A briga entre os presidentes Paulo Nobre (Palmeiras) e Carlos Miguel Aidar (São Paulo), causada pela contratação do atacante Alan Kardec pelo clube do Morumbi, fez com que um projeto considerado importante por Aidar seja adiado: a criação de uma entidade que reúna os clubes grandes para regular o mercado da bola.
Antes mesmo de vencer a eleição e se tornar sucessor de Juvenal Juvêncio, o novo mandatário tricolor anunciava a necessidade da construção de algum tipo de associação em que os clubes de futebol pudessem estabelecer políticas comuns. “Ou os clubes dão as mãos e estabelecem limites de salários, receitas, vendas de direitos de imagem para a televisão ou, em nome de querer o que há de melhor, vamos fazer loucuras”, disse Aidar em um programa de televisão, quando já sabia que Kardec seria atleta tricolor.
Mas, no meio do caminho, tinha o Alan Kardec. O atacante negociou a renovação de contrato com o Palmeiras por cerca de dois meses. O São Paulo, pegando a deixa de que o acordo entre atleta e palmeirenses não estava muito certo, entrou no negócio e acertou um acordo de cinco anos com Kardec.
Paulo Nobre não gostou, taxou a ação são-paulina de “sorrateira”, chamou Aidar de “este senhor” e a atitude do rival de “antiética”. O presidente tricolor respondeu nesta terça-feira, dizendo que Nobre era “juvenil” e que a reação do mandatário esmeraldino demonstrava “o apequenamento do Palmeiras”.
A tréplica, poucas horas depois, veio em nota oficial dos palestrinos, com Nobre garantindo que as relações entre os clubes estavam cortadas enquanto Aidar continuar como presidente do São Paulo.
A reação de Aidar: “Sobre esta nota, não achei nada, nem vou achar. Não faço mais nenhum comentário”, disse ao Blog do Boleiro.
Ironicamente, o estremecimento entre dois clubes grandes de São Paulo colocou em lados antagônicos um dos idealizadores do Clube dos Treze (Aidar) e um jovem dirigente (Nobre) que luta para “quebrar paradigmas” dos costumes quase centenários de relações trabalhistas entre agremiações e os jogadores. O Palmeiras rema contra a maré: propõe contrato com um salário base considerado razoável pelo clube e prevê bônus por produtividade. E barganha cada centavo.
Sozinho nesta política, o Palmeiras perdeu o primeiro jogador depois de quase 60 dias de negociações com o estafe de Alan Kardec. “Nós ainda tínhamos 30 dias para negociar. Eu vou lutar por cada real para o Palmeiras”, disse Nobre.
Esta postura e este discurso não vão contra o que Aidar pregou já na presidência do São Paulo: “O mundo do futebol é irreal, com salários muito grandes e receitas que não correspondem. Os clubes estão repatriando atletas que atuam na Europa e têm a cabeça formada em euros, ou seja, três vezes o real”.
Kardec ainda pertence ao Benfica, de Portugal. O São Paulo vai pagar 4,5 milhões de euros, a mesma quantia que o Corinthians ofereceu ao Sporting de Lisboa para ter Elias de volta. O Flamengo também queria o volante, mas parou quando o leilão ultrapassou 2,5 milhões de euros. “Era nosso limite. Não vamos fazer loucuras”, disse o executivo de futebol Paulo Pelaipe.
Entre o discurso e a prática, o São Paulo sai do episódio Alan Kardec como “esperto” na negociação, atingindo o Palmeiras que talvez tenha exagerado na conta da economia. Afinal, como o pai de Alan Kardec disse ao Blog do Boleiro, não foi apenas pelos R$ 5 mil reais que Nobre tentou economizar. “A questão é que a gente cedeu, cedeu e chegou um momento em que fiquei muito preocupado com a possibilidade do Alan ter voltar para a Europa”, falou. “A gente aceitou o contrato de produtividade, mas ficou muito difícil com a atitude do Palmeiras”, reclamou.
O futuro dirá se as pontes entre Palmeiras e São Paulo foram queimadas ou se os dois clubes deixaram ainda um canal de comunicação para acordos futuros.
Mas até lá, vai ser difícil convencer os clubes a trabalharem numa política comum que caminhe para o “Fair Play Financeiro”, defendido pelo Bom Senso FC.
Quanto à ideia de Carlos Miguel Aidar em trabalhar por uma nova versão de Liga de Clubes, ela está adiada: “Agora não vou mexer nisso não.”
Terra
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