Time-base da Espanha: Busquets recua para liberar os laterais, enquanto as pontas costumam ter um velocista e um passador
A dinastia espanhola no futebol de seleções é impressionante. Os últimos três torneios de primeiro nível disputados foram conquistados (Euro 2008, Copa 2010 e Euro 2012), algo nunca feito antes na história do futebol. E as vitórias vieram com futebol envolvente, marcando para sempre a identidade desta geração de jogadores. Praticamente a mesma geração chegará para a Copa do Mundo de 2014, mas o que vimos na Copa das Confederações de 2013 e em temporadas recentes do futebol de clubes europeu indica que a supremacia internacional da Espanha tem mais chances de acabar do que de se estender em terras brasileiras.
Claro, a Espanha ainda é uma das melhores seleções do mundo e uma das favoritas a ganhar a Copa. Tem craques ou excelentes jogadores em quase todas as posições, um estilo de jogo definido, uma mentalidade vencedora e um grupo unido. Mas também convive com problemas preocupantes, em todos os setores do campo, que nunca afligiram tanto o técnico Vicente Del Bosque em outros torneios. Como as qualidades deste time são amplamente conhecidas, esta análise vai se focar mais nos pontos negativos.
Diego Costa é artilheiro em um time de contra-ataque, mas conseguirá se adaptar à Espanha?
O grande dilema chamado Diego Costa
Um dos grandes problemas da atual seleção espanhola é a falta de um goleador confiável. O time tem meias criativos em excesso, mas nenhum marca gols com frequência. Na frente, David Villa, o homem-gol da Copa, já não vive seu auge, apesar de ainda ser importante. Fernando Torres é uma sombra do que já foi, enquanto Negredo é inconstante. Na Euro 2012, Del Bosque venceu jogando com Fàbregas no comando de ataque – o que pode dar muito certo, mas novamente depende de um jogador que alterna altos e baixos. A solução foi naturalizar Diego Costa, que faz temporada espetacular no Atlético de Madrid e certamente será titular na Copa.
O problema é justamente esse: o Atlético joga de uma forma absolutamente oposta à Espanha. Em seu clube, Diego joga da forma que rende mais: sozinho na frente, com espaço e liberdade de movimentação para correr, abrir para os lados, receber lançamentos longos e enfurecer a defesa. Ele precisa de espaço para fazer seu jogo; na Espanha, constantemente vai ficar enfiado entre zagueiros contra uma defesa fechada. Diego também é perigoso no jogo aéreo e sabe fazer uma tabela curta, mas não são seus pontos fortes. No único amistoso que fez pela Espanha, contra a Itália, ficou evidente a limitação que o estilo espanhol impõe ao seu jogo. Talvez uma opção melhor fosse Llorente, em ótima fase na Juventus e um clássico pivô, para aproveitar as infiltrações de Pedro ou, como plano B, os cruzamentos certeiros do reserva Jesús Navas.
O declínio de Xavi: “tiki-taka” em crise?
A qualidade técnica da Espanha para mover a bola pelo campo ainda é impressionante. Com a base do Barcelona de Guardiola, o time dominou o mundo pela posse de bola, cansando os adversários e atacando nos momentos cruciais. Mas o que funcionava tão bem há dois ou três anos já dá sinais de desgaste: o estilo “tiki-taka” enfrenta uma queda na popularidade e na eficiência contra adversários de primeiro nível, sofrendo com marcação pressão e contra-ataques poderosos (casos óbvios: Brasil x Espanha, Bayern x Barcelona e Real Madrid x Bayern). Na Espanha, isso é agravado pelo declínio físico de Xavi, principal articulador e personificação da filosofia de jogo do time.
O melhor Xavi do Barcelona e da Espanha era um armador que centralizava e dominava as partidas: toda bola passava por seu pé, e sua movimentação constante para dar opção de passe aos companheiros garantia a fluidez dos ataques. Hoje, ele ainda é perfeito no passe e capaz de bolas decisivas, mas participa muito menos do jogo. O Barcelona e a Espanha são mais lentos para rodar a bola, permitindo que a defesa adversária se organize a tempo de evitar as brechas para os passes mais incisivos. O substituto natural para uma eventual saída de Xavi seria Thiago, mas talvez a melhor solução seja uma mudança de sistema: a volta à dupla de volantes Alonso/Busquets abriria espaço para David Silva, em seu melhor momento na carreira, ser titular como meia central e articular o time ao lado de Iniesta.
Possível alternativa de Del Bosque: um retorno ao 4-2-3-1 da Copa 2010, com Xavi fora e David Silva tendo a chance de ser o meia central
Marcação pressão preocupa no ataque e na defesa
Uma das grandes razões da queda do Barcelona após a saída de Guardiola foi a diminuição da marcação pressão; o time era cadenciado com a bola, mas frenético sem ela, buscando recuperá-la assim que ela fosse perdida no campo de ataque e não deixando o adversário respirar. O mesmo acontece com a seleção espanhola – na Copa das Confederações, chamou atenção como o time se postou mais recuado, sem apertar a saída do adversário, em quase todos os jogos. Talvez por cansaço, idade ou calor, mas o fato é que esta Espanha não pressiona como as outras, perdendo um dos conceitos básicos do sucesso do “tiki-taka”.
Do outro lado, a pressão também preocupa. A Espanha tem dificuldades contra times que apertam a marcação de forma agressiva, como fez o Brasil na final de 2013, com muitos desarmes e faltas quando necessário. Del Bosque sabe que o melhor meio de evitar essa pressão é colocar mais um passador para auxiliar na saída de bola – mais um motivo para promover a volta de Xabi Alonso ao time titular. Com dois volantes técnicos e calmos como Busquets e Alonso, mais zagueiros com ótima saída como Piqué e Sergio Ramos, é muito mais difícil para o time adversário ocupar todos os jogadores espanhóis na saída de bola.
Jogador-chave: Iniesta. Em uma geração espetacular de jogadores, o meia do Barcelona é o melhor deles e o mais propenso a lances de magia, que serão muito necessários para os espanhóis suprirem os problemas coletivos que afetam a seleção em anos recentes. Seja como parte de um trio de meio-campistas ou partindo de um dos lados do campo, Iniesta precisa substituir definitivamente Xavi como o principal armador do time e fazer a diferença – talvez a Espanha nunca tenha dependido tanto do brilho individual de uma estrela.
Terra
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