Para Elson, pressão pelo ouro está com Isinabayeva: "se ela não ganhar, vai ser um pesadelo"
Não é muito difícil mensurar o peso que a presença de uma atleta do calibre de Yelena Isinbayeva tem em qualquer competição mundial. A russa é um verdadeiro fenômeno do salto com vara: única a passar a marca dos 5 m, ela quebrou o recorde mundial 28 vezes e conquistou duas medalhas de ouro olímpicas. Tamanha representatividade faz com que seja muito interessante do ponto de vista midiático e financeiro que uma atleta dessa triunfe na Olimpíada. Segundo o técnico Elson Miranda, há uma tendência de movimentação para que isso aconteça em Londres.
Elson expôs tal preocupação durante entrevista exclusiva ao Terra em uma manhã de sábado. Sentado ao lado de Fabiana Murer no salão do prédio em que moram, próximo ao Ibirapuera, em São Paulo, ele falava sobre o inconstante clima londrino. "É lógico que para o salto com vara, se chover muito forte antes da prova, a organização, justamente por causa da Yelena e só por causa dela, vai adiar a disputa", apontou. E comparou: "se fosse no masculino, que não tem ninguém importante, eles falariam 'saltem aí, o problema é de vocês'". Mas Isinbayeva tem tantos privilégios assim?
"Total. A Olimpíada já vai ser feita para ela. Quer dizer: não é que a Olimpíada é feita para ela; é feita para ela ganhar. Eles querem que ela ganhe porque seria a terceira medalha de ouro, uma festa brutal. Por que vai entrar uma brasileira para estragar a festa da Olimpíada? Mas é lógico que tem que sair um vencedor. Então, tudo bem. Mas que eles preferem que seja a Yelena à Fabiana, isso está na cara", respondeu, antes de explicar de que maneira pode se dar o favorecimento à principal competidora da modalidade.
A determinação das alturas iniciais da final, feita pela organização da prova, pode ajudar Isinbayeva a fazer menos saltos do que as adversárias. Em vez de subir de 5 cm em 5 cm, por exemplo, poderiam elevar o sarrafo de 4,70 m para 4,80 m, marca que poucas atletas alcançam e suficiente para a conquista do título mundial indoor pela russa em Istambul, em março. Indagado sobre se isso já havia ocorrido antes, Elson disse: "várias vezes". Fabiana Murer permaneceu calada e atenta ao assunto durante a explicação do marido e treinador.
Para o técnico, Isinbayeva chamou mais atenção do que Usain Bolt durante a Olimpíada de Pequim - ambos conquistaram o ouro com direito a recorde mundial no Estádio Olímpico. Em Londres, ela também será destaque, especialmente porque voltou a conseguir bons resultados depois de três anos nos quais decepcionou e até se submeteu a um afastamento do esporte. Em março, além do Mundial, ela conquistou o GP de Estolcomo com novo recorde mundial indoor: 5,01 m. "Você acha que não é do interesse deles que Usain Bolt ganhe de novo?", insistiu Elson Miranda.
Dificuldade pelo ouro
Apesar dos problemas dos últimos anos, Isinbayeva tem desempenho acima das demais competidoras, o que dificulta muito a busca por uma inédita medalha de ouro de Fabiana Murer. Antes de Elson abordar o favorecimento à russa, ela definiu as chances desta forma: "é possível, mas eu não falo que é muito real porque é muito difícil. Tem muitas atletas com chance. A Yelena mesmo acabou de bater o recorde mundial". Fabiana tem como melhor marca 4,85 m, enquanto a adversária já chegou aos 5,06 m.
"Para a Fabiana, tem que existir uma condição em que está tudo certo para o resultado ser o melhor. Não é que se ela for mal ainda consegue", explicou Elson Miranda. "A Yelena, se for mal, ainda pode ganhar. Se ela for muito mal, fica complicado, o percentual (de chance) dela diminui, mas ainda está lá. Ela tem uma reserva. A gente não tem. A gente tem que chegar lá e fazer 110% para conseguir a medalha", apontou. E relembrou que há oito anos, enquanto Fabiana falhava em conseguir índice para os Jogos de Atenas, a russa era recordista mundial e venceria ao ouro.
Fabiana Murer tenta não pensar nisso. Disse que está ciente de que há expectativa quanto ao seu desempenho e visualiza etapas: primeiro a eliminatória, classificada por ela como "a prova mais difícil", depois a briga por medalha e, por fim, um possível ouro. "Eu acho que o peso maior, aí, está para a Yelena", apontou Elson Miranda. "Ela tem muito mais a necessidade de medalha de ouro do que a Fabiana."
"Eu penso que se a Fabiana ganhar o ouro vai ser uma coroação. Ela, se não ganhar, vai ser um pesadelo. É difícil. Ou então se ela ganhar vai ser um alívio. Não vai ser coroação, vai ser alívio: ufa, ela ganhou", complementou. Na última vez que enfrentou Isinbayeva, no Mundial de Daegu, em 2011, Fabiana Murer venceu: conquistou o ouro enquanto a russa sequer chegou ao pódio. Para se dedicar aos treinos, Murer não fez a temporada indoor e optou por não defender o título mundial, que acabou nas mãos da adversária.
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