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Com o Brasil vivendo a famigerada crise econômica, além da histórica falta de apoio ao esporte no país, o Rally Dakar, uma das corridas mais tradicionais do mundo, contará pelo segundo ano seguido com apenas um brasileiro correndo nas motos: Jean Azevedo.
Não é para menos. A inscrição para a categoria pode até ser mais barata se comparada à dos carros e caminhões, mas mesmo assim custa 14.800 euros (aproximadamente 63 mil reais). Além disso, as equipes chegam a gastar mais de 200 mil reais com toda a estrutura que envolve ter um piloto no evento.
Jean Azevedo, porém, conseguiu garantir o seu lugar. Em sua 18ª participação no rali mais tradicional da temporada, o piloto de 41 anos da equipe Honda South American Rally Team tem um currículo extenso que lhe garante o suporte necessário para arcar com os custos elevados.
"Os valores são muito altos, e o apoio para as competições é difícil de encontrar aqui no Brasil", disse o paulista de São José dos Campos. "Eu ao menos faço parte da equipe Honda, mas sempre é complicado tentar um orçamento para participar do Dakar, a prova é muito cara. Ainda mais pela fase que o País atravessa, com as dificuldades financeiras que todo mundo sabe."
A corrida - que leva o nome da capital senegalesa, seu percurso original, mas hoje acontece na América do Sul - viveu um auge de popularidade nos anos 2000. A participação brasileira cresceu, e entre 2005 e 2010 só aumentou, chegando a bater recorde há cinco anos, com 24 inscritos.
A crise econômica europeia de 2011 afetou as terras tupiniquins e a quantidade de representantes do Brasil no Dakar foi gradualmente diminuindo. Como resultado, a edição 2015 teve o menor número de inscritos do País desde que o evento deixou a África, com apenas cinco.
A PROVA MAIS PERIGOSA DO ANO
Se os custos financeiros são altos, as exigências técnicas e físicas também são grandes. Como o próprio Jean Azevedo explica, o tamanho da prova e sua dificuldade aumentam o risco e os cuidados que devem ser tomados.
"Intensificamos bastante a parte física. São várias horas por dia andando de moto. Fui fazer uma corrida no Marrocos recentemente também como preparação. Tudo o que dá para fazer, a gente tenta. No Dakar é tudo mais."
É tudo "mais". Logo, o perigo também é maior. Desde que a corrida passou a acontecer no continente americano, em 2009, a média de mortes por edição é superior a uma - somando competidores, torcedores e todos os envolvidos no evento.
Em 2015, por exemplo, dois jornalistas argentinos faleceram após o veículo em que estavam cair num precipício na Cuesta del Clavijo, província argentina de Catamarca. Na terceira etapa, o polonês Michal Hernik, que tinha 39 anos e estreava no Dakar, foi encontrado morto ao lado de sua moto.
Isso não significa, no entanto, que os riscos fossem menores no Senegal. "Na parte técnica, a África exigia mais dos pilotos, eu gostava mais", revela Azevedo. "Mas, por causa dos constantes conflitos entre os países, é muito difícil a prova voltar para lá. Pela tranquilidade que tem na América do Sul, a gente prefere ficar por aqui."
Salientando que "é difícil controlar o ambiente", o brasileiro se diz sossegado em relação às fatalidades. "Eu tenho essa experiência de muitos anos, conheço muito bem o que eu posso fazer e não posso fazer. Lógico que essas coisas acontecem, mas eu tento não me colocar em risco."
Tranquilidade e experiência que dão alento à família do piloto. "Meus filhos estão acostumados, nasceram vendo o pai fazer isso, e minha mulher já me acompanha há muito tempo."
ESPERANÇA DE TÍTULO
Com a aposentadoria do espanhol Marc Coma, que se tornou diretor de prova do Dakar, e a mudança do francês Cyril Despres para os carros, o próximo vencedor das motos é uma incógnita. Isso porque os dois juntos venceram as últimas 10 edições do evento, com cinco títulos cada.
Nove vezes campeão brasileiro de rali cross-country e hexa campeão do Rally dos Sertões, Jean Azevedo tem esperanças. "Este ano vai estar em aberto. Pela primeira vez os dois vencedores não vão estar, não dá nem para indicar um nome."
Com seu melhor resultado sendo um 5º lugar geral em 2003, o brasileiro sabe que precisa fazer melhor do que nos últimos anos, depois de ter se aventurado entre os carros.
"2013 foi o retorno para as motos, uma readaptação. Em 2014, tive um problema mecânico no começo da prova e abandonei. Ano passado era uma equipe nova, tivemos que fazer um desenvolvimento ao longo do rali", explica.
O Rally Dakar começa neste sábado, na Argentina, com uma rota de apenas 10 quilômetros próxima a Buenos Aires que servirá para definir a largada da 1ª etapa. A corrida começa efetivamente no domingo e irá até o dia 16 de janeiro, quando os pilotos, após passarem pela Bolívia e retornarem ao solo argentino, cruzarão a linha de chegada na cidade de Rosário.
ESPN
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