Desde o começo de novembro, torcedores de dezenas de clubes pequenos do futebol paulistas convivem com a expectativa de ver suas equipes – muitas delas inclusive inativas – novamente em ação. O motivo: a notícia da criação de uma liga, que resultaria em um torneio para os nanicos em questão a partir de 2016. Pode acontecer?
Sim, pode. E a movimentação nos bastidores para que a competição saia do papel é grande. A Liga de Futebol Paulista, entidade que pretende regulamentar o torneio, foi oficialmente criada na última terça-feira, em reunião na sede da Secretaria de Estado de Esporte, Lazer e Juventude (Selj-SP), em São Paulo. No evento, estiveram presentes Jean Madeira (PRB), titular da secretaria, e Gislaine Nunes, advogada que encabeça a Liga, além de representantes de 20 clubes interessados.
"O caminho único para o futebol é a organização de ligas. Isto, em nosso futebol brasileiro, será futuramente inevitável. Portanto, saímos na frente", contou Gislaine Nunes ao UOL Esporte por e-mail. Ela afirma ter sido procurara há quatro meses por um grupo que representava os clubes, para que pudesse estar à frente da Liga de Futebol Paulista.
A ideia da entidade – que vem sendo articulada há pelo menos dois anos – é reunir equipes que estão afastadas das competições profissionais, embora não se descarte a participação de times que disputaram em 2015 a última das quatro divisões do Campeonato Paulista. A ideia é que a competição seja disputada entre 13 de maio e 3 de dezembro, paralelamente à última divisão paulista. A Liga de Futebol Paulista quer contar, inicialmente, com 40 times – divididos em duas chaves com 20 equipes cada na primeira fase. A pedido das equipes, haverá também disputas de categorias sub-16 e sub-18.
"Estamos em busca de clubes que estão licenciados, com licença vencida, extintos ou desativados no futebol da FPF, para resgatar o futebol no estado de São Paulo, para que estas equipes possam retornar suas atividades", contou Gislaine. "A Liga estará de portas abertas para receber não só equipes tradicionais que estão afastadas, como novas equipes, que são escolinhas e tem um trabalho na base com garotos estão nos procurando fazendo o pedido para filiação profissional", contou.
Equipes como XV de Jaú, Francana e União São João eram esperadas entre os signatários. Na reunião da terça-feira, porém, os signatários foram: ADA (Araraquara), Bebedouro, Bertioga, EC Osasco, Guariba, Jalesense (Jales), Tanabi, Votoraty (Votorantim). Botucatu, Corinthians (Presidente Prudente), Cotia, Dourado (São Carlos), Embu das Artes, Força (São Paulo), Guaçuano (Mogi-Guaçu), Jaboticabal, Monte Aprazível, Paulistânia (São Carlos), Rio Branco (Ibitinga) e Talentos 10 (Bauru) também já teriam acordos de associação. As equipes vão desde times que disputaram a quarta divisão nos últimos anos, passando por equipes afastadas do futebol profissional, até projetos que cidades demonstraram interesse em levar adiante.
O Tanabi, por exemplo, afirmou que não tem "interesse nenhum" em disputar a Liga em 2016 – palavras do presidente do clube, Irineu Alves. Mesmo assim, participou da reunião da última terça-feira, assinando a ata de fundação da entidade, para dar seu apoio e levar o projeto a cidades vizinhas.
"Fui convidado a participar da reunião através da secretário de esportes e do prefeito de Jales (respectivamente, Ademir Balero Molina e Nivaldo Batista Oliveira). Eles têm interesse em voltar ao futebol profissional", justificou Irineu. "Nós tínhamos uma reunião com o Doutor Reinaldo (Carneiro Bastos, presidente da FPF) na quarta-feira, e como eles iam participar, eles me convidaram para fazer o projeto", completou.
Embora tenha afirmado não ter a intenção de trocar a Segunda Divisão do Campeonato Paulista pela Liga do Futebol Paulista, Irineu não descarta a troca no futuro. E a própria FPF indica que não haverá represálias a quem disputar a competição paralela.
"Não há impedimentos para filiação à Liga, mesmo havendo participado da Segunda Divisão do Campeonato Paulista em 2015", explicou Gislaine Nunes, que foi além.
"Nós nos reunimos com o presidente Reinaldo Carneiro para apresentar a proposta da Liga. A princípio, ele nos passou que não tem nenhum tipo de objeção quanto à sua fundação - mesmo porque estamos amparados pela Lei 9.615/98 (Lei Pelé) em seu artigo 20. Os clubes são livres para se organizarem", completou. A advogada afirmou contar também com o apoio do Secretário Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor, Rogério Hamam, e do Ministério dos Esportes, que "nos ofereceu ajuda quanto à adesão dos clubes ao ProFut, e também apoio institucional e convênios com o Ministério".
A ideia é que a regulamentação jurídica da Liga esteja concluída na segunda quinzena de dezembro, com Conselho Arbitral com os clubes marcado para fevereiro. A entidade negocia a transmissão de seu torneio com dois canais de TV (um aberto e um fechado), além de discutir acordos com seis empresas privadas que entrariam como patrocinadoras. Nenhum nome, porém, foi revelado.
Pesa a favor das equipes interessadas o fato de a competição ter um regulamento menos exigente – no que se refere a estádios, por exemplo, os clubes terão que cumprir uma exigência de 3 mil lugares de capacidade, contra 5 mil da Segunda Divisão do Campeonato Paulista.
Por outro lado, não é raro que os times envolvidos tenham passado por dificuldades financeiras recentes, impedindo até mesmo a participação em torneios profissionais. Por isso mesmo, A Liga quer oferecer cursos de gestão esportiva aos clubes interessados, "evitando assim as gestões desastrosas como vemos em grandes equipes".
"Estas equipes não estão em atividades de competições profissionais, mas não se afastaram do futebol. Por toda a história, suas camisas e glórias, elas já estão movimentando torcidas, investidores, equipes técnicas e poder público onde estão sediadas", defendeu Gislaine. "A nossa preocupação agora não se detém apenas quanto ao financeiro e técnico, e sim, ao ressurgimento de equipes as quais já revelaram para nosso selecionado (brasileiro) grandes craques, e hoje estão à deriva. A Liga vem justamente ao socorro das mesmas, sendo parceira no renascimento - resultados técnicos e financeiros serão consequências", garantiu.
Outro ponto a ser debatido pela Liga é a possibilidade de o campeão ser premiado com vaga em outro torneio. A competição, por enquanto, prevê a disputa de uma divisão única – mas não está descartada, caso o torneio saia do papel e evolua, a possibilidade de acesso e descenso entre os times.
"A princípio, não teremos acesso para outra divisão, e nem vaga em outra competição. Porém, com o crescimento da Liga, tudo se amplia. Teremos brevemente uma divisão especial, sendo os melhores 20 colocados fazendo parte desta divisão", prevê a líder da Liga, que ainda não divulga a lista completa e oficial de participantes da competição para 2016.
"Teremos uma competição com 40 equipes e já temos a adesão de 70% dessas vagas preenchidas. Encaminhamos a relação de documentos e exigências para filiação profissional. Após a entrega da documentação, e sendo aprovadas nossas exigências, divulgaremos as equipes participantes", prometeu.
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