Bernardinho pode se despedir da Seleção Brasileira
Quem está acostumado a olhar para a quadra e ver um Bernardinho enérgico, dando broncas e fazendo gestos fortes deve ter estranhado ao olhar a postura do treinador nos primeiros dois sets da sua terceira decisão olímpica consecutiva com a Seleção masculina de vôlei. Sem pular, sem berrar com a mesma frequência que dele se vê normalmente, a única característica que permaneceu no comandante do Brasil foi o nervosismo, só que dessa vez contido.
Rangendo os dentes, ele sabia que mesmo com o favoritismo o Brasil precisava mostrar dentro de quadra que era maior que os russos. Bernardinho sabia que sua equipe não poderia deixar escapar mais uma chance como fez em 2008, ao perder para os Estados Unidos na decisão. Perfeccionista, fazia pequenas reclamações principalmente com o meio de rede Lucão nos dois primeiros sets em que o Brasil passeou dentro de quadra.
Até aquele momento, o treinador não tinha nenhum motivo para reclamar. Tirando uma derrota para os algozes de 2008, o Brasil passeou durante a competição. Atropelou a Argentina nas quartas, não tomou conhecimento da Itália na semifinal e ainda fazia um confronto tranquilo para uma final de Olimpíada contra os russos. Quando o terceiro set se encaminhava para uma vitória fácil, veio a tormenta.
A Seleção sofreu um "apagão" no fim da parcial, deixou os russos reagirem e eles cresceram na partida. O lado explosivo do treinador então voltou à tona. Berros, reclamações e batendo as mãos nas pernas a cada erro, ele não poderia acreditar que um título tão próximo estava escapando. Os europeus passaram a sacar forte e a equipe brasileira se perdeu em quadra. O treinador tentou usar as armas que tinha no banco: promoveu a entrada de Giba e Ricardinho, dois mais experientes do time. De nada adiantou e os russos empataram o jogo.
O treinador conversava, buscava através de sua comissão técnica uma solução para não ter que reviver a tristeza de 2008. Porém, veio o tie-break e nele o Brasil se afundou ainda mais na areia movediça que entrou ao longo do confronto. Apática, a Seleção parou no bloqueio russo e tirou de vez Bernardinho do sério.
O nervosismo do técnico tem uma razão incluída neste enredo. Há alguns dias, dentro da Olimpíada, Bernardinho declarou que pode encerrar a sua passagem pela Seleção após Londres. Declarou que ou largará o time da Unilever, projeto que ajudou a fundar no vôlei e que tem contrato, ou deixará o comando do Brasil. Vários fatores devem influenciar nessa decisão: a necessidade de passar mais tempo com a mulher Fernanda Venturini e as filhas, o cansaço de tanto foco e noites mal dormidas por conta da Seleção ou até mesmo por não aguentar mais escutar as críticas por parte da imprensa e torcedores.
Se este é o fim de uma história, Bernardinho tem motivos de sobra para sair chateado. Após disputar uma Liga Mundial muito abaixo da expectativa, o time voava nos Jogos Olímpicos. Chegou na decisão como franco favorito para fazer a dobradinha com o vôlei feminino. A medalha de prata vem com um gosto provavelmente mais amargo que em Pequim. A derrota pode fazer Bernardinho repensar a possível saída.
Terra
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