Clemilda Fernandes recebeu verba do Ministério mesmo durante suspensão por doping
Anunciado como a maior ajuda do governo federal aos atletas para o Rio-2016, o novo Bolsa-atleta beneficia atletas envolvidos em casos passados de doping. Entre eles, está a ciclista Clemilda Fernandes, que foi acusada pelo próprio Ministério do Esporte de receber irregularmente do programa enquanto estava suspensa por doping. Veteranos cujas presenças são uma incógnita nos próximos Jogos também são favorecidos pela Bolsa.
Levantamento do UOL Esporte identificou pelo menos sete atletas já flagrados em exames antidoping na lista de 4.992 divulgada nesta sexta-feira pelo Ministério do Esporte. São esportistas de atletismo, natação e ciclismo que já cumpriram suas suspensões e estão em atividade.
No Reino Unido, última sede da Olimpíada, o governo decidiu vetar qualquer fundo público para atletas que já tivesse cumprido uma suspensão de pelo menos dois anos por doping. A tese do organismo britânico de esporte é de que receber o dinheiro é um privilégio, não um direito dos atletas. Assim, não deve ser dado para quem já tentou enganar os meios esportivos.
"Temos trabalhado com a questão educativa, que inclui exames antidoping para os participantes do Bolsa-atleta. Mas, para receber o Bolsa, o que conta é o critério: se está treinando e competindo ou não. Seguimos o que diz a Autoridade Antidopagem: enquanto está suspenso, não pode receber", explicou o secretário de Alto Rendimento do Ministério, Ricardo Leyser.
Entre os favorecidos pela bolsa olímpica, a mais valiosa no valor de R$ 3.100, está a ciclista Clemilda Fernandes, que atua em provas de estrada. Ela foi suspensa em 2009 após ser flagrada num antidoping. Ficou dois anos suspensa, mas a Confederação Brasileira de Ciclismo não informou o Ministério. Assim, ela ficou dois anos recebendo o Bolsa-atleta de forma irregular, pois não podia competir, nem treinar.
O Ministério pediu ressarcimento dos valores pagos a atleta, que totalizavam R$ 64 mil. O dinheiro foi devolvido. O caso não impediu que ela estivesse na lista de 2013, após competir em Londres-2012.
"Ela devolveu o dinheiro. Se houve fraude, não foi dela. Foi da Confederação que não nos informou", defendeu Leyser. "Pode haver uma punição na esfera administrativa e judicial porque há um processo em curso. Se for cometido um ato ilícito, se for constatado que ela cometeu um problema, pode sofrer uma punição e não poder mais receber. E até consequência mais graves" O UOL Esporte não encontrou Fernandes para comentar o caso.
Outro ciclista já reprovado no antidoping que receberá fundos do governo é Cleberson Weber, cujo exame constatou a existências de EPO em 2009, o que o levou a ser suspenso.
No atletismo, a bolsa olímpica vai beneficiar Bruno Lins, velocista pego no caso de doping coletivo do Grupo Rede, Maurren Maggi, saltadora em distância, medalhista de ouro em Pequim-2008 e com exame positivo em 2003, e Elisângela Adriano, arremessadora de disco suspensa em 1999. Esses todos estão na maior faixa de remuneração, a olímpica.
Dois atletas da natação também envolvidos com doping estão na lista do ministério: o velocista Nicholas Santos foi flagrado juntamente com César Cielo por uso de furosemida, em 2011. Sua suspensão, como a do então campeão olímpico, foi curta.
A nadadora Pamela Souza teve caso ainda mais recente de doping. Foi flagrada no meio de 2012 com a substância furosemida em sua urina. Levou uma suspensão de seis meses com a alegação de que não era possível determinar como a substância entrou no seu corpo.
O Ministério também investiu em atletas veteranos cujas presença no Rio-2016 é um incógnita até porque alguns chegaram a anunciar a aposentadoria. É o caso da arremessadora Elisângela Adriano. Ela estará prestes a completar 44 anos na Olimpíada no Brasil. Antes de Londres-2012, ela disse que disputaria seu último evento.
Outro que está no Bolsa-atleta é o mesa-tenista Hugo Hoyama, que terá 47 anos na Olimpíada do Rio-2016. Ainda há veteranos como os velocistas Sandro Viana e Lucimara Moura, que terão, respectivamente, 39 anos e 42 anos nos próximos Jogos.
"No Bolsa, levamos em conta apenas o passado. Esse reflete os resultados de 2011. É um direito adquirido. Para se manter, o atleta precisa continuar treinando e competindo. Não se vê o futuro", contou Leyser. "O futuro será analisado no bolsa pódio. São duas lógicas separadas. No bolsa pódio, terá uma análise do potencial do atleta para 2016."
Esse programa terá salários maiores, até R$ 15 mil, e seus integrantes serão anunciados em março. No total, o investimento nos dois incetivos é de R$ 180 milhões. O atleta pode acumular os dois pagamentos, excepcionalmente, neste ano, porque os critérios são diferentes. Para 2014, a análise será unificada.
O total de quase 5 mil atletas no Bolsa-atleta, uma expansão de 700 em relação ao ano anterior, é um reflexo de orçamento sem restrições para o programa e também de uma política mais agressiva do governo. "Antes, ficávamos esperando os atletas se inscreverem e apenas divulgávamos o programa. Agora, fomos atrás e ligamos para eles os incentivando a se inscrever", finalizou Leyser.
UOL Esporte
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