Há alguns anos, o piloto de rali Guilherme Spinelli desembarcava em um aeroporto na Argentina quando chamou a atenção de um agente da Polícia Federal do país. Ao ver o nome do brasileiro em seu passaporte, o homem lhe disse: "Boa sorte este ano com a equipe! Parabéns pelo décimo lugar na edição passada. Esse ano será melhor!" O reconhecimento surpreendeu Spinelli, que lembra até hoje do episódio.
"Isso foi muito interessante. Ele sabia meu nome, o número do meu carro, o nome do meu navegador e por aí vai", relembra Spinelli ao UOL Esporte. O piloto de carros da Mitsubishi Petrobras é um dos cinco brasileiros que estão disputando o Rally Dakar, que teve a largada promocional em Buenos Aires, no último sábado (3).
A mesma empolgação é relatada por Jean Azevedo, que compete na categoria motos, pela Honda South America. "A recepção do público é muito legal. O povo argentino é fanático, eles pulam na frente, querem tocar nos pilotos", descreve. "O Dakar aqui na Argentina tem milhões de pessoas pelas ruas, não só em Buenos aires, mas em todo o trajeto. São 'corredores humanos' que ficam acompanhando e isso é muito legal. Dá um ânimo para os pilotos".
Esta é a 37ª edição do Dakar, e a sétima realizada na América do Sul. A prova, que começou na Argentina, chegará nesta quarta-feira ao Chile, e ainda passará pela Bolívia antes de seu encerramento, novamente em Buenos Aires, no dia 17.
Inicialmente realizado na África, o Rally Dakar ganhou milhões de seguidores na América do Sul, especialmente na Argentina. Em 2014, contou com um público de 3,9 milhões de pessoas: 2,5 milhões de argentinos, um milhão de chilenos e 410 mil bolivianos. Naquela edição, um milhão de pessoas tomou as ruas da cidade de Rosario para a largada promocional, e as autoridades estimam que o número se repetiu na largada deste ano, mesmo debaixo de sol forte.
Com tanta empolgação dos argentinos, Azevedo e Spinelli acabam sendo mais reconhecidos lá do que aqui. "O argentino tem uma cultura com o esporte a motor, no Brasil a gente não tem tanto, né? Acho que talvez, aqui na Argentina, a mídia dê muito mais espaço para o esporte a motor do que no Brasil. Com isso, o povo argentino com certeza é muito mais fanático, acompanha muito mais do que no Brasil", opina Azevedo.
"A recepção é mais intensa", concorda Spinelli. "Claro que no Brasil também há fãs de rali e conhecedores do assunto, mas na Argentina eles são fascinados pelo automobilismo. Isso os torna mais atentos ao rali. O Dakar reforçou isso nos últimos anos", acredita. O piloto destaca também fãs chilenos. "No Chile, as pessoas também vão às ruas e acompanham bastante a prova. Mas na Argentina é mais intenso", relata.
Além de Azevedo e Spinelli, outros três brasileiros estão disputando o Rally Dakar: o navegador Youssef Haddad, que forma dupla com Spinelli na Mitsubishi Petrobras; o também navegador Eduardo Sachs, parceiro do português Ricardo Leal pela equipe Bamp, nos carros; e André Suguita, que disputa a categoria quadriciclos, pela equipe Mazzucco Rally Raid Team Can-Am.
Dakar no Brasil?
Tamanho sucesso na América do Sul pode fazer os fãs de rali sonharem com etapas do Dakar por aqui. Azevedo aposta nessa hipótese: "Acho que sim, a A.S.O. [Amaury Sport Organisation, organizadora do evento] já vem com essa ideia há algum tempo, eles estão tentando. Com certeza o Dakar vai permanecer na América do Sul ainda por muitos anos, e eu acho que num futuro próximo ele deve estar passando no Brasil também", acredita.
Azevedo fala com carinho da possibilidade, lembrando suas primeiras provas de Dakar, disputadas na África do Sul. "Para mim não existia essa ideia… O Dakar na América do Sul já era impossível para quem corria na África, não existia essa possibilidade. E agora, se ele puder passar pelo Brasil… Imagina! É um sonho, né?", pondera, sorrindo.
É fácil entender o sonho de Azevedo, olhando seu currículo. O piloto é um veterano dos ralis: aos 40 anos de idade (e 28 de carreira), disputará o Dakar pela 17ª vez. Sua primeira edição foi em 1996, quando a prova ainda era disputada na África, e desde então não correu apenas em 99, 2000 e 2002. Em 2003, conquistou sua melhor posição, um 5º lugar na classificação geral entre as motos. No Brasil, já venceu cinco vezes o Rally dos Sertões, principal competição off-road do país.
UOL Esporte
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