Rebelo reprova manifestações violentas e nega risco de PR fora da Copa

Aldo Rebelo não vê risco de que a Arena da Baixada fique fora da Copa do Mundo Foto: André Esmeriz / André Regi Esmeriz - Especial para o Terra

Aldo Rebelo não vê risco de que a Arena da Baixada fique fora da Copa do Mundo

O ministro do Esporte Aldo Rebelo visitou os estúdios doTerra nesta sexta-feira e conversou sobre diferentes temas que afligem o Brasil. O político discutiu os problemas da Copa do Mundo, o racismo ocorrido contra o volante Tinga e a possibilidade de que a Arena da Baixada, estádio de Curitiba para o Mundial, seja cortada da competição. Para ele, não há chances de que isso aconteça.

"Eu estive lá essa semana. Você já vê uma evolução grande desde 25 de janeiro, quando as providências para acelerar as obras do estádio foram adotadas. Tinha talvez 20% da cobertura e hoje 80%, o gramado está plantado, as cadeiras já estão prontas para que sejam instaladas. Era a obra mais simples de todos os 12, então acho que assim, no dia 18, quando será reavaliada, que o estádio seja confirmado como sede", afirmou.

"Acho que hoje esse risco não existe. Não porque não tenha existido, mas porque as providências adotadas e a evolução sempre têm alguma coisa que precisa ser acompanhada, disse o ministro do Esporte.

Confira a seguir as principais declarações de Aldo Rebelo:

Protestos violentos
Eu creio que as manifestações violentas receberam um certo grau de tolerância, como se isso justificasse os problemas ou fosse justificativa para os problemas que o país enfrenta. Como temos problemas, você tem que tolerar. Acho isso um erro. Também há uma tolerância seletiva a jovens de classe média. Quando a vítima é um policial, não se viu na época a mesma indignação. A manifestação violenta não pode ser tolerada, porque ela termina afastando a manifestação pacífica, legítima. A violência muitas vezes esconde ou reduz a nobreza das manifestações pacíficas. Acho que a polícia ou o governo tem que tratar as manifestações dentro do que a lei assegura. Há outra questão que é a segurança mais relacionada com riscos, que no Brasil são pequenos, mas precisamos preveni-los. Na Olimpíada de Munique, atletas foram assassinados já dentro da Vila Olímpica. Em Atlanta houve atentado com morte. Na Rússia, antes da Olimpíada, houve atentados. No mundo há muita intolerância, o Brasil tem que cuidar também e ver a violência do dia a dia, do crime comum, que no Brasil é um fator de maior preocupação.

Acho que há uma certa banalização. Ou seja, a vida, o patrimônio público e mesmo o privado, são muitas vezes tratados como se não tivesse, relevância. Ou seja, a quebra da ordem democrática é justificada pela ordem do país, o que é inaceitável. Quando você rompe a ordem pública, vai aparecer uma ordem privada, e do mais forte, feudal, como no coronelismo no Nordeste dos anos 1930. Quando você rompe a ordem pública, fica a mercê da ordem privada, do mais forte, e às vezes do mais violento. Isso não protege a população, a imprensa e ninguém.

Arena Corinthians
Eu acompanho de perto porque moro em São Paulo e tenho sempre contato com os responsáveis. Depois do acidente, fui duas vezes ao estádio. Logo uma semana depois e voltei mais recentemente. A obra já está terminada, a peça que causou o acidente era a última peça a ser fixada ali quando aconteceu a tragédia. A obra evoluiu, a empresa tem grande experiência, o próprio Corinthians acompanha de perto, e o estádio será entregue com condições de receber os três eventos teste.

Investimento público na Copa
Não houve desvio de nem um centavo de recursos de saúde, educação ou transporte para os estádios. Os estádios são estaduais ou particulares. O orçamento do ministério do Esporte não chega a 1% do ministério da Saúde ou da Educação. Não há um conflito entre o futebol e a saúde. O esporte e a saúde. A cultura e a saúde. Não vai fazer o teatro municipal porque tem que fazer hospital ou escola? O mundo inteiro tem hospitais, estádios, áreas de lazer. Tem gente que tem razões de reinvindicações, que diz 'ah, prefiro saúde a futebol. Prefiro um posto de saúde a uma quadra esportiva'. Não é essa a contradição. Os recursos da saúde são muito maiores. É muito pouco recurso que vai para o esporte. 'Ah, mas vocês ofereceram renúncia fiscal.' Aqui no estádio do Corinthians houve renúncia de R$ 70 milhões para matéria prima, mas demos 27 bilhões de renúncia para a indústria automobilística, e não estou dizendo que foi errado. Por que fazemos renúncia? Assim você garante emprego, dá competitividade à indústria.

Motivos para receber a Copa
A África do Sul não fez a Copa porque precisava de empregos. Eles queriam à nação a projeção mundial da Copa. A maior intenção da Alemanha era mostrar o país depois da unificação, uma Alemanha pacífica, que sabia receber. A África do Sul precisava mostrar que o continente africano podia receber um grande evento. A Copa do Mundo, segundo as maiores consultorias, vai criar 3,600 milhões de empregos, vai estimular o PIB, isso tudo é muito importante para o Brasil. Acho que o Brasil ao realizar a Copa do Mundo mostra que o país é capaz de organizar e dar conta de um grande evento.

Racismo no futebol
O futebol é uma prática social, mais do que um esporte, é uma plataforma, um cenário de grande repercussão. Se você faz um gesto contra o racismo, ele repercute. Se pessoas intolerantes se manifestam, isso repercute. Tivemos um jogador da Croácia banido da Copa por um gesto que pronunciou depois do jogo que classificou sua equipe para o Mundial. Temos nos estádios da Europa demonstrações de intolerância.  São conflitos nacionais que extrapolam para as arquibancadas. O Brasil é miscigenado, a mistura de três troncos, europeu, africano e indígena. Temos muito orgulho disso. Mas aqui na América do Sul tivemos esse caso. O mais lamentável é que são índios que se mostram de forma preconceituosa contra um negro. A intolerância se mostra em qual quer circunstância.

Conversa com Eugenio Figueiredo (presidente da Conmebol) sobre o racismo contra Tinga
Eu disse que precisava de uma providência muito dura, muito enérgica. Não é comum na América do Sul esse tipo de manifestação. A Libertadores tem mais de sessenta anos. Os jogos acontecem durante esse tempo inteiro. Sempre foram momentos de disputa, mas nunca houve a extrapolação para essa atitude, a não ser em jogos da Seleção Brasileira de torcedores argentinos e uruguaios. No Brasil isso nós achamos uma coisa inaceitável para a formação do nosso país. E como um jogador brasileiro foi vítima, falei que solicitava providências enérgicas. Ele disse que estava examinando todos os dados. Nós já tivemos uma conversa anterior com Fifa e ONU para a questão da paz. O Papa Francisco tem interesse nisso, de fazer a Copa um momento de luta pela paz. E também faremos contra o racismo. A presidente Dilma Rousseff conversou com o presidente Joseph Blatter para termos a afirmação de um momento contra o racismo. Que se manifeste em faixas que os times conduzam, uma frase que possa ser pronunciada pelo capitão. A forma vamos examinar, mas haverá na Copa a firmação sim da luta contra o racismo, porque é a negação de tudo que é o futebol. Futebol é fantasia, ideal de igualdade.

Clássico Corinthians x Palmeiras
A rivalidade é uma forma de convivência entre os amigos. Eu era menino e jogava muito futebol. Em tempo, não em qualidade. Quando a gente ia jogar, falava que não era contra quem, e sim com quem. Futebol é uma coisa tão boa que quando você não tem adversário, divide dois times e joga com amigos. A rivalidade Corinthians e Palmeiras é linda. Em 1945 fizeram um jogo para arrecadar fundos para o partido comunista. Foi uma coisa de confraternização. Não havia essa violência. A rivalidade era uma coisa que tinha sua razão, mas terminava dentro do campo de futebol. Esse encontro é uma coisa boa, espero que aconteça sem violência esse clássico.

Terra

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