Após cinco altas seguidas, o dólar comercial fechou a última quarta-feira (23) valendo R$ 4,146 – recorde desde 1994, quando o Plano Real foi criado. O avanço de 55,94% da moeda norte-americana em 2015 é uma das principais marcas do momento econômico conturbado que o Brasil atravessa, mas nem todo mundo está preocupado. No comitê organizador dos Jogos Olímpicos de 2016, que serão realizados no Rio de Janeiro, cada elevação nesse índice não é motivo de tristeza.
O Comitê Rio-2016 não tem fins lucrativos, e por isso pode gastar tudo que arrecada. A maior parte dos custos da entidade é em Real, mas muitas receitas provêm de contratos em dólar – contribuição do COI (Comitê Olímpico Internacional), venda de direitos de mídia e patrocinadores internacionais, por exemplo. Só no último mês, a conversão monetária aumentou em R$ 400 milhões o orçamento da entidade.
"A maior parte das nossas receitas vem em dólar. A gente vai fazer Jogos no Brasil e vai receber dinheiro de fora. Então, o evento ganha mais com isso", disse Mario Andrada, diretor de comunicação da Rio-2016.
O orçamento do comitê organizador é responsável por custear administrativo e comercial (26%), tecnologia (19%), projetos de infraestrutura (13%) esportes e cerimônias (10%), acomodações (10%), serviços (8%), direitos de marketing e contingências (6%), transporte (4%) e engajamento (4%). A inflação decorrente da variação cambial foi distribuída nessas áreas.
"O lado dos atletas é mais complexo porque eles têm um budget em reais e vão ter de sair do Brasil para treinar ou competir, gastando em dólar. Para eles a vida ficou mais cara, e para nós ficou mais fácil", admitiu Andrada.
Curiosamente, contudo, o incremento orçamentário coincidiu com uma série de arrochos financeiros do Comitê Rio-2016. A entidade anunciou na terça-feira (22) que vai fazer uma cerimônia de abertura menos extravagante por causa da crise. Além disso, reduziu a proporção dos eventos-teste, nome dado a uma série de competições que servem como parâmetros organizacionais para os Jogos Olímpicos.
"A gente não é um bando de ETs e também sofre com o dólar subindo muito rápido, com o rating, com o rebaixamento de crédito, com tudo isso. A gente faz parte do Brasil. Não é que a gente vive numa ilha de dinheiro. É um pouco melhor por causa das nossas receitas, mas no geral a gente quer que essa crise passe logo e que o Brasil se estabilize para aproveitar melhor os Jogos", disse Andrada. "A gente já provou que não está atrasado. Então, é uma boa hora para dar uma geral no programa. Administrar essa jornada, tanto do aspecto financeiro quanto de mensagem e de público, é um sinal de maturidade. Se a gente puder economizar, melhor economizar", completou.
O orçamento do Comitê Rio-2016 é apenas uma parte do custo total das Olimpíadas. O orçamento total dos Jogos também inclui valores de arenas (R$ 6,67 bilhões) e legado (R$ 24,6 bilhões), atingindo um total de R$ 38,7 bilhões.
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