O Brasil não disputa o polo aquático masculino nos Jogos Olímpicos há mais de 20 anos. Nem mesmo no Pan, com as potências europeias distantes, o sucesso aparece: o único ouro verde-amarelo veio em 1963, nos Jogos de São Paulo. Mesmo assim, uma medalha olímpica nos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016, é uma possibilidade real. E ninguém está louco, sonhando alto demais ou tentando aparecer ao dizer isso.
Existe um projeto traçado para o pódio. Com respaldo de especialistas, nomes respeitados internacionalmente e exemplos de sucesso dentro e fora das piscinas. Mesmo em uma modalidade com pouca tradição por aqui, a seleção masculina pode chegar ao Rio-2016 com um time que soma dez medalhas olímpicas (quatro delas de ouro) e cinco títulos mundiais (além de mais cinco pódios no torneio).
O plano tem três pilares básicos: um técnico de alto nível (o tetracampeão olímpico Ratko Rudic), a importação de atletas (entre eles, o brasileiro que defendia a Espanha Felipe Perrone) e um plano de treinamento extremo (que vai levar um time para a Europa entre 2015 e 2016 para mais de 50 partidas de preparação para os Jogos Olímpicos).
Técnico tetracampeão olímpico é base do plano
O primeiro ponto do projeto do polo brasileiro é o comando. E o escolhido é o maior técnico de polo aquático do planeta. Desde que virou treinador, o croata Ratko Rudic (vice-campeão olímpico como jogador, em 1980) soma 36 medalhas em torneios internacionais, incluindo quatro ouros olímpicos e três títulos mundiais. Mais importante: conseguiu transformar em melhor do mundo três seleções diferentes. Foi campeão olímpico e mundial com Iugoslávia (ouro olímpico em 1984 e 1988 e mundial em 1986), Itália (1992 e 1994) e Croácia (2012 e 2007) – sem contar o bronze em 1996 com os italianos.
Ou seja: não é apenas um técnico vencedor, mas alguém capaz de trabalhar com diferentes culturas e estágios de desenvolvimento do esporte. Para o COB (Comitê Olímpico do Brasil) e a CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), era justamente isso que o Brasil precisava.
Importação de atletas é realidade. Principalmente se já são brasileiros
A presença de Ratko Rudic no projeto olímpico teve um efeito: atrair talentos para a seleção brasileira. Hoje, o principal nome do time é Felipe Perrone. Nascido no Rio de Janeiro, ele passou a defender a seleção da Espanha aos 17 anos e foi vice-campeão mundial em 2009. Chegou a ser artilheiro e eleito o melhor jogador da liga espanhola antes de decidir voltar a defender o Brasil – hoje, é atleta do Fluminense.
Além dele, o time tem outros três naturalizados. Adriá Delgado é espanhol, mas filho de brasileiros. Felipe Salemi é italiano, com família brasileira. Os dois defenderam seleções europeias em categorias menores, mas optaram pelo Brasil no time adulto. O terceiro é o cubano Ives Gonzales, casado com uma brasileira, que acaba de conseguir o passaporte verde-amarelo.
O sonho, porém, envolve ainda mais importações. Os dois principais alvos são Tony Azevedo, dos EUA, e Pietro Figlioli, que já defendeu Austrália e Itália. Ambos nasceram no Brasil. O primeiro, foi para os EUA ainda bebê, se tornou um dos principais jogadores da modalidade no mundo e foi o capitão da seleção norte-americana no vice-campeonato olímpico de 2008 – além disso, defende, desde 2013, o Sesi, de São Paulo. O segundo é filho do ex-recordista mundial dos 100m livre José Fiolo, que disputou três Olimpíadas pelo Brasil. Nascido no Rio, ele se mudou para a Austrália com a família aos três anos e jogou duas Olimpíadas pelo país. Em 2009, passou a defender a Itália, para ser campeão mundial em 2011 e vice-campeão olímpico em 2012. Aos 30 anos, é considerado um dos melhores do mundo.
Os dois, porém, ainda não sinalizaram positivamente ao convite brasileiro, apesar dos esforços da diretoria da CBDA. Mais próximos estão outros dois alvos: o goleiro sérvio Slobodan Soro, um dos melhores do mundo na posição, e o central croata Josep Vrilic. Soro foi campeão mundial em 2009 e tem ainda duas medalhas olímpicas (2008 e 2012) – Vrilic não fazia parte da seleção croata em 2012, mas foi assediado por clubes europeus antes de fechar com o Fluminense. A dupla veio ao país junto com Perrone e está no meio do processo de naturalização. Rudic, inclusive, tem convocado os dois para a seleção brasileira, como convidados.
Seleção vai jogar a Liga Adriática, a mais forte do mundo
Com um técnico contratado e um time convocado, o terceiro pilar do projeto é a experiência em competição. A aposta é a Liga Adriática, que reúne países da ex-Iugoslávia e é uma das principais competições de clubes do planeta. A seleção brasileira foi convidada para disputar o torneio e ficará na Europa por seis meses, entre 2015 e 2016. Serão 20 partidas contra clubes e mais 30 encontros contra seleções.
"É claro que estamos falando de esporte e não podemos garantir um resultado. Mas todos confiam no trabalho que está sendo realizado. Temos um grande técnico, grandes jogadores e a participação na Liga Adriática, que é fundamental. Precisamos de um resultado para criar ídolos. E acho que estamos em uma posição para conseguir isso. O Perrone já veio, agora queremos convencer os outros dois (Tony Azevedo e Pietro Figlioli). Mas, mesmo sem eles, ainda assim temos um time com muito potencial, que pode, sim, chegar aos Jogos com chance", analisa o diretor de polo aquático da CBDA, Marcos Maynard.
Fora do polo, existem exemplos que ajudam os brasileiros a sonhar com um resultado surpreendente nos Jogos Olímpicos. No futebol, a Coreia do Sul usou a força da torcida (e uma ajudinha da arbitragem) para chegar à semifinal da Copa do Mundo de 2002.
No handebol, o Qatar adotou um projeto parecido com o do Brasil, mas muito mais radical. Quando o país recebeu o direito de sediar o Mundial de 2015, a confederação passou a procurar jogadores de elite da Europa para naturalizar. Quando o torneio começou, a base do time era naturalizada, com sete dos 15 inscritos pelo Qatar nascidos fora do país. Um desses, o goleiro Daniel Saric, nunca tinha pisado por lá antes do Mundial. O resultado, porém, foi histórico: o time foi vice-campeão mundial, se tornando a primeira seleção não-europeia a atingir a final do torneio.
UOL Esporte
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