Ramires dá assistência e confirma fama de melhor brasileiro na Europa

Ramires deu trabalho para o poderoso Barcelona e foi decisivo na vitória do Chelsea. Foto: AP

Ramires deu trabalho para o poderoso Barcelona e foi decisivo na vitória do Chelsea

É uma cena comum: Ramires recebe a bola em velocidade, avança com ela dominada, dribla se for preciso e chega ao ataque para dar uma assistência ou fazer gol. Só o que tem mudado é o local onde acontece essa cena. De Joinville a Londres, passando por Belo Horizonte e Lisboa, Ramires tem feito isso e muito mais para se consolidar como melhor brasileiro na Europa atualmente. Com a camisa do Chelsea, o rápido volante brilhou mais uma vez nesta quarta-feira, pois deu o passe para o gol de Droba e contribuiu com a vitória contra o Barcelona, por 1 a 0, pela semifinal da Liga dos Campeões. E, dessa forma, vai receber elogios e ser destaque na imprensa. Algo que também tem sido comum na Inglaterra.

Após vencer o Barcelona, Ramires mostrou sua empolgação por ter sido decisivo na partida: "Lampard teve visão de jogo e foi muito feliz no lançamento. Consegui dominar bem a bola e encontrar o Drogba na área. Nossa parceria tem dado certo. Contra o Benfica, também tive a felicidade de dar o passe para ele marcar. A vantagem é mínima, mas é nossa. Independente do que aconteça na Espanha, quebramos a invencibilidade deles na competição e mostramos que podemos chegar nessa tão sonhada final", concluiu.

Nenhum brasileiro semifinalista na Liga dos Campeões tem um papel tão revelante para sua equipe como Ramires. David Luiz é instável no próprio Chelsea. Marcelo e Kaká ainda lutam pela titularidade no Real Madrid, assim como Luiz Gustavo e Rafinha no Bayern de Munique. Adriano é reserva de Abidal no Barcelona e quem chega mais perto de Ramires é Daniel Alves. Mas o lateral direito costuma ser coadjuvante, enquanto o meio-campista do Chelsea tem sido protagonista repetidas vezes - nas oitavas de final da Liga dos Campeões, contra o Napoli, Ramires também tinha começado a jogada do gol decisivo de Ivanovic.

Por tudo isso, mesmo antes do jogo contra o Barcelona, um dos principais jornais ingleses, o Guardian, destacou a importância de Ramires para o Chelsea. Um texto assinado por Michael Cox creditou a ele a boa fase vivida pelo time londrino neste final de temporada - além de virar semifinalista da Liga dos Campeões, o Chelsea segue vivo na briga pelo terceiro lugar no Campeonato Inglês.

Ainda é pouco para um time que investe tão alto, mas o começo de temporada foi pior. Com Andrés villas-Boas como técnico, o time vivia instabilidade constante. Com o interino Roberto Di Matteo, que deu moral e liberdade para Ramires, o time passou a apresentar um futebol melhor e viu o brasileiro se firmar como um "mestre do time em ascensão", como denominou o jornal inglês.

Ramires assumiu esse papel e chamou a responsabilidade para si. Depois do apito final, ele contou porque a partida contra o Barcelona era tão importante para ele: "sabia que o time precisava de mim e que seria uma alternativa de desafogo para a defesa. Procurei jogar com personalidade, não me intimidar por ter o Barcelona como adversário e graças a Deus acabou dando tudo certo. Fizemos nosso jogo, buscando os contra-ataques, o que é totalmente legítimo", argumentou ele.

O que mais tem chamado a atenção dos ingleses é que Ramires não é um brasileiro típico. Não é sua habilidade, dribles ou fintas que construíram seu sucesso na Inglaterra. Mas sim sua energia. Ramires tem se mostrado capaz de defender e atacar com a mesma disposição.

"Ele não é nem um frango acéfalo e nem um suporte sólido. Ele é um híbrido dos dois", escreveu Michael Cox para destacar a versatilidade que o próprio Ramires sabe explicar melhor: "quando a equipe está defendendo, eu tento fechar o meio-campo. E, quando estamos atacando, eu tenho que abrir para dar mais espaço aos jogadores criativos e estar disponível".

Mas a passagem de Ramires pelo Chelsea não tem sido só de sucesso. Ele até teve um bom começo, mas criou uma expectativa errada sobre seu futebol. Era esperado que ele fosse um jogador mais ofensivo, um "sucessor de Robinho", como o Guardian definiu em sua coluna.

Mas o passar do tempo mostrou que a disciplina e a resistência de Ramires é que realmente fazem do volante um jogador valioso. Ele consegue cumprir sua parte na defesa e ainda aparece para brilhar no ataque, com passes e gols. O que na Inglaterra chamam de "box-to-box", mas no Brasil sequer tem nome. Ramires é realmente um jogador diferenciado para os padrões brasileiros.

E a Seleção?
O fato de Ramires estar atualmente fora da Seleção Brasileira certamente deixaria os ingleses espantados. Ele não é convocado por Mano Menezes desde o amistoso contra a Alemanha, em agosto do passado. Seis convocações vieram depois, mas Fernandinho, do Shaktar Donetsk, é quem tem desempenhado a função de segundo volante na equipe. Nem um lugar no banco de reservas foi guardado para Ramires. Mano pouco foi cobrado sobre isso, mas com a ascensão recente do "mestre" do Chelsea, é possível que o técnico tenha que justificar melhor sua escolha.

Em 2010, Ramires estava com a Seleção Brasileira para disputa da Copa do Mundo da África do Sul. Dunga costuma o escalar como meia aberto pela direita, mas uma lesão lhe tirou dos jogos decisivos. O Guardiantambém lembrou disso e destacou como é difícil achar outro jogador como ele. "Ninguém mais poderia desempenhar o papel de Ramires corretamente - Elano não tinha pernas para isso, e Dani Alves não estava acostumado a pegar a bola pelo centro, em posições avançadas". Ramires fez falta naquela época e ainda faz falta atualmente. Resta saber até quando isso será comum.

Terra

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