Torcedores do Atlético-MG criaram página no facebook para combater a homofobia
Torcedores do Cruzeiro seguiram os adversários e aderiram à campanha contra homofobia
Torcedores de Atlético-MG e Cruzeiro se “uniram” em prol de uma causa audaciosa: lutar contra atitudes homofóbicas, presentes constantemente no meio futebolístico. Por meio das páginas “Galo Queer” e “Cruzeiro/Anti-homofobia” no Facebook, fãs das duas maiores equipes de Minas querem promover o debate sobre o assunto e também criar ações críticas contra o preconceito. A ideia surgiu do lado atleticano, com a criação da página na última terça-feira.
O nome escolhido, “Galo Queer”, faz referência ao termo inglês que significa algo estranho, fora do comum ou padrões. Mas é utilizado erroneamente pelos nativos do país para se referir a homossexuais. Na quinta-feira, inspirados na ideia atleticana, cruzeirenses também criaram uma página semelhante, chamada “Cruzeiro/Anti-homofobia”. Os criadores, por meio da apresentação das duas páginas, disseram torcer pelas duas equipes, mas não revelaram a identidade.
O UOL Esporte tentou falar com os idealizadores, mas não recebeu resposta. Como em outros estados, em Minas Gerais, é comum atleticanos e cruzeirenses apelidarem preconceituosamente rivais. Aqueles que torcem pelo Atlético, por exemplo, costumam apelidar adversários de “marias”. Enquanto os torcedores celestes chamam os alvinegros de “rosanas”.
Este tipo de comportamento só contribui para a intolerância e para atos violentos e preconceituosos, segundo os organizadores das duas páginas nas redes sociais. Até o final da noite, as páginas atleticana e cruzeirense tinham, respectivamente, 2400 e 400 “curtidas”.
A cruzeirense Isabela Oliveira, 24 anos, fez questão de curtir as duas páginas. “Eu fui criada dentro do Mineirão. Para mim, desde pequena, sempre foi normal xingar os atleticanos como "viados", "bichas", "frangas" e ouvir isso da outra torcida em relação à torcida do Cruzeiro. Mas os tempos estão mudando e a homofobia está cada vez mais em evidência. Muitas das pessoas usam esses xingamentos sem pensar que, realmente podem ter gays nas torcidas”, afirmou.
Bióloga, ela acha que os movimentos surgiram muito motivados pelas declarações polêmicas do presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, deputado Marco Feliciano. “Porque um gay não pode torcer? São pessoas, apaixonadas por um propósito (o time) e não fazem mal a ninguém. Só querem ser respeitadas. Eu estou orgulhosa do movimento Cruzeiro/ Anti-homofobia e do Galo Queer, que foi o que começou. Precisou de um pontapé”, opinou.
O torcedor do Atlético, Luiz Souza Júnior, de 28 anos, advogado, considerou a atitude positiva e espera que ganhe mais repercussão. “Toda forma de se manifestar é positiva, desde que não seja desrespeitosa coisa que não é. Lutar contra a discriminação e homofobia é algo importante que a nossa sociedade deveria se juntar para fazer. O futebol, como principal esporte do país e que reúne todos os estilos de pessoas é um bom canal social para isso”, observou.
O sociólogo da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e especialista em violência contra homossexuais, Moisés Augusto Gonçalves, considera positiva a iniciativa e ressalta o papel importante das torcidas organizadas na execução de projetos que visem promover a diversidade.
“Estamos no mundo das redes sociais, em que temos a possibilidade de articulação, de contato e mobilização. Considero positivo este tipo de atitude, só tenho que parabenizar. Estamos pensando em um lugar de encontro, que não só possibilita o encontro de pessoas, mas como também a possibilidade da discussão”, analisou. “As torcidas têm essa dimensão, também, plural, da busca por direitos e deveres, e também pela diversidade”, acrescentou.
Polêmicas e mudança de atitude
Entretanto, não foram todos que aprovaram a criação. Na página atleticana, por exemplo, o escudo do Atlético foi modificado com as listras verticais em branco e preto sendo substituídas por outras cores. A ideia não agradou aos atleticanos, que disseram que a mudança teria sido feita por cruzeirenses.
“Boa noite, por favor tenha respeito ao escudo do Clube Atlético Mineiro, se você tem ideologia liberalista quanto simbologia sexual, faça o seu movimento sem o escudo e o nome do clube. Tire o escuto do Atlético Mineiro urgente ou aproveite e exclui a pagina”, escreveu Alexandre Moreno na página do movimento no Facebook.
A criação e divulgação do “Galo Queer” criou uma onda de revolta e polêmica por parte dos atleticanos no twitter. Vários torcedores resolveram se mostrar contra a iniciativa e chegaram a atribuir o fato à torcida do Cruzeiro, que teria criado o perfil no Facebook.
“Por que a GaloQueer apareceu só agora? Pegar o embalo que o Galo se encontra hoje? Pra aparecer, sei lá”, escreveu David Galo Vingador , no twitter. “Futebol sempre foi coisa máscula. Machismo ou não, sempre foi. Eu não concordo, não quero, e nem aceito esse tal de GaloQueer. Me respeitem”, disse João Paulo Cheab.
Por outro lado, outros torcedores do clube mineiro mostraram contentamento com a campanha e deram força para a criação. Como Gustavo Bicalho. “Viva o movimento Galo Queer! Iniciativa mais bonita e corajosa dos últimos anos no futebol. # Galoqueer”. Elen Campos também aprovou a ideia. “E em apenas dois dias, a Galoqueer fazendo sucesso no Facebook. Que orgulho!”, postou.
UOL Esporte
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