Red Bull abre guerra contra Renault e pode pedir indenização por resultados

Sebastian Vettel faz cara de poucos amigos após precisar abandonar o GP de Mônaco por problemas mecânicos no carro

A direção da equipe Red Bull está em pé de guerra com os responsáveis pelo programa de F1 da Renault. É o que se pode entender a partir das declarações do consultor com poder de diretor da Red Bull, Helmut Mark, ao Sport Bild, jornal alemão.

O ex-piloto de F1, hoje com 71 anos, disse que seu time estuda pedir uma indenização à montadora francesa por sua unidade motriz, o motor V-6 turbo e os dois sistemas de recuperação de energia, ser a principal responsável por a Red Bull estar fora da luta pelas vitórias.

"E há ainda a questão de dano a nossa imagem a ser considerada", disse Marko. "Seria uma irresponsabilidade falar agora em números, mas a lista de nossas perdas é extensa por conta de a Renault não ter trabalho bem." A Renault é a fornecedora da unidade motriz para a Red Bull e a outra equipe pertencente ao fabricante do energético, Toro Rosso.

Durante os testes da pré-temporada, quando ficou claro que a unidade motriz da Renault estava muito atrasada em relação as outras duas que competem na F1, Mercedes e Ferrari, a relação entre Red Bull e Renault começou a se deteriorar. Até então era exemplar. A Renault forneceu seu motor V-8 para a Red Bull conquistar os quatro últimos títulos de pilotos, com Sebastian Vettel, e de construtores. 

A relação de confiança mútua era tão grande que a Infiniti, empresa do grupo Nissan, onde a Renault tem 43,4% de participação, assinou contrato para dar nome à escuderia, que passou a ser chamar Infiniti Red Bull Racing.

Não é tudo. No início de 2006, Adrian Newey assumiu a direção técnica do time, que competia com o motor V-8 de 2,4 litros da Ferrari. Pois por sua orientação a Red Bull trocou para o motor da Renault a partir da temporada seguinte e deslocou o V-8 italiano para a Toro Rosso, que usava o Cosworth.

Este ano mudou tudo na F1. Estreou um novo conceito, o do motor híbrido, bastante complexo. A unidade motriz é na realidade a combinação entre um motor a explosão de 1,6 litro de 6 cilindros dispostos em V, turboalimentado, associado a dois sistemas de recuperação de energia (ERS).

O primeiro, chamado MGU-K, aproveita os giros dos semieixos nas frenagens e transforma energia cinética em energia elétrica. O segundo, MGU-H, transforma a energia térmica dos gases do escapamento em energia elétrica. Os dois sistemas acumulam a energia elétrica em baterias. Quando o piloto aciona no volante o ERS para, por exemplo, realizar uma ultrapassagem, essa energia elétrica é utilizada por dois motores elétricos para gerar potência.

Começou tarde

A própria Renault reconhece que iniciou a pré-temporada num estágio abaixo do planejado. Um técnico da empresa, em conversa com o UOL Esporte, em Bahrein, disse a respeito do atraso: "Nós estamos ainda compreendendo com funciona o motor turbo associado aos dois motores elétricos enquanto a Mercedes, por começar bem antes seus estudos e ter investido muito mais, encontra-se num estágio bem mais avançado".

No mesmo fim de semana no circuito da Sakhir, em Bahrein, Marko afirmou ao UOL Esporte: "Não pudemos quase realizar o desenvolvimento do nosso carro nos testes de inverno porque o motor Renault não funcionou como deveria a maior parte do tempo". Marko afirmou também na China: "Temos a melhor velocidade nas curvas, nosso chassi é o melhor. Mas não temos motor".

No ano passado, depois de seis etapas, como agora no campeonato, a Red Bull liderava entre os construtores com 164 pontos, seguida da Mercedes, 109. A Mercedes, portanto, em 2013 somou 66,4% dos pontos da Red Bull. Este ano, a líder é a Mercedes, com 240 pontos. E a Red Bull está em segundo, com 99, ou seja, 41,2% dos pontos da Mercedes. Os números da queda de desempenho da Red Bull, bem como da evolução da Mercedes, são sintomáticos.

O presidente da Renault Sports, Jean-Michel Jalinier, colocou mais lenha na fogueira ainda nessa briga com a Red Bull ao afirmar, pouco antes do GP da Espanha, no início do mês, que o programa de desenvolvimento da sua unidade motriz estava sendo afetado pelo atraso nos pagamentos das escuderias que a utilizam. Não disse quais são.

Além da Red Bull e Toro Rosso, há a Lotus e a Caterham. O custo pelo uso das cinco unidades motrizes, limite estabelecido pelo regulamento por piloto por campeonato, é de 19 milhões de euros (R$ 64 milhões). "Para assegurar o desenvolvimento temos duas fontes. Uma somos nós mesmos e outra é o que recebemos das equipes", falou o francês.

Jalinier explicou, ainda: "A situação não é aceitável. No momento precisamos investir para competir com os concorrentes, mas não podemos. Continuar investindo com recursos próprios tem limites". E até mesmo ameaçou os devedores quando questionado se poderia paralisar o fornecimento da unidade motriz: "É uma opção".

Apesar da força econômica da Red Bull, pode bem ser que também a empresa também não esteja cumprindo o acordo por exigir da Renault uma indenização por sua pouca competitividade no campeonato, como afirmou Marko ao Sport Bild.

Procuram-se fornecedores

Não existe mais nenhuma dúvida de que a Red Bull está buscando um novo parceiro para lhe fornecer a complexa unidade motriz da F1. A Mercedes não daria um tiro em si própria ao ceder a sua, a mais eficiente da competição, a um adversário direto. E a da Ferrari ainda está longe de responder tão bem como a da Mercedes.

Não foi por outra razão que Marko sugeriu, ainda nos dias do GP de Mônaco, no último fim de semana, que tentaria convencer a direção da Volkswagen a pensar no assunto. A partir de 2015 a Honda volta a F1, mas ao menos no primeiro ano tem um contrato de exclusividade com a McLaren.

A verdade é que, no momento, a Red Bull, equipe que venceu tudo na F1 nos últimos quatro anos, briga, literalmente, com seu fornecedor da unidade motriz, a ponto de a coisa poder acabar num tribunal. E não sabe o que fazer visando 2015. Pior: não há como em pleno fim de maio uma empresa se interessar em produzir uma unidade motriz e já estar disponível em janeiro de 2015 para os primeiros testes.

Em outras palavras, Marko terá de encontrar formas de se entender com a Renault, empresa potencialmente capaz de recuperar o tempo perdido para a Mercedes, desde que disponha de orçamento e consiga estabelecer com suas escuderias o que tanto se exige na F1 para obter sucesso: "Commitment", ou sinergia de interesses.

UOL Esporte

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