(Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB) |
Começou nesta sexta-feira (15), no Parque Olímpico da Barra da Tijuca, o primeiro evento-teste dos Jogos Olímpicos Rio-2016 no ano. No entanto, não há disputa esportiva ou inauguração de arena que apareça entre os assuntos mais comentados do torneio de basquete feminino entre Argentina, Austrália, Brasil e Venezuela. Em uma competição que já estava esvaziada por outros motivos, o caos esportivo da seleção anfitriã virou o assunto mais relevante.
Em dezembro de 2015, os clubes que disputam a LBF (Liga de Basquete Feminino) romperam com a CBB (Confederação Brasileira de Basquete). Entre as reivindicações das equipes estava uma participação mais efetiva na gestão da seleção, o que não foi atendido.
Por causa do embate, os times resolveram boicotar o evento-teste e impediram que sete jogadoras convocadas pelo técnico Antônio Carlos Barbosa se apresentassem à equipe nacional. O treinador sofreu para fechar um elenco para o evento-teste – duas atletas foram convocadas às pressas, e o grupo só foi fechado durante os treinos.
"Acho que a reivindicação tem algumas coisas justas, mas fui um pouco contra a maneira e o momento. Os clubes estão pedindo um pouco mais de entrosamento e querem ser mais ouvidos, e nisso eles têm razão. Mas neste momento, proibir uma jogadora de vestir a camisa do país dela é um pouco cruel", avaliou a ex-jogadora Hortência.
"É um momento que a gente espera que passe logo", disse a também ex-jogadora Janeth. "Vejo egos. Quem abaixar um pouco mais vai ajudar a melhorar as coisas. Sempre achei que a conversa é o caminho", completou.
O principal problema para a seleção brasileira é que não há sinal de conciliação. Ao contrário: depois do evento-teste, a relação ruim entre CBB e clubes vai ser o tom da preparação do país para os Jogos Olímpicos.
"Não teremos mais convocações até acabar a temporada. Aí as jogadoras ficarão sem contratos e nós não teremos mais problemas. Acho que agora acabou. A história já foi", opinou Hortência.
Preparação? No Brasil, assunto é a crise
O evento-teste poderia ser um bom momento para o basquete feminino do Brasil conhecer a estrutura que será usada nos Jogos Olímpicos e medir forças com rivais de diferentes níveis. Na seleção verde-amarela, porém, não existe espaço para nada disso. O assunto é a crise.
Sete jogadoras convocadas para o evento-teste pediram dispensa por orientação de seus clubes. O esvaziamento foi o ápice de um conflito entre as equipes e a CBB sobre a gestão da equipe nacional.
Os seis times que disputam a LBF escancaram um litígio com a CBB em dezembro do ano passado. Insatisfeitos com a gestão da seleção, dirigentes dos clubes pediram mais participação e ameaçaram não liberar atletas para o evento-teste. Em meio a esse processo, antes mesmo de a debandada passar de ameaça a realidade, o técnico Luiz Augusto Zanon alegou problemas de saúde e se afastou do cargo.
Antônio Carlos Barbosa, escolhido para o lugar dele, tem 70 anos e havia deixado a seleção em 2007, depois de 20 anos trabalhando com a equipe nacional. A passagem atual é a terceira do treinador pelo cargo.
"Trabalhei com o Barbosa durante muito tempo. Foi uma pessoa muito bem indicada para este momento, que é de crise. É experiente, político e conhece bem as jogadoras. Foi um bom nome", avaliou Hortência.
Brasil precisou recorrer a desempregada para ter seleção completa
Barbosa teve de recorrer a uma desempregada para fechar o elenco do evento-teste. Julia de Carvalho, 28, que disputou o Paulista A2 pelo XV de Piracicaba e não renovou contrato, foi chamada para disputar o torneio no Rio de Janeiro.
Julia não entra em quadra desde dezembro, quando terminou o Paulista A2. A ala não teve contrato renovado e não recebeu qualquer proposta desde então.
Ele também contou com a iniciativa da pivô Clarissa, do Corinthians/Americana, que contrariou a decisão dos dirigentes e furou o boicote. "Fiz o que eu quero, que é defender a seleção brasileira e representar o basquete feminino", disse a atleta no dia 6 de janeiro.
Nem tudo serve como teste no evento-teste
O evento-teste marca a inauguração da Arena Carioca 1, que será o palco das partidas de basquete na Rio-2016. Entretanto, nem tudo que as atletas verão no Parque Olímpico servirá como parâmetro para os Jogos.
O placar eletrônico, por exemplo, foi colocado atrás das cestas para o evento-teste. Pelo posicionamento e pelo tamanho, o aparato criou uma série de pontos cegos.
Até os Jogos, a ideia do Comitê Rio-2016 é instalar um placar eletrônico no meio da quadra, preso no teto, similar ao que é usado na NBA (liga profissional de basquete dos Estados Unidos).
O placar, contudo, não é a única coisa que não servirá como teste. O torneio desta semana também será disputado com arquibancadas vazias – fechado ao público, o evento não teve venda de ingressos.
A identidade visual do ginásio também não é a que será usada nos Jogos, e a repercussão será menor. Ao contrário da Rio-2016, que será exibida em todo o planeta, o evento-teste não terá transmissão nem sequer nas TVs brasileiras.
Rivais podem não ser adversários nos Jogos Olímpicos
A Austrália, campeã da Oceania, já tem vaga assegurada nos Jogos Olímpicos de 2016. No caso das outras seleções que disputam o evento-teste, porém, a competição pode ser o mais próximo que elas chegarão do Rio de Janeiro neste ano.
Argentina e Venezuela ainda terão de passar por um Pré-Olímpico organizado pela Fiba, que será entre os dias 13 e 19 de junho deste ano. A competição terá 12 seleções de todo o planeta, e apenas as cinco primeiras terão vaga nos Jogos.
Austrália será rival na Rio-2016. Mas qual Austrália?
Ao contrário de Argentina e Venezuela, a Austrália já está garantida nos Jogos. No entanto, a seleção de basquete feminino da Oceania que está no Rio de Janeiro para o evento-teste está longe de ser a que vai disputar o torneio olímpico.
Das 12 jogadoras convocadas para o evento-teste, apenas seis fizeram parte do elenco que terminou o Mundial de 2014 na terceira posição. Entre as novatas, as australianas ainda perderam Tess Madgen, lesionada.
O destaque da seleção australiana é a armadora Erin Phillips, 30, que fez parte da equipe que venceu o Mundial de 2006 no Brasil. "Vai ser uma grande oportunidade para conhecer a arena e saber como as coisas funcionam por aqui", disse a jogadora.
UOL Esporte
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