Traffic enfrenta momento conturbado e naufrágio em negócios

Dono da Traffic, Jota Hawilla tenta reerguer negócio após vários baques em 2011. Foto: Ricardo Matsukawa/Terra

Dono da Traffic, Jota Hawilla tenta reerguer negócio após vários baques em 2011

No fim de 2011, um ofício curioso circulava na luxuosa sede da Traffic na Rua Bento de Abreu, em São Paulo. Seria também enviado a Porto Feliz, cidade vizinha à capital onde atua o Desportivo Brasil. O documento tratava de cortes no orçamento do clube criado e mantido pela empresa de marketing esportivo. Entre as disposições mais diversas possíveis, curiosidades como a substituição de peito de peru por presunto no café da manhã dos jogadores e até a demissão das arrumadeiras de cama. Os atletas precisariam assumir esta missão matutina.

O ajuste de orçamento no Desportivo Brasil é apenas um exemplo da crise sem precedentes que atinge a Traffic nos últimos meses. Cortes drásticos foram realizados a partir de Júlio Mariz, presidente demitido, e uma série de diretores de alto escalão também foram dispensados. O fim da parceria com Ronaldinho e Flamengo foi outro sintoma da tempestade.

Segundo o Terra apurou, a Traffic investiu cerca de US$ 200 milhões (R$ 342 milhões na cotação atual) em projetos como a contratação de Ronaldinho no Flamengo, a compra de direitos de jogadores, profissionais e para as categorias de base, e parcerias com o Estoril (Portugal) e Miami FC (Estados Unidos).

A principal causa para a crise, ainda assim, é o prejuízo pela perda da prioridade na comercialização dos direitos de transmissão da Copa América, justificada por atritos junto à Conmebol. Jota Hawilla, dono da Traffic e amigo antigo de Ricardo Teixeira, já não tem mais relação sólida com o ex-presidente da CBF e perde espaço para o concorrente Kléber Leite, ex-presidente do Flamengo. Mas não é só. O Terra mostra todos os detalhes desse processo descendente.

Os prejuízos milionários: Teixeira passa bastão de Hawilla para Kléber Leite

Ex-funcionários da Traffic apontam a perda da Copa América como a principal razão para a crise que gera cortes em vários departamentos. Desde 1987, a empresa era responsável pela comercialização dos direitos do torneio. Só em 2011, 54 países compraram a transmissão. A empresa viu o negócio crescer em 40% em relação à edição 2007, mas perdeu espaço.

Em novembro do ano passado, a Conmebol emitiu comunicado que apontava Jota Hawilla como persona non grata e repassou a comercialização da Copa América à empresa uruguaia Full Play. Presidentes das dez filiadas da Conmebol, inclusive Ricardo Teixeira, deram aval à manobra.

O negócio pode parar nas mãos também da Klefer, grupo de marketing esportivo que pertence a Kléber Leite, ex-presidente do Flamengo e aliado de Teixeira. "Já temos uma parceria com eles, que é para o Superclássico das Américas (amistosos entre Brasil e Argentina). Há a possibilidade de isso se estender também para a Copa América, sim", afirmou Kléber ao Terra.

Os prejuízos milionários: Ronaldinho e Maracanã

Um projeto cujo investimento não será recuperado é Ronaldinho, contratado pelo Flamengo com aval da Traffic. A empresa se responsabilizava por pagar 75% dos salários do jogador (R$ 750 mil mensais) em 2011, mas demorou a conseguir parceiros para explorar a imagem do camisa 10. Até um título de capitalização foi criado para tentar aliviar a falta de recursos.

Traffic e Flamengo romperam no início de fevereiro depois dos direitos de imagem de Ronaldinho atrasarem por seis meses consecutivos. A empresa ainda foi deixada de lado pela Nine, concorrente que pertence a Ronaldo e fechou a cota máster do uniforme rubro-negro com a Procter & Gamble em agosto de 2011. O patrocínio fechado entre Fla e Cosan para a manga da camisa, no começo desse ano, selou o fim da parceria deficitária com o clube carioca.

Bem relacionada no Fluminense, a Traffic imaginava que a parceria com o Flamengo fosse o que caminho perfeito para se tornar a administradora do Maracanã, um lucrativo negócio. As entradas de Eike Batista e da IMX na parada, entretanto, deixaram a empresa de Jota Hawilla para trás. O rompimento do Fla com a Traffic e o próprio Fluminense por conta de Thiago Neves frustraram os planos de uma vez.

Os prejuízos milionários: jogadores

Os maiores investimentos da Traffic foram na contratação de jogadores para praticamente quase todos os grandes e médios clubes do Brasil. Fluminense e Palmeiras foram os principais parceiros, sobretudo o clube paulista. Em 2009, a empresa chegou a ter mais de dois terços do elenco palmeirense e rompeu na reta final da gestão de Luiz Gonzaga Belluzzo.

Não há dados objetivos sobre os prejuízos, mas uma série de jogadores em quem a Traffic investiu não surtiu efeito. Só no Palmeiras, nomes como Marquinhos, Willians, Diego Souza, Jumar, Jefferson, Fabinho Capixaba, Sandro Silva, Lenny, Jefferson, Evandro e Rivaldo não vingaram. As negociações de Keirrison e Henrique, contratados junto ao Coritiba e repassados para o Barcelona, foram os negócios mais lucrativos do projeto, mas se tornaram polêmica na Espanha. Ambos nunca atuaram pelo clube catalão e as portas se fecharam para mais operações desse tipo.

Terra

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