Pan ainda nem acabou, mas atletismo já deve para edições passadas

(Foto: Danilo Verpa/Folhapress)

O atletismo sempre foi uma mina de medalhas para o Brasil. Nos últimos dois Jogos Pan-Americanos, foram 23 pódios em cada. Em Toronto-2015, porém, a modalidade está devendo. Mesmo se o país repetir o desempenho das duas últimas edições e repetir, nas provas que restam, as medalhas que conquistou há quatro ou oito anos, seria suficiente para, no máximo, igualar o número de conquistas.

Em Guadalajara-2011, por exemplo, foram 11 medalhas nos 19 eventos que ainda serão disputados em Toronto-2015. No Rio-2007 já foram 13. O problema é que, nessa lista, estão provas em que os brasileiros deixaram de ser favoritos. E ainda estão enfrentando rivais mais poderosos.

É o caso dos revezamentos 4x100m rasos. Há quatro anos, o Brasil foi ouro tanto no feminino, quanto no masculino. Mas em 2015, nenhum homem do país foi às finais dos 100m ou 200m. E entre as mulheres, Ana Cláudia Lemos se machucou nas eliminatórias dos 200m e está fora da disputa.

Além disso, com o Mundial de Pequim marcado para agosto, as equipes que estão correndo em Toronto chegaram muito fortes – bem diferente do que ocorreu em 2011, quando o Pan foi em outubro e o Mundial de Daegu, em agosto. Nos 100m masculinos, por exemplo, quatro atletas correram abaixo dos 10 segundos. Nenhum deles teve a marca reconhecida, por causa da velocidade alta do vento no estádio. O número, porém, é significativo: nenhum brasileiro quebrou essa barreira na história.

"O Pan está muito forte. Estão todos correndo muito. O Mundial no mês que vem ajuda. Está bem complicado", admite Bruno Lins Tenório, um dos mais experientes velocistas do Brasil. Ele é a grande esperança verde-amarela para defender uma tradição: nos últimos quatro Jogos Pan-Americanos, o Brasil levou o ouro no 4x100m.

Em outras provas em que o Brasil sempre foi ao pódio, os nomes também estão longe de serem favoritos. Nos 5000m masculino, por exemplo, o país tem sete medalhas nas últimas cinco edições do Pan. Mas o dono da melhor marca da delegação brasileira, Altobeli da Silva, não aparece nem entre os 150 melhores do mundo. Pelo menos 30 corredores das Américas, entre norte-americanos, canadenses, mexicanos e jamaicanos, tem tempos melhores do que o do brasileiro em 2015.

Além disso, o Brasil já perdeu medalhas que eram certas há alguns anos. Nos 10.000m, a série brasileira contava com sete medalhas nos últimos cinco Jogos (incluindo duas dobradinhas) no masculino e dois pódios seguidos no feminino. Os brasileiros ficaram fora dos três melhores nas duas. O mesmo aconteceu nos 800m, quatro medalhas nos últimos três Pans, zerado em Toronto.

Atletas em que todos apostavam também saíram sem medalha da pista da Universidade de York, onde está sendo disputada a competição. Foi assim com Thiago Brás, dono da segunda melhor marca do mundo em 2015 no salto com vara, ou Geisa Arcanjo, medalhista em mundiais menores no arremesso de peso.

A conta, aliás, só não está pior porque a delegação encontrou medalhas em provas que não costuma vencer antes. É o caso da marcha atlética de 20km, que levou dois ao pódio (Érica de Sena, prata no feminino, e Caio Bonfim, bronze no masculino) pela primeira vez desde 1991. Ou o dardo feminino (bronze de Jucilene de Lima).

Tudo isso, entremeado por reclamações de falta de estrutura. Aldemir Gomes, o outro atleta dos 200m, foi um deles. Morador da Ilha do Governador, ele leva duas horas para ir e voltar de sua casa até o local de treino, usando transporte público. E ainda pode perder esse local de treinamento. O Centro Desportivo da Aeronáutica era sede de um CT nacional de atletismo, uma parceria entre o Ministério do Esporte e a CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo) que não foi renovada. O local corre o risco de fechar as portas.

"É até antidesportivo pensar que estamos aqui, com tudo o que a gente enfrenta no dia a dia. Eu gasto duas horas para ir para a pista e duas horas para voltar. Pego trânsito. É difícil treinar com qualidade assim", diz Aldemir, que deve estar no time dos 4x100m que defende o tetracampeonato continental.

O caso é parecido com o Flávia de Lima, surpresa com o bronze nos 800m feminino. Moradora do Paraná, ela foi aos 17 anos para Uberlândia. Hoje, aos 22, está de mudança novamente, agora para Manaus, já que o CT mineiro está na mesma situação do carioca. Mesmo assim, ela mostrou talento para conseguir o primeiro pódio do Brasil em sua prova desde 1995.

Se você quiser torcer para o Brasil, existe uma aposta quase certeira para o pódio nos próximos dias. Na maratona masculina, o país ganhou as últimas quatro edições e foi ao pódio em cinco. Um dos representantes nacionais é Franck Caldeira, campeão do Pan de 2007.

UOL Esporte