Atletas e confederações temem "vacas magras" para esporte após Rio-2016

(Foto: Sam Greenwood/Getty Images)


A alegria do atirador Felipe Wu contrasta com sua preocupação. Ele conquistou há pouco mais de duas semanas a primeira medalha do Brasil nos Jogos Olímpicos de 2016: prata do tiro esportivo. Ainda celebra seu feito. Mesmo assim, no mês que vem, deixa de receber do governo federal a bolsa que representa cerca de 70% de sua renda como esportista. Não sabe quando voltará a recebê-la.

“O pagamento da Bolsa Pódio [programa do qual ele é beneficiário] acaba agora, independentemente do meu resultado”, disse ele. “Eu simplesmente não sei o que vai acontecer. Nem eu nem os outros atletas.”

O Bolsa Pódio pagou até R$ 15 mil por mês a 220 atletas brasileiros para que eles buscassem medalhas na Rio-2016. O programa foi a “cereja do bolo” de um plano de investimento recorde que aportou mais de R$ 3 bilhões em recursos públicos e de estatais no esporte olímpico nacional, de 2012 a 2016.

O valor foi 50% maior do que os cerca de R$ 2 bilhões investidos no ciclo olímpico passado, de 2008 a 2012. Foi tão grande devido ao objetivo do governo de fazer bonito nos primeiros Jogos Olímpicos realizados em casa.

Acontece que as competições acabaram no domingo (21). E, com o fim delas, veio a apreensão e o temor pela volta dos tempos de “vacas magras”.

“Estamos todos muito preocupados”, afirmou o presidente Alaor Azevedo, presidente da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa. “Metade do orçamento de nossa confederação depende do investimento direto do governo. Estamos aguardando para saber se esse dinheiro continuará chegando.”

“Estão todos aguardando”, ratificou o presidente da Confederação Brasileira de Levantamento de Peso, Enrique Monteiro Dias. “Nós ainda temos um patrocínio da Petrobras [estatal] até o final do ano. A partir daí tudo vai depender do plano do governo para os esportes olímpicos. Esse plano não está claro.”

Economia e momento político não ajudam
Segundo presidentes de confederações e atletas, a definição do plano de investimentos no esporte olímpico depende principalmente da situação econômica e política do país. Com o Brasil em recessão, é esperado que empresas estatais, grandes patrocinadoras do esporte, reduzam o valor destinado ao apoio a atletas.

Dirigentes esportivos também se preocupam com a instabilidade política e suas consequências sobre Ministério do Esporte. Alguns preocupam-se com a possibilidade de a pasta ser extinta após o fim da Paraolimpíada. Temem também um corte na verba destinada ao esporte por conta de decisões do governo.

Em junho, o ministro Leonardo Picciani, já suspendeu um edital de R$ 150 milhões que visava justamente a distribuir recursos a entidades ligadas ao esporte para garantir a continuidade de seus projetos após o fim da Rio-2016. No domingo, Picciani afirmou que o edital será relançado.

Meta é manter recursos
Picciani concedeu uma entrevista coletiva no último dia da Olimpíada. Foi questionado sobre as perspectivas de investimento para a preparação de atletas para Tóquio-2020. Disse que a intenção do governo é manter o valor dos investimentos públicos no esporte olímpico e aprimorar programas.

“A Olimpíada mostrou a necessidade de planejamento, de atletas disputarem provas em todos os continentes, frente aos melhores do mundo, para obterem bons resultados”, disse ele. “Vamos fazer uma análise detalhada dos programas do ministério, mas queremos ter um desempenho ainda melhor em Tóquio.”

Picciani também ressaltou que recessão econômica do país ainda é um problema a ser superado. “A gente precisa que a economia cresça para poder investir”, afirmou. 

Luiz Lima, secretário nacional de Alto Rendimento do Ministério do Esporte, confirmou que convívio entre o esporte e a crise econômica será desafiador. Ele afirmou no sábado, contudo, que o Bolsa Pódio não vai acabar. O programa será relançado ainda neste ano. “Temos que continuar com as ações que foram positivas, e o Bolsa Atleta e Pódio são algumas delas”, disse.

UOL Esporte

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