No fim de julho, a agência internacional AP publicou uma extensa reportagem falando sobre os riscos de saúde para quem compete na Baía de Guanabara. Segundo o texto, os níveis de vírus e bactérias presentes nas águas do local representam risco de saúde grave para os atletas que vão competir nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro – em 2016, o principal curso de água carioca será sede dos eventos de vela.
Na semana passada, uma barqueata reuniu ativistas, velejadores e pescadores pedindo a limpeza do local. O protesto contou, inclusive, com Isabel Swan, medalhista olímpica em Pequim-2008 que busca uma vaga no time do Brasil que vai aos Jogos (ao lado de Samuel Albrecht na classe Nacra 17). "O governo está trabalhando para limpar as áreas poluídas, mas queremos mais do que isso. Queremos um compromisso de que limparão toda a Baía", disse a atleta.
Na terça-feira, o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, admitiu que o Rio não vai conseguir cumprir as promessas de candidatura olímpica, que previam 80% do esgoto tratado até 2016. Segundo o governo, hoje, só metade do esgoto que chega à Guanabara é tratado. Ele afirmou que, com a conclusão de algumas obras já em execução, esse percentual pode chegar a 65% até a Olimpíada.
Atletas internacionais também protestam contra o lugar. A equipe da Alemanha, por exemplo, publicou que o local de provas é um depósito de lixo ("dump"). O velejador austríaco David Hussl, da classe 49er, disse que é comum ter problemas de saúde, principalmente febre e diarreia, durante os períodos de treino no Rio de Janeiro, mesmo tomando precauções (uma delas é limpar o rosto com água mineral sempre que levar jatos de água da baía no rosto). Membros da equipe inglesa de vela já disseram a jornais locais que existem recomendações de levar enxaguante bucal nos barcos durante os treinos, para limpeza em casos semelhantes.
No meio de tantas críticas e admissões dos problemas, a vela brasileira tenta sobreviver ao cenário. Segundo Marco Aurélio Sá Ribeiro, presidente da Confederação Brasileira de Vela, existem motivos esportivos por trás das críticas. E não apenas preocupações com a saúde. "A Baía de Guanabara é um local técnico para se velejar. Existem as correntes, o regime de ventos e as marés para se levar em conta a cada regata. Fora da baía, o vento é mais constante. Então, é mais simples. O que nós defendemos é que, aqui dentro, o vencedor será quem tem mais técnica. Lá fora, o vencedor pode ser quem tem o melhor equipamento ou maior força econômica. Por isso, estamos defendendo o local que privilegia o talento", completa Marco.
Não que isso justifique a competição em águas sujas, com sacolas plásticas, sofás flutuantes ou carcaças de animais. A questão é que casos assim devem ter uma incidência menor nos locais de competição por dois motivos. O primeiro é a ação emergencial que o Rio de Janeiro faz para recolher o lixo flutuante. Atualmente, ecobarcos recolhem lixo no local. E estão sendo espalhadas barreiras nos principais rios da região para evitar que detritos passem para a baía. O segundo é a época do ano: no inverno, chove pouco no Rio. E são as chuvas que fazem com que o lixo acumulado nas margens dos rios cheguem à baía. Com isso, o volume de detritos flutuantes costuma ser menor justamente no período dos jogos.
O UOL Esporte conferiu isso na segunda-feira – após quase uma semana sem chuvas no Rio de Janeiro. A convite da CBVela, a reportagem visitou a área de duas das três raias olímpicas dentro da Guanabara. Durante cerca de duas horas, apenas um copo de plástico e um pedaço pequeno de isopor foram avistados – a mancha de esgoto, que escorrem de um rio contaminado próximo da praia do Flamengo, porém, era marcante na água.
"Ninguém está negando que a Baía precisa ser limpa. Todos nós queremos isso. Mas existe uma diferença entre não cumprir a meta de despoluição e não ter um local que pode receber as provas. E, na região das raias, existem as condições para a disputa olímpica", defende Marco Aurélio.
O próximo teste do local começa no domingo, com a segunda edição do Aquece Rio de vela. A competição terá uma semana de duração e é disputada no mesmo período dos Jogos Olímpicos de 2016. Serão testadas as seis áreas de regata que serão usadas no ano que vem.
UOL Esporte
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