Imagem da Allianz Parque de outubro
A pouco mais de dois meses do ano do seu centenário, durante o qual está prevista a inauguração do novo estádio, o Palmeiras está em crise com a construtora responsável por erguer a arena.
– Não tenho culpa se o Paulo (Nobre, presidente) não consegue melhorar o time com novos jogadores. Por isso, ele foca a critica em nós. Como ele não tem dinheiro para o time, busca sucesso batendo em nós – declarou ao LANCE!Net Walter Torre, dono da WTorre.
Dentre mais de dez pontos da obra que geram divergência entre o clube e a WTorre, o número de cadeiras a que cada parte tem direito é o que causa mais questionamentos. A empresa julga ter a prerrogativa de comercializar 100% dos assentos, enquanto o Verdão diz que apenas 10 mil cadeiras especiais são reservadas ao parceiro no Allianz Parque.
Essa divisão não interfere na renda das partidas. Quem comprar uma cadeira terá direito a utilizá-la em todos os jogos da temporada, mas precisará pagar ingresso, cujo valor será todo repassado ao Palmeiras.
O clube acredita reunir provas de que, em 2008, quando o acordo foi firmado, a WTorre concordou em ter apenas 10 mil cadeiras. Atas de reuniões e e-mails são alguns dos documentos do dossiê alviverde.
– É mentira. Eles estão mentindo. Pode escrever isso no jornal. O documento é o mesmo que foi assinado no Conselho (Deliberativo). A arena é inteira nossa – rebateu Torre.
A assessoria de imprensa do clube respondeu por e-mail que “o presidente Paulo Nobre lamenta as infelizes declarações do Sr. Walter Torre e reitera que seguirá defendendo os interesses da Sociedade Esportiva Palmeiras a todo o custo”.
A última reunião entre Paulo Nobre e Walter Torre aconteceu na semana passada. No encontro, a construtora apresentou um estudo de uma consultoria internacional. O levantamento sustenta que o Palmeiras arrecadará R$ 1,4 bilhão a mais que o previsto nos 30 anos de concessão do estádio, caso a WTorre negocie as cadeiras. Esse valor seria obtido com a inclusão do sócio-torcedor e o percentual que a empresa repassará ao clube ao longo da parceria: 5% nos cinco primeiros anos, 10% nos cinco seguintes e assim por diante.
Com 71% das obras concluídas, a WTorre recalculou o custo total das construções (estádio, área social e remanejamento urbano) em R$ 630 milhões – a abertura deve acontecer entre abril e junho. Por questões de acessibilidade e tamanho dos assentos, a capacidade da arena pode cair de cerca de 45 mil lugares, como era esperado inicialmente, para 43.700.
Bate-bola com Walter Torre, ao LANCE!Net
LANCE!Net: O Palmeiras diz que o contrato de 2008, aprovado pelo Conselho, prevê a porcentagem de cadeiras, mas em outro documento, de 2010, há modificações. Qual é válido?
Só quero seguir o contrato. Não quero seguir outra coisa. É uma escritura pública.
L!Net: Como é a divisão, então?
A Arena inteira é nossa, não tem discussão. Não tem interpretação. Vamos seguir o contrato. O contrato foi validado pelo COF, assinado pelos conselheiros, ficou à disposição do clube e para consulta.
L!Net: Quando a obra será entregue?
Agora eu não sei mais, porque estamos reduzindo o ritmo dos trabalhos até que tenhamos um acordo com o Palmeiras.
L!Net: A WTorre vai parar a obra?
Não julgo necessário parar a obra. Acionar a arbitragem será suficiente. Para acionar, só estou aguardando um posicionamento definitivo do Paulo. Podemos nos reunir novamente nessa semana e, dependendo da resposta, vamos acionar a arbitragem.
Nota da Redação: Se houver impasse no acordo, está previsto em contrato que a Câmara de Comércio Brasil-Canadá será a responsável pelo julgamento do caso.
Escritório renomado respalda o Palmeiras
Ciente de que a briga com a WTorre pode ser resolvida por arbitragem, o Palmeiras consultou um escritório de advocacia de São Paulo para saber qual caminho tomar nas discussões. A avaliação foi de que o clube tem razão ao dizer que a construtora pode comercializar apenas 10 mil cadeiras e que a chance de perder a discussão judicialmente é muito pequena.
– O Palmeiras nos apresentou o contrato, para nós avaliarmos se o clube teria boas perspectivas em uma eventual disputa por arbitragem. Avaliamos que sim. Mais do que isso não posso falar – disse ao LANCE!Net o advogado Alexandre Bertoldi, do escritório Pinheiro Neto, responsável por analisar o acordo.
Respaldado por esta análise, o presidente Paulo Nobre apresentou a seus pares os argumentos que utilizará nas conversas com Walter Torre. Na semana passada, foi aprovado por unanimidade pelo Conselho de Orientação e Fiscalização.
Apesar da confiança, pessoas do clube ouvidas pelo LANCE!Net disseram que a intenção é evitar a arbitragem.
Cláusulas do contrato
Naming rights
A WTorre vendeu o nome do estádio para a Allianz por R$ 300 milhões, divididos em 20 anos, com cláusula para renovar por mais dez. Nos cinco primeiros, a construtora repassa 5% ao clube, e o valor cresce 5% a cada cinco anos.
Camarotes
Mesma lógica dos naming rights: WTorre comercializa os camarotes e repassa 5% do valor nos primeiros cinco anos. O valor cresce na mesma proporção do item anterior.
Renda dos jogos
O Palmeiras terá direito a 100% do valor arrecadado com ingressos para os jogos de futebol.
Cadeiras
A WTorre julga ter direito a comercializar todas as cadeiras, repassando um valor ao clube ano a ano, na mesma proporção dos naming rights e dos camarotes. Isso não interfere na renda dos jogos: quem comprar uma cadeira poderá usá-la em todas as partidas do ano, mas precisará pagar ingresso, cujo valor será todo do Palmeiras.
Visão do clube
Diz que a WTorre pode vender só 10 mil cadeiras especiais. As do clube não seriam vendidas, mas reservadas para sócios-torcedores (hoje são mais de 30 mil). A construtora sugere envolver os sócios-torcedores na venda de cadeiras coordenada por ela.
Setor sem cadeiras
É desejo do Palmeiras para o local destinado às organizadas, mas a construtora rejeita. Se a WTorre ficar só com as 10 mil cadeiras especiais, é possível que exista.538
Lance!
Comentários
Postar um comentário
Deixe seu comentário!