Promovido à elite gaúcha em 2013, Brasil de Pelotas chegou à semifinais estaduais após vencer Novo Hamburgo nas quartas (foto); resultado é o melhor do time desde 1998
A torcida do Brasil de Pelotas vive um ano de redenção em 2014. Depois de passar por maus bocados nas últimas temporadas, o clube retornou à primeira divisão do Campeonato Gaúcho, e não decepcionou: vice-líder do Grupo B na primeira fase, com apenas duas derrotas em 15 jogos, passou pelo Novo Hamburgo nas quartas de final e chegou às semis da competição, o que não acontecia desde 1998. O duelo com o Grêmio está marcado para as 19h30 (de Brasília) desta quarta, em Porto Alegre.
Mas qual o segredo para a reação de um time que foi rebaixado em 2009, após a tragédia que custou três vidas – o zagueiro Régis, o preparador de goleiros Giovanni Guimarães e o ídolo Claudio Millar – e que marcou a história do futebol brasileiro? Segundo o presidente Ricardo Fonseca, são dois: o apoio da torcida e a sintonia entre a diretoria e a comissão técnica.
Eleito em 2012, Ricardo contratou o técnico Rogério Zimmerman para assumir a equipe. Homem de confiança do presidente, Zimmerman havia conquistado o título da segunda divisão gaúcha em 2004 à frente do próprio Brasil de Pelotas. Para aquele ano, segundo o presidente, Zimmerman – então no Canoas – teria a missão de iniciar a reformulação do elenco.
Contratado em 2012, técnico Rogério Zimmerman (foto) foi trazido ao clube pelo presidente Ricardo Fonseca; com dirigente, treinador indica jogadores para formar elenco competitivo
“No segundo semestre de 2012, começamos a reestruturar o clube com a chegada do Rogério Zimmerman. A partir de lá, fizemos uma bela Copinha (Copa FGF, então chamada Copa Hélio Dourado) no segundo semestre - fomos vice-campeões, perdemos para o Juventude a final (2 a 1 no placar agregado). Foi um belo jogo, não merecíamos ter perdido”, contou o presidente do Brasil de Pelotas ao Terra.
“A partir daí, começamos a projetar 2013. Tínhamos que fazer uma equipe de primeira divisão para jogar uma Série A2 (Divisão de Acesso do Campeonato Gaúcho). Começamos a reestruturar e ter uma continuidade de trabalho. A equipe era 70%, 80% do que jogou em 2012. Houve uma continuidade de trabalho”, completou o dirigente.
Com dois anos de esforço conjunto na formação do elenco, diretoria e comissão técnica mostram entrosamento também nos discursos. Em entrevista ao jornal Zero Hora divulgada na terça-feira (25), o técnico Rogério Zimmerman também creditou o sucesso do Brasil de Pelotas em 2014 ao elenco formado nos anos anteriores e aperfeiçoado para a temporada de volta à elite.
“No planejamento que elaboramos em 2013, trouxemos jogadores com perfil de primeira divisão para jogar a Série A2 e buscar o acesso. Agora, a gente já tinha um time acostumado com a elite e só fizemos contratações pontuais. O segredo desta regularidade é o planejamento feito há um ano e meio”, analisou o treinador ao periódico gaúcho.
Olhar o elenco do Brasil de Pelotas em 2014 é atestar essa reformulação a longo prazo no clube. O goleiro Luiz Müller, o meio-campista Washington e os atacantes Alex Amado e Gustavo Papa, por exemplo, chegaram ao Estádio Bento Freitas em 2012. No ano seguinte, foram contratados o lateral Rafael Forster, o zagueiro Fernando Cardoso, os volantes Nunes e Márcio Hahn e o meia Cleiton. Todos eles permaneceram no clube em 2014.
Mas como bancar a folha salarial de um elenco de primeira divisão disputando a segunda divisão nos anos anteriores? É aí que entra a torcida: segundo o presidente Ricardo Fonseca, boa parte da folha salarial é bancada pelo projeto Sócio Xavante, que têm planos com mensalidades que variam de R$ 45 a R$ 120.
“A campanha do sócio que entrou em ação tem mais de 5 mil sócios. Mobilizamos o xavante para retornar à primeira divisão. Como tivemos um grande êxito no segundo semestre (de 2013), resgatamos aquele torcedor que estava afastado”, analisou o presidente, que viu na torcida e nas arrecadações uma grande motivação para atrair jogadores mais conhecidos ao elenco.
Afinidade da comissão técnica com a diretoria ajuda a selecionar elenco em relação a anos anteriores; título da segunda divisão gaúcha em 2013 (foto) rendeu a permanência de "jogadores de primeira divisão"
“Mostramos para os atletas que era possível jogar uma segunda divisão, mesmo sendo jogador de primeira divisão. Resgatamos toda a credibilidade. O Brasil (de Pelotas) é um marca muito forte. Todo jogador gostaria e gosta de jogar no Brasil, por ser um clube de visibilidade”, acrescentou.
Classificado para as semifinais, o Brasil de Pelotas enfrenta o Grêmio nesta quarta-feira (26), às 19h30 – o confronto único na Arena Grêmio define o primeiro classificado para a decisão do Campeonato Gaúcho. Campeão estadual em 1919, o Brasil busca voltar à decisão da competição, patamar que não alcança desde 1983. E mais do que isso: mostra que a tragédia de 2009 já é passado em Pelotas.
“Aquela tragédia passou. Conseguimos o acesso, foi página virada. Esta é uma página nova, de reestruturação, em cima desse planejamento que deu certo”, disse Ricardo Fonseca, defendendo o planejamento a longo prazo para os clubes.
Receita mantida para a Série D
Em meio aos dissabores dos últimos anos, o Brasil de Pelotas viveu também o rebaixamento na Série C do Campeonato Brasileiro de 2011. Agora, classificado para a Série D de 2014, o time tem como meta o acesso à terceira divisão nacional. A receita é a mesma que vem dando certo no Campeonato Gaúcho: manter a comissão técnica para reformular o elenco de forma pontual.
“Vamos fazer todo o esforço, o possível e o impossível, para ter a continuidade do trabalho - inclusive à comissão técnica. Temos o assédio de times de Série B e de Série A sobre a comissão técnica. Primeiro, (a meta é) renovar o contrato com o Rogério; depois, fazer a renovação com os atletas que nos interessam para a Série D e buscar o acesso”, adiantou o dirigente rubro-negro.
Segundo Ricardo Fonseca, é graças a este planejamento que o clube tem economizado em jogadores – se 70 ou 80 atletas passavam pelo clube por ano até 2012, hoje em dia, segundo ele, o número varia entre 25 e 28. O dirigente destaca o desejo de Rogério Zimmerman, que topou o projeto de um planejamento moderno para permanecer no Brasil de Pelotas. Em dois anos, além de resultados, o sim do treinador resultou também na citada sintonia com a diretoria.
“O Rogério é um treinador experiente, muito inteligente e muito correto com as coisas que faz. Essa sintonia que nós temos é pela credibilidade que nós temos, entre presidente e treinador. Além de profissionais do clube, ele como treinador e eu como presidente, nós temos uma amizade muito forte. Eu que indiquei ele. Na minha gestão, tive a honra de trazer o Rogério. Temos uma afinidade muito grande.”
Terra
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