As dúvidas sobre a realização da Copa do Mundo no Brasil eram tantas antes do Mundial que o principal lema anti-realização do torneio no país era "quero ver na Copa". E todos viram. Alguns viram tanto que não conseguiram controlar a paixão pelo Brasil durante os 31 dias de competição. Houve até, acredite, quem tenha gostado tanto daqui que largou a vida que tinha em outro país para se mudar para cá. E ainda há quem diga que a Copa não deixou legado...
Justin McAmmond é um americano que viajou para o Brasil para acompanhar os jogos da seleção de seu país na Copa. Assistiu a dois dos duelos da primeira fase e também à eliminação para a Bélgica, nas oitavas de final - além de Uruguai contra Costa Rica. Assim, conheceu Fortaleza, Natal, Recife e Salvador, além de João Pessoa, cidade na qual passou uma semana com um amigo de sua família.
Mas o foco fica em Salvador, a capital da Bahia. Porque é lá que a história de Justin se torna especial.
Ele explica: "Antes de deixar os Estados Unidos, eu planejei originalmente ficar durante o mês de Copa. Até considerava ficar um pouco mais, mas nunca havia estado no Brasil e não sabia o que esperar", conta. "Mas estava otimista que existiria uma oportunidade de ficar no Brasil. Mas era uma faísca de fé, apenas", continua.
"Cheguei ao Brasil no dia 11 de junho (a abertura da Copa, Brasil 3 x 1 Croácia, ocorreu no dia seguinte). Voei de Nova York para São Paulo e, imediatamente, voei para Fortaleza com planos de, aos poucos, me dirigir para a Bahia", explica – ou seja, a ideia era acompanhar os EUA nas oitavas de final. Em um grupo complicado, o time comandado por Jürgen Klinsmann não era favorito contra Alemanha, Portugal e Gana, mas uma vaga em segundo era possível. E foi o que aconteceu.
E ele chegou à Bahia. E por lá ficou. Até hoje, mais de um mês depois do fim da Copa do Mundo. A cidade de Itacaré, no litoral, é seu novo lar. E sem falar português, como contou ao UOL Esporte, agradecendo por poder dar a entrevista em inglês.
"Agradeço que falamos em inglês, porque demorará um tempo para que eu possa conduzir minhas conversas em português. Tenho esperanças de que um dia eu conseguirei", diz, mostrando que o plano de ficar pelo país é muito sério.
199 mil ingressos
Os Estados Unidos foram o segundo país com mais ingressos comprados para a Copa (na venda prévia), atrás apenas do Brasil. Claro, não apenas americanos adquiriram entradas, mas também imigrantes que vivem no país da América do Norte.
"Estou em Itacaré há quase dois meses. A ideia de me mudar para o Brasil foi crescendo durante a Copa. Pouco depois dos EUA serem eliminados no mata-mata, me encontrei dentro de um ônibus para Itacaré", diz.
"A paisagem aos poucos mudou para as montanhas da exuberante mata-atlântica. Me pareceu um lugar com o qual poderia me acostumar", brinca.
Para quem achava que o Brasil teria problemas em mostrar sua beleza, Justin é a prova viva de que não, muito pelo contrário. Itacaré fica aquase 400 km de Salvador - ou seja, o gringo que quis curtir o Brasil não ficou só atraído pelas cidades-sede e todas suas obras feitas em cima da hora. Mas sim, buscou conhecer cada canto possível do Brasil e, quem sabe, se apaixonar por ele.
5% de mata-atlântica
Resta apenas 5% da mata-atlântica original do país. Em Itacaré, fica a reserva Serra Grande, considerada reserva natural da mata pela Unesco. Na cidade, 1% da mata original resiste. "Essa pequena parte me cativou", diz Justin.
E o que fazer em Itacaré quando não se fala a língua nativa? Ensinar inglês e aproveitar a cidade ao máximo. "Atualmente dou aulas de inglês. Tenho aprendido a surfar e a falar português. Além, é claro, de explorar a mata-atlântica. A costa litorânea aqui é incrível e continua a me intrigar", diz, mostrando o quanto gostou de sua escolha.
Ele, que veio como turista, ainda não sabe por quanto tempo conseguirá se manter no país, em razão de passaporte e das oportunidades de vida que surgirão. Mas o plano é ficar, quem sabe, para sempre.
"Contei aos meus amigos e minha família. Sigo procurando oportunidades para ficar. Agora, quero me envolver com a comunidade, com projetos que se dedicam a proteção e a conservação da mata-atlântica", conta.
Ou seja: não só um gringo quis ficar por aqui como quer ajudar a transformar o país. É o legado da Copa de ma maneira que poucos imaginavam.
"Sigo esperançoso em encontrar uma organização para investir meu tempo e minha energia aqui no Brasil", finaliza.
Assim como o Brasil estava esperançoso em realizar uma bela Copa. Naquele caso, deu certo. Por que não pode dar de novo?
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