Na reta final da campanha presidencial, os candidatos Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) voltaram a usar a Copa-2014 em suas campanhas, a presidente de forma positiva, e o oposicionista, com enfoque negativo. Só que ambos omitem dados do eleitor para pintar o quadro que lhes é mais favorável.
De início, antes da sua realização, o Mundial aparecia com um papel relevante na eleição. A oposição fazia críticas aos atrasos de obras, e o governo federal defendia o legado do evento. Concluída a competição, com boa avaliação dos estrangeiros à operação, as menções passaram a ser tímidas. Até que o tema sumiu da pauta.
Mas, na reta final do segundo turno, o Mundial voltou a ser usado pelos candidatos, de forma direta e indireta. Quem levou a competição para o horário político foi o candidato do PSDB.
Em seus programas, ele atacou o governo por realizar a Copa mais cara da história. Em outra peça de propaganda, o texto menciona os altos preços das arenas: “Você sabia que só com o dinheiro desviado da Petrobras para o PT daria para fazer mais 12 estádios da Copa? E porque aqueles preços, hein?''
De fato, os estádios saíram por um total de R$ 8 milhões. Só que, quando era governador de Minas Gerais, Aécio Neves foi o idealizador do projeto para incluir Belo Horizonte na Copa, com participação ativa em eventos da Fifa com o amigo e então presidente da CBF Ricardo Teixeira. Aquele cartola que prometeu um Mundial apenas em estádios pagos com dinheiro privado.
Isso não impediu o governo de Aécio de elaborar um modelo para reforma do Mineirão com uma PPP (Parceria Público Privada) cheia de recursos públicos. O total do custo previsto para o Estado durante os anos é de R$ 695 milhões, o que o tornou o quarto estádio mais caro do Mundial. O projeto, de fato, foi tocado pelo seu sucessor e aliado Antônio Anastasia.
E o preço ainda pode subir bastante em relação ao que foi divulgado. A PPP prevê que o governo estadual tem que ressarcir a administradora do Mineirão caso esta não atinja determinado nível de renda. A empresa tem perdido recursos porque o Cruzeiro, principal utilizador do estádio, não paga suas despesas.
A história que Dilma Rousseff conta da Copa-2014 também não é completa. Primeiro, virou um mantra para a presidente repetir que “está investindo R$ 143 bilhões em projetos de mobilidade urbana''. A “Agência Pública'' mostrou que, para atingir esse total, o Ministério das Cidades incluiu os programas do Mundial.
Só que boa parte dos projetos de mobilidade foi excluída da matriz de responsabilidades do Mundial porque não ficaria pronta para a competição. No total, eram R$ 11 bilhões para o setor, número que caiu para R$ 7 bilhões. Como o documento de acompanhamento de obras do governo federal não foi atualizado, não dá para saber sequer se esse segundo número foi concluído. Certo é que cidades como São Paulo, Brasília, Salvador e Manaus ficaram sem os projetos de transporte prometidos.
O programa de governo de Dilma diz que o Mundial “no Brasil é a vitória política de um país que tem vencido a crise econômica internacional com a geração de empregos e distribuição de renda, é a vitória de um país que hoje é respeitado internacional, é a vitória da confiança na capacidade do povo brasileiro e a derrota do pessimismo.''
O impacto econômico positivo do Mundial para o Brasil, no entanto, não é um consenso nem no governo federal. Em balanço final, Dilma e aliados afirmaram que houve R$ 30 bilhões em receitas geradas por turismo. Mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e a própria presidente culparam a Copa pela recessão vivida pelo Brasil no primeiro semestre. Ambos afirmaram que o grande número de feriados ocorridos por conta da competição afetou a atividade econômica.
Pior, o governo federal até agora ainda não apresentou a conta final da Copa, isto é, a matriz de responsabilidades definitiva sobre o assunto. Isso estava prometido para após o Mundial, depois ficou para outubro, e ainda não saiu. A população só vai saber de fato quanto foi gasto na competição depois da eleição, então, é impossível ter noção se valeu a pena.
Outra menção de Dilma, em debates, é à eficiência da operação de segurança da Copa-2014. O Maracanã foi invadido por cerca de 100 chilenos, e outros estádios apresentaram falhas similares com a entrada até de armas não autorizadas. A “Folha de S. Paulo'' relatou um episódio em que a presidente esteve ameaçada por um policial não identificado no Itaquerão.
Essa proteção interna era, em sua maior parte, responsabilidade da Fifa. Mas era assim porque o governo federal aceitou essa imposição da federação internacional no plano geral de segurança apesar de inúmeros erros privados em Copas e Olimpíadas anteriores. Casa arrombada, o Ministério da Justiça aumentou o número de agentes públicos.
UOL Esporte
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