Robson Caetano leva tocha no escuro e corre devagar pela 1ª vez

(Foto: Reprodução)


O recordista sul-americano dos 100m rasos está sentado em um salão de Manaus ouvindo as instruções que ele precisará seguir para conduzir a chama dos Jogos Olímpicos pela segunda vez na vida. Ele carrega no rosto um sorriso gaiato.

“Vocês precisam correr, não pode andar devagar com a tocha na mão”, diz a moça da organização. “Pô”, protesta Robson Caetano, 51, os braços estendidos ao teto. “Eu passei a minha vida inteira correndo 200m rápido. Deixa eu ir devagar só dessa vez!”

Os outros condutores riem da bravata. E fica claro nesta tarde de domingo amazônico que Robson Caetano, medalha de bronze em Seul-1988 e Atlanta-1996, está se divertindo bastante. “O que importa é essa festa, essa diversão, é isso que a Olimpíada vai trazer para o Brasil”, disse ele depois.

Ele passou o dia todo dando entrevistas, posando para fotos, autografando camisas e abraçando crianças. Quando chegou sua vez de carregar a chama olímpica, uma coisa um pouco estranha aconteceu.

“Cara, isso aqui tá um breu!”, disse ele olhando para a imensidão do Rio Negro. “Ninguém vai ver o negão aqui. Só se eu estiver sorrindo.” Ele caminhava no meio de uma ponte centenas de metros acima das águas que mais adiante formarão o Amazonas.

Era uma ponte estaiada, enorme, de duas pistas largas e com passagens para pedestres dos dois lados. Apesar de seu gigantismo amazônico, a ponte carecia de lâmpadas. De acordo com os moradores, ladrões haviam roubado a fiação elétrica meses atrás e a deixaram no escuro. O governo não conseguiu resolver o problema, e a chama olímpica, nas mãos do condutor mais famoso do dia, precisou cruzá-la na penumbra.

As únicas luzes vinham dos flashes das câmeras que seguem Robson Caetano desde que ele virou uma celebridade nacional. “Quer tirar mais uma foto?”, pergunta ele de vez em quando, e a resposta é sempre positiva. “Dá um abração no tio”, ele pede a cada criança. Às vezes ganha um beijo também.

Quando chega sua vez de conduzir a chama, é ele quem beija a tocha, depois ergue o fogo ao alto e sai trotando em ritmo leve, tentando fazer o tempo correr mais devagar. Até que seus 200m de repente acabam e ele tem que passar o fogo adiante.

“Eu senti assim...”, tenta explicar depois, “naquela escuridão toda naquela ponte, o vento na cara... foi quase como o cara que vai carregar a última tocha, o cara que vai acender a pira olímpica no Maracanã. O estádio todo escuro, o povo em volta, aquela emoção toda...”

No dia seguinte, ele voltaria para casa, ao Rio de Janeiro, aonde a chama chegará apenas em agosto. Por enquanto, ela segue no Amazonas.

UOL Esporte

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