Palmeiras e Red Bull Brasil disputaram amistoso no último domingo (25), em São Paulo. Não para o canal fechado Sportv, parte das Organizações Globo, que exibiu a partida ao vivo. Na principal parceira de mídia do futebol brasileiro, o adversário alviverde virou "RB Brasil" e o nome da empresa foi apagado do escudo, resultados de uma política restritiva a marcas. O padrão será repetido no Campeonato Paulista de 2015 – o time criado pela fabricante austríaca de bebidas energéticas vai debutar na elite estadual. E ninguém na diretoria da equipe está preocupado com isso.
"Não faz diferença para nós. Vamos seguir trabalhando do mesmo jeito", resumiu Rodolfo Kussarev, presidente do Red Bull Brasil, em entrevista concedida ao UOL Esporte no dia 3 de novembro de 2014, data do sorteio dos grupos do Campeonato Paulista de 2015. Àquela altura, o veto já era tratado como uma questão natural na equipe.
A Red Bull não teve qualquer conversa com a Globo para pleitear o uso do nome oficial do clube. "Nós entendemos que essa é uma questão importante, sim, mas é apenas um dos aspectos do envolvimento da marca com o futebol. Não fazemos isso apenas para que as pessoas falem a marca nas transmissões. Há um sentido muito maior", ponderou Kussarev. A emissora não comenta oficialmente a política de restrição a marcas.
Criado pela empresa de bebidas energéticas em 2007, o Red Bull Brasil teve orçamento em torno de R$ 35 milhões no ano passado. O time paulista manda jogos no estádio Moisés Lucarelli, que é da Ponte Preta e fica em Campinas, mas conta com um centro de treinamento próprio, com 600 mil metros quadrados, situado em Jarinu.
"Nosso nome é 'Red Bull Brasil' e não 'RBB', 'RB Brasil' ou 'RB Campinas'. Apesar de amarmos nossa casa campineira, trazemos com orgulho no distintivo o nome do nosso país", diz um texto publicado no site oficial do clube.
Ainda assim, há dois fatores que minimizam a mudança imposta pela Globo ao nome. Um deles é a experiência: a empresa já teve de lidar com políticas restritivas no Brasil e em outros países. O outro é perfil da companhia, que tem assumido há anos o controle sobre a disseminação de seus conteúdos.
Quanto à experiência, há dois exemplos mais evidentes. Um deles é do próprio futebol: o RB Leipzig, criado em 2009, que atualmente disputa a segunda divisão do Campeonato Alemão. A federação local (DFB, na sigla em alemão) tem uma regra que proíbe uso de marcas no nome de equipes.
"Temos o exemplo da Alemanha, e isso nunca impediu a marca de trabalhar e ser bem sucedida no futebol de lá. Respeitamos as regras do jogo, mas sabemos que há uma série de formas de trabalhar nesse cenário", completou Kussarev.
A lógica da Red Bull é que outros atributos são tão relevantes quanto a divulgação do nome. Há aspectos como a criação de um conceito de evento e o alto rendimento, por exemplo. No domingo, o amistoso contra o Palmeiras teve organização da empresa e foi precedido por eventos como apresentações de motocross e paraquedismo.
"Também tivemos essa questão [de restrição na Globo] na Fórmula 1, mas o bom desempenho ao longo dos anos fez com que a marca tivesse repercussão", lembrou o presidente do Red Bull Brasil. Nas transmissões automobilísticas do canal brasileiro, a Red Bull Racing virou RBR inicialmente. No entanto, narradores – Galvão Bueno, principalmente – já adotaram a nomenclatura oficial nas últimas temporadas.
Dona da própria mídia, Red Bull depende menos
Outro fator relevante nessa discussão sobre a Red Bull é o comportamento da própria empresa sobre a mídia. E aí existe um ponto nevrálgico, que foi a criação do RBMH (Red Bull Media House). Lançado na Europa em 2007, o braço da companhia é responsável por produção de conteúdo.
O RBMH produz fotos e vídeos que são disseminados gratuitamente, mas também é a origem de produtos como a revista "The Red Bulletin", com tiragem global de cinco milhões de exemplares, e o filme "A arte do voo", produção que custou US$ 2 milhões e foi colocada à venda no iTunes em 2011, gerando US$ 10 à empresa a cada download.
Criada pelo austríaco Dietrich Mateschitz, a Red Bull balizou uma nova categoria no segmento de bebidas. Em 2011, segundo o relatório "Symphony IRI", a empresa detinha 44% do mercado de energéticos e vendia 4,6 bilhões de latas por ano. O esporte tem papel fundamental nisso – foram US$ 300 milhões investidos nessa seara em 2006, por exemplo.
A estrutura da Red Bull no Brasil também contempla produção própria de conteúdo. Com esse modelo, a empresa controla sua própria mídia e se tornou menos dependente de outros canais.
UOL Esporte
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