– Ainda não fui falar com os jogadores. Tudo foi muito rápido. De longe, eu vejo até uma Ponte criando, não sei porque não está tendo um aproveitamento maior nas finalizações... Ao mesmo tempo, conversar com o Brigatti para saber sobre o sistema defensivo, a saída de bola, as coberturas. Tem várias coisas que vou colocar o Brigatti na parede para ter um relatório.

– Dá para ver que é uma equipe aguda, com Lucca, Clayson e Pottker. Mas tenho que conhecer melhor as características. Vi que estão variando as formações. Não é que vou chegar e resolver. Quero todos mobilizados. Não adianta trocar tudo de hoje para amanhã. O que vou pedir é que todos estejam focados para domingo.

PASSAGEM NO GOIÁS
– A proposta era tirar o Goiás da Série C. Fizemos uma campanha de recuperação. Peguei uma herança de anos ruins lá. E aí a torcida tem uma paciência pequena. Meus números lá eram bons: melhor defesa, líder da chave, artilheiro do campeonato e na quarta fase da Copa do Brasil. Muita coisa boa estava acontecendo, mas algumas situações fugiam do alcance. Vislumbrava um projeto longo, mas via que isso não iria acontecer. Abri meu coração para o presidente, que é de um coração muito grande, e definimos a saída, contra a vontade dele. E depois, livre no mercado, negociamos com a Ponte.

O AMIGO SÉRGIO CARNIELLI
– Ele ficou um amigo meu. Toda vez que houve uma troca, meu nome foi ventilado e teve conversa. A gente sempre foi franco, e as coisas não aconteceram. Desta vez, culminou com o momento e o sentimento... Primeiro telefonema veio do Vanderlei Pereira, depois do Gustavo. Fico muito feliz de ser lembrado mais uma vez.

A COMISSÃO TÉCNICA
– Estou trazendo o Fabiano Chá e o Juninho. Ainda vou conhecer os profissionais aqui. A ideia é fazer um vestiário forte, uma atmosfera vitoriosa.

O QUE MUDOU DESDE 2012
– Sem dúvida experiência, poder agregar o valor que conquistamos em outros clubes. Futebol é imediatismo. Espero que aconteça o mais rápido possível. O que trago também é mais cabelo branco. Isso é resultado de cada trabalho. Espero fazer a torcida feliz, e poder acreditar cada vez mais. Melhoramos como ser humano, e trabalhar cada vez mais forte. 

ESTILO DE SE RELACIONAR
– Essa de meu bruxo é que às vezes esqueço o nome das pessoas, e chamo carinhosamente assim. E o Fred começou por causa que eu falo grosso, firme, também tenho uma esposa loira. Quando você é bem recebido como agora, tudo tende a fluir mais naturalmente e dá ainda mais motivação. O passado me trouxe aqui, mas se eu só viver do passado e não trabalhar, não adianta nada. É ser franco e transparente com os jogadores. Fazemos o ambiente cobrando muito, mas sempre sendo verdadeiros. É chegar e falar a real.

COMO LIDAR COM PROBLEMAS
– Aprendi que roupa suja se lava em casa. Se externar, o problema aumenta. Agora dentro do vestiário, olhando no olho, você vai entender o recado. É assim que a gente trabalha. Pressão sempre vai existir, ainda mais aqui na Ponte. Vou fazer de tudo para melhorar as coisas.

Globo Esporte

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