Anfitrião do Mundial Masculino de handebol e forte candidato para chegar a uma inédita semifinal, o Qatar, que enfrenta a Alemanha às 13h30 desta quarta-feira em duelo das quartas de final, conta em suas fileiras com um jogador que possui laços estreitos com o Brasil. Foi o país que lhe serviu de refúgio em 2007, quando durante os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro desertou da delegação cubana.
Rafael Capote tinha somente 20 anos à época e era considerado uma das grandes promessas da modalidade na ilha de Fidel Castro. Sua fuga da Vila Pan-Americana, em Jacarepaguá, teve contornos cinematográficos e uma viagem de táxi do Rio para São Caetano do Sul (SP) que lhe custou US$ 300 (R$ 565 na cotação da época).
Na noite do dia 11 de julho, dois dias antes da cerimônia de abertura, chovia muito e a maior parte da delegação de Cuba - inclusive os seguranças responsáveis por vigiar possíveis desertores estavam em seu quartos. Foi a brecha encontrada para escapar.
"Aproveitei e fugi por debaixo de uma cerca. E corri. Corri muito. Falei com um motorista, e ele disse que, àquela hora (por volta das 23h), o mais seguro seria um táxi", disse Capote em reportagem publicada pela Folha de S. Paulo em 2 de agosto de 2007.
A fuga teve como destino a casa do amigo cubano Michel, que havia desertado em 2005 e estava defendendo o Imes/São Caetano, equipe que foi a casa de Capote nos poucos meses que passou no Brasil.
"Em um dia comum de treino, chego no ginásio e lá está ele (Capote) com o Michel. Conversamos e ele disse que queria jogar conosco. Falei que sim, mas, que ele tinha que 'sumir' por uns tempos, pois, o pessoal iria comunicar seu paradeiro e ele poderia ter que voltar, como aconteceu com os lutadores de boxe que também desertaram no Pan. Um atleta nosso tinha um amigo com uma chácara no interior e ele ficou lá por um tempo até podermos trazê-lo de volta. Com isso ele jogou conosco o final da temporada em 2007. Em 2008, fez excelente pré-temporada e começou o ano jogando pela equipe júnior e adulta de São Caetano. Em julho, após os Jogos Regionais, ele se transferiu para a Itália", contou ao UOL Esporte Washington Nunes, treinador do cubano no Imes e atual integrante da comissão técnica da seleção brasileira.
Hoje, quase oito anos mais tarde, com muito mais experiência em seu currículo, e sem precisar viver como um asilado político ou fugindo das autoridades do país, Capote deixou para trás o status de promessa para se tornar realidade. No Qatar, encontrou as condições ideais para viver e seguir se destacando no cenário internacional do handebol após passagens por clubes do primeiro escalão da Itália e da Espanha.
Desde o fim de 2013, defende o Al Jaish, no qual recebe cerca de 300 mil euros (R$ 877 mil) por temporada, e foi um dos vários escolhidos pela federação local para se naturalizar a fim de fortalecer a equipe para não fazer feio como anfitriã do Mundial.
E até o momento, Capote tem correspondido à altura da confiança depositada pelos milionários qatarianos. Com 28 gols anotados em seis partidas, é o vice artilheiro da seleção. Sua atuação mais destacada foi em duelo contra a Eslovênia, ainda na primeira fase. Na partida que assegurou a classificação para as oitavas de final, o lateral direito anotou 12 gols no triunfo por 31 a 29.
No último domingo, no jogo das oitavas de final contra a Áustria novamente foi eleito o melhor em quadra. Fez sete gols na vitória por 29 a 27.
"Ele sempre foi um jogador de muita força. Como era jovem, precisava melhorar outras características do jogo, mas, o arremesso já era muito forte. Hoje, está marcando muito bem e com maior versatilidade nos arremessos", disse Washington Nunes, que ,se reencontrou com o cubano na estreia do Brasil, quando a equipe nacional caiu ante o Qatar por 28 a 23.
Capote em duelo contra a seleção brasileira. Ele encara a marcação de Zeba, com quem jogou em São Caetano
"Foi muito legal (reencontrá-lo). Ele agora já é um jogador consagrado, mas, antes do aquecimento veio conversar comigo, me deu um grande abraço e perguntou sobre as pessoas de São Caetano", disse Nunes.
O treinador diz que nunca pensou em naturalizar Capote brasileiro, mesmo porque não teve nem o tempo suficiente para isso.
"Como ele apareceu para jogar no final de 2007, iniciou-se um processo para que tivesse documentação para estar no Brasil poder trabalhar. Quando tudo corria bem, ele saiu para a Itália. Talvez se tivesse ficado alguns anos conosco, poderíamos pensar nisso, mas, naquele momento não houve nenhum pensamento a respeito", concluiu.
Confira todos os jogos das quartas de final do Mundial:
Hoje
13h30 - Croácia x Polônia
13h30 - Qatar x Alemanha
16h - Eslovênia x França
16h - Dinamarca x Espanha
UOL Esporte
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