Anelka jogou nos últimos anos na China e em time de menor expressão na Europa; agora no Atlético-MG busca sobrevida na carreira
A confirmação da contratação de Nicolas Anelka pelo Atlético-MG já começou a estimular a imaginação de muitos torcedores do time alvinegro. Como será a adaptação do francês ao Brasil e, mais especificamente, a Belo Horizonte? Qual será sua relação com o grupo de jogadores e com o técnico Paulo Autuori? E o que exatamente ele traz em termos futebolísticos para o atual campeão da Libertadores? A julgar pelas últimas temporadas, os maiores obstáculos para o atacante de 35 anos brilhar estarão justamente dentro de campo.
Belo Horizonte é uma cidade famosa pela vida noturna agitada e repleta de bares, mas Anelka, muçulmano desde 2007, nunca foi um jogador famoso por festas ou baladas. O idioma também não deve ser um grande entrave, já que o atacante morou um ano na Espanha; o mesmo pode ser dito de hábitos alimentares, já que a capital mineira tem um circuito gastronômico bastante variado. Por isso, é para a história de "jogador-problema" do francês dentro do futebol que os atleticanos devem olhar com mais ressalvas.
Brigas com treinadores ofuscaram auge da carreira
Jogador de personalidade forte e "pavio curto", Anelka sempre colecionou polêmicas por onde passou. Revelado pelo PSG e comprado pelo Arsenal com apenas 17 anos em 1997, o atacante teve início empolgante e cheio de gols no time inglês. Mas logo os problemas apareceram: ele criticou publicamente o companheiro de time Marc Overmars, entrou em guerra com a imprensa britânica – que o tachou de preguiçoso e desinteressado – e disse que não queria mais ficar na Inglaterra.
Comprado por expressivos 22,3 milhões de euros pelo Real Madrid, Anelka manteve o padrão de gols e polêmicas que o seguiria em boa parte da carreira. Foi importante na campanha do título da Liga dos Campeões de 2000, mas brigou com o técnico Vicente del Bosque e saiu no fim da temporada. Rodou por PSG - onde jogou com Ronaldinho -, Liverpool, Manchester City e Fenerbahce. Neste intervalo, teve novos entreveros com os treinadores Gérard Houllier (Liverpool) e Jacques Santini (seleção francesa).
Foi só em 2006, no Bolton, que conseguiu recuperar o prestígio do início da carreira, liderando o modesto clube inglês rumo ao sétimo lugar e a uma vaga na Copa Uefa. Foi comprado pelo Chelsea e ganhou um título nacional, mas novamente se desentendeu com um treinador: após perder um pênalti na final da Liga dos Campeões de 2008, criticou Avram Grant por colocá-lo em campo e mandá-lo fazer a cobrança sem o devido aquecimento. Na Copa de 2010, o maior dos escândalos: foi expulso da seleção após xingar o técnico Raymond Domenech no intervalo do jogo com o México.
No Atlético-MG, Anelka encontrará em Paulo Autuori um treinador sem histórico de polêmicas. Porém, no ano passado, Autuori já se envolveu em um episódio de atrito com um jogador experiente: no São Paulo, afastou por indisciplina o zagueiro Lúcio, que nunca mais teve chances no clube. Se depender do histórico do francês, o treinador pode ter que passar pela mesma situação.
Nos últimos anos, mais polêmicas e poucos gols
Se no ápice da forma, Anelka já não foi o jogador de primeiro nível que se esperava no início da carreira, seu desempenho nas últimas temporadas é ainda mais desanimador. O francês deixou o Chelsea em 2012 rumo ao chinês Shanghai Shenhua, onde marcou só três gols em 22 partidas e ainda discutiu com um torcedor após uma partida em casa. Emprestado de forma surpreendente para a Juventus, só fez três partidas pelo time italiano em 2013.
A última aventura de Anelka pelo mundo da bola foi no West Brom, da Inglaterra. Foram só dois gols em 11 jogos, e justamente na partida em que quebrou seu jejum pelo pequeno time britânico, o atacante se envolveu em sua mais recente polêmica: comemorou com um gesto relacionado a movimentos antissemitas, resultando em multa e rescisão de contrato com o clube.
A decadência de Anelka nos dois últimos anos é tão notória que o próprio jogador cogitou se aposentar ao final da temporada europeia, no meio deste ano. O atleta que chegará às mãos de Paulo Autuori pouco tem a ver com o estilo enérgico da equipe, o que também dificulta seu encaixe no time: não tem as características para marcar e pressionar como fazem Diego Tardelli e Fernandinho, nem a capacidade de brigar por bolas aéreas como Jô, que é tão importante no estilo do Atlético.
Apesar de nunca ter cumprido plenamente as expectativas e ter recebido o rótulo de "eterna promessa" na Europa, Anelka tem a capacidade técnica individual para jogar bem no Atlético-MG, mesmo aos 35 anos. O que levanta mais dúvidas é o relacionamento com os que estarão ao seu redor – tanto na convivência fora de campo quanto dentro dele.
Terra
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