Quando morava no Rio de Janeiro, Diego Hypolito ia à praia todos os dias. Almoçava em casa, vivia com a família. Era feliz. No fim de 2013, veio a mudança para São Paulo. Demitido do Flamengo, sem um ginásio para chamar de seu, recebeu autorização para treinar no Pinheiros, na zona sul de São Paulo. De favor. Não deu certo.
"Todos os dias da minha vida eu encontrava tempo para dar um mergulho na praia. E isso foi uma coisa que eu senti muita falta quando mudei para São Paulo. A vida aqui é diferente. Primeiramente, achei muito difícil. Eu não conseguia viver nessa loucura que é são Paulo. Você pode fazer de tudo, todos os dias. Mas eu vivia em um cubículo, do lado do ginásio, não saía", conta o atleta.
Foi nesse período que ele viveu o pior momento de sua vida. Teve depressão profunda, foi hospitalizado e não tinha energia para reagir. Perdeu dez quilos, não treinava. "Tinha medo de entrar no elevador, de voar de avião, de entrar no carro, de dirigir. Tudo me deixava em um estado de ansiedade muito grande. Eu entrava em desespero", admite.
Hoje, esse pesadelo é passado. Diego é um exemplo de como o esporte pode ajudar em doenças como a que ele teve. Nove anos depois de conquistar sua primeira medalha em campeonatos mundiais, voltou ao pódio: foi bronze no solo. Retomou seu lugar entre as estrelas do esporte brasileiro. Em uma longa conversa com o UOL Esporte, falou sobre a mudança de cidade, o desafio de superar a depressão, seu papel na ginástica brasileira atualmente e a sonhada medalha em 2016. Confira:
Rio x São Paulo
Minha vida no Rio era sempre a mesma. Treinava, comia em casa. Todos os dias da minha vida encontrava tempo para dar um mergulho na praia. E isso foi uma coisa que eu senti muita falta quando mudei para São Paulo. A vida aqui é diferente. Primeiramente, achei muito difícil. Eu não conseguia viver nessa loucura que é são Paulo. Você pode fazer de tudo, todos os dias. Mas eu vivia em um cubículo, do lado do ginásio, não saía. Para ir de carro para qualquer lugar, só depois das 21h, por causa do trânsito.
Quando vi que tudo estava desorganizado, percebi que precisava de uma rotina mais saudável. Foi quando tive proposta de outros clubes. Optei por São Bernardo pela visão de cidade pequena, mas muito bem estruturada. Tem menos trânsito, você conhece todo mundo. Eu vou à padaria e converso com as pessoas, almoço com minha vizinha. Em São Paulo, não tinha nada disso. E eu ainda estou a 40 minutos da praia, se quiser. Estou ambientado. É um conceito de família. Hoje, me sinto em casa. Tanto que, quando volto ao Rio, me sinto de férias. E ainda tem toda uma equipe por trás. Com psicólogo, nutricionista, empresário, assessor. A contratação por São Bernardo me reergueu.
A depressão
Aconteceu nesse período de mudança do Rio para São Paulo, quando desorganizou tudo. Eu não tinha controle sobre nada. Temos o hábito de achar que somos invencíveis, mas ficava um caminhão de problemas na cabeça e não conseguia resolver nada. E nesta história, eu tinha de treinar. E é difícil ter motivação quando você está em um clube de favor, sem patrocínio, morando em um cubículo, longe da família. Eu não conseguia me acostumar à cidade. São milhões de coisas que atrapalham.
Cheguei a tomar antidepressivos. Remédios fortes. Eu só dormia. Não podia treinar. Acho que esses remédios nunca ajudaram. Um dia, pensei: O que estou fazendo da minha vida? Voltei a treinar. Eu tinha emagrecido dez quilos com a internação. Quando voltei, demorei a encontrar a forma. Disputei o Brasileiro e não fiquei nem entre os oito melhores. Mas fui evoluindo aos poucos.
A vida é cheia de obstáculos. A gente sempre cai, levanta a cabeça e parte para próxima. Nesse período, fiz coisas erradas para mim mesmo, coisas que não faria novamente. Não quero entrar em detalhes, mas vejo quanta coisa legal acontece comigo hoje em dia. E tento valorizar. Quando eu era pobre, era feliz. Por que hoje, tendo uma vida mais favorecida, vou ser triste? Eu não chorava, mas tinha medo de entrar no elevador, de voar de avião, de entrar no carro, de dirigir. Tudo me deixava em um estado de ansiedade muito grande. Eu entrava em desespero. Mas isso mudou. Não tenho do que reclamar mais. Terminar ano como terminei foi como receber oxigênio para lutar por mais.
Papel na ginástica atual
Eu perdi patrocinadores, perdi o clube, mas, principalmente, perdi credibilidade dentro da equipe técnica da seleção brasileira. Eu não conseguia entender como tudo isso estava acontecendo comigo. Eu sempre entrava com chance de medalha em Mundiais, sempre fui um dos principais atletas da seleção brasileira. É óbvio que não tive um ano muito bom em 2013. Mas fui quinto do mundo no solo e sexto no salto. Dentro de uma seleção brasileira, são poucos que conseguem se classificar para a final em Mundiais. Se fui quinto e sexto, não estava tão mal quanto falavam. Mesmo assim, no Mundial fui convocado como o segundo reserva. Não sabia lidar com isso. Será que eu estava tão ruim assim? O problema é que você acaba acreditando nisso. Com todo esse quadro, quando ganhei a medalha de bronze, mostrei que tenho condição de ser medalhista no Mundial. Não foi uma resposta (para os técnicos da seleção). Foi uma resposta para mim.
Esse ano foi o mais produtivo da minha carreira na parte emocional. Voltei a acreditar mais em mim, algo que tinha perdido. Em nove anos de carreira, operei dez vezes. É um número de lesões muito grande. Imagine que, a cada cirurgia, são seis meses sem treinar. Eu fiquei parado por cinco anos! Eu passei mais tempo dentro de casa, em reabilitação, do que treinando. Tem dois anos já que eu não passo por lesões.
O fator celebridade
Nunca imaginei que seria famoso. Mas, no Rio, a mídia faz você ser maior do que você é. A cidade é uma vitrine. Você vai à praia e tem um paparazzo. Você vai para a balada e tem um paparazzo. Quando você sai à noite uma vez, parece que foi para a balada o ano inteiro. O tratamento que me deram era de artista. Mas nunca entendi o motivo. Eu sempre deixei claro que sou um atleta. Não quero ser celebridade. Em São Paulo, eu consigo isso. Não tem tanta atenção. Estou gostando.
A medalha olímpica
Tenho consciência de como vai ser no Rio de Janeiro. A Olimpíada toma uma proporção muito grande porque o esporte olímpico só é lembrado de quatro em quatro anos. É um sonho muito grande conseguir uma medalha olímpica, mas, independentemente do que acontecer, meu sonho maior é ser ginasta. Não tenho medo algum de amarelar. Estar na Olimpíada, estar na ginástica, é estar de pé, não é amarelar. Eu poderia ter deixado o esporte, mas treino por um sonho. Ser medalhista olímpico.
UOL Esporte
"Todos os dias da minha vida eu encontrava tempo para dar um mergulho na praia. E isso foi uma coisa que eu senti muita falta quando mudei para São Paulo. A vida aqui é diferente. Primeiramente, achei muito difícil. Eu não conseguia viver nessa loucura que é são Paulo. Você pode fazer de tudo, todos os dias. Mas eu vivia em um cubículo, do lado do ginásio, não saía", conta o atleta.
Foi nesse período que ele viveu o pior momento de sua vida. Teve depressão profunda, foi hospitalizado e não tinha energia para reagir. Perdeu dez quilos, não treinava. "Tinha medo de entrar no elevador, de voar de avião, de entrar no carro, de dirigir. Tudo me deixava em um estado de ansiedade muito grande. Eu entrava em desespero", admite.
Hoje, esse pesadelo é passado. Diego é um exemplo de como o esporte pode ajudar em doenças como a que ele teve. Nove anos depois de conquistar sua primeira medalha em campeonatos mundiais, voltou ao pódio: foi bronze no solo. Retomou seu lugar entre as estrelas do esporte brasileiro. Em uma longa conversa com o UOL Esporte, falou sobre a mudança de cidade, o desafio de superar a depressão, seu papel na ginástica brasileira atualmente e a sonhada medalha em 2016. Confira:
Rio x São Paulo
Minha vida no Rio era sempre a mesma. Treinava, comia em casa. Todos os dias da minha vida encontrava tempo para dar um mergulho na praia. E isso foi uma coisa que eu senti muita falta quando mudei para São Paulo. A vida aqui é diferente. Primeiramente, achei muito difícil. Eu não conseguia viver nessa loucura que é são Paulo. Você pode fazer de tudo, todos os dias. Mas eu vivia em um cubículo, do lado do ginásio, não saía. Para ir de carro para qualquer lugar, só depois das 21h, por causa do trânsito.
Quando vi que tudo estava desorganizado, percebi que precisava de uma rotina mais saudável. Foi quando tive proposta de outros clubes. Optei por São Bernardo pela visão de cidade pequena, mas muito bem estruturada. Tem menos trânsito, você conhece todo mundo. Eu vou à padaria e converso com as pessoas, almoço com minha vizinha. Em São Paulo, não tinha nada disso. E eu ainda estou a 40 minutos da praia, se quiser. Estou ambientado. É um conceito de família. Hoje, me sinto em casa. Tanto que, quando volto ao Rio, me sinto de férias. E ainda tem toda uma equipe por trás. Com psicólogo, nutricionista, empresário, assessor. A contratação por São Bernardo me reergueu.
A depressão
Aconteceu nesse período de mudança do Rio para São Paulo, quando desorganizou tudo. Eu não tinha controle sobre nada. Temos o hábito de achar que somos invencíveis, mas ficava um caminhão de problemas na cabeça e não conseguia resolver nada. E nesta história, eu tinha de treinar. E é difícil ter motivação quando você está em um clube de favor, sem patrocínio, morando em um cubículo, longe da família. Eu não conseguia me acostumar à cidade. São milhões de coisas que atrapalham.
Cheguei a tomar antidepressivos. Remédios fortes. Eu só dormia. Não podia treinar. Acho que esses remédios nunca ajudaram. Um dia, pensei: O que estou fazendo da minha vida? Voltei a treinar. Eu tinha emagrecido dez quilos com a internação. Quando voltei, demorei a encontrar a forma. Disputei o Brasileiro e não fiquei nem entre os oito melhores. Mas fui evoluindo aos poucos.
A vida é cheia de obstáculos. A gente sempre cai, levanta a cabeça e parte para próxima. Nesse período, fiz coisas erradas para mim mesmo, coisas que não faria novamente. Não quero entrar em detalhes, mas vejo quanta coisa legal acontece comigo hoje em dia. E tento valorizar. Quando eu era pobre, era feliz. Por que hoje, tendo uma vida mais favorecida, vou ser triste? Eu não chorava, mas tinha medo de entrar no elevador, de voar de avião, de entrar no carro, de dirigir. Tudo me deixava em um estado de ansiedade muito grande. Eu entrava em desespero. Mas isso mudou. Não tenho do que reclamar mais. Terminar ano como terminei foi como receber oxigênio para lutar por mais.
Papel na ginástica atual
Eu perdi patrocinadores, perdi o clube, mas, principalmente, perdi credibilidade dentro da equipe técnica da seleção brasileira. Eu não conseguia entender como tudo isso estava acontecendo comigo. Eu sempre entrava com chance de medalha em Mundiais, sempre fui um dos principais atletas da seleção brasileira. É óbvio que não tive um ano muito bom em 2013. Mas fui quinto do mundo no solo e sexto no salto. Dentro de uma seleção brasileira, são poucos que conseguem se classificar para a final em Mundiais. Se fui quinto e sexto, não estava tão mal quanto falavam. Mesmo assim, no Mundial fui convocado como o segundo reserva. Não sabia lidar com isso. Será que eu estava tão ruim assim? O problema é que você acaba acreditando nisso. Com todo esse quadro, quando ganhei a medalha de bronze, mostrei que tenho condição de ser medalhista no Mundial. Não foi uma resposta (para os técnicos da seleção). Foi uma resposta para mim.
Esse ano foi o mais produtivo da minha carreira na parte emocional. Voltei a acreditar mais em mim, algo que tinha perdido. Em nove anos de carreira, operei dez vezes. É um número de lesões muito grande. Imagine que, a cada cirurgia, são seis meses sem treinar. Eu fiquei parado por cinco anos! Eu passei mais tempo dentro de casa, em reabilitação, do que treinando. Tem dois anos já que eu não passo por lesões.
O fator celebridade
Nunca imaginei que seria famoso. Mas, no Rio, a mídia faz você ser maior do que você é. A cidade é uma vitrine. Você vai à praia e tem um paparazzo. Você vai para a balada e tem um paparazzo. Quando você sai à noite uma vez, parece que foi para a balada o ano inteiro. O tratamento que me deram era de artista. Mas nunca entendi o motivo. Eu sempre deixei claro que sou um atleta. Não quero ser celebridade. Em São Paulo, eu consigo isso. Não tem tanta atenção. Estou gostando.
A medalha olímpica
Tenho consciência de como vai ser no Rio de Janeiro. A Olimpíada toma uma proporção muito grande porque o esporte olímpico só é lembrado de quatro em quatro anos. É um sonho muito grande conseguir uma medalha olímpica, mas, independentemente do que acontecer, meu sonho maior é ser ginasta. Não tenho medo algum de amarelar. Estar na Olimpíada, estar na ginástica, é estar de pé, não é amarelar. Eu poderia ter deixado o esporte, mas treino por um sonho. Ser medalhista olímpico.
UOL Esporte
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