Presente em último clássico, Raí relembra charme do "Come-Fogo"

Raí começou a carreira no Botafogo-SP e participou de diversos clássicos Come-Fogo. Foto: Ricardo Matsukawa/Terra

Raí começou a carreira no Botafogo-SP e participou de diversos clássicos Come-Fogo

Era 20 de julho de 1986. No Estádio Palma Travassos, Botafogo-SP e Comercial-SP fizeram um clássico morno que culminou com um empate sem gols pelo Campeonato Paulista. Em campo, um meia habilidoso com a camisa tricolor chamava a atenção: era Raí, ainda com 21 anos e no início da carreira. Presente no último "Come-Fogo" da elite, o ídolo são-paulino lembra com saudosismo do charmoso clássico de Ribeirão Preto, de volta ao Paulista neste sábado após mais de 25 anos.

"É tido como um dos mais charmosos do interior paulista pelo nome e tradição: 'Come-Fogo'. E também por representar o interior de São Paulo", relembra o craque, em entrevista ao Terra. "Neste jogo, os dois times estavam mal e o empate foi bom para os dois saírem do perigo do rebaixamento", definiu o ex-meia, que relembra: "eu quase fiz um gol lindo de falta".

Os 15.714 pagantes daquela tarde em Ribeirão Preto mal imaginavam, contudo, que aquele seria o último "Come-Fogo" da primeira divisão estadual por um período de 26 anos. Na ocasião, ambos os times iam mal das pernas e tropeçavam na tabela de classificação: o Comercial era o 14º colocado antes do jogo, enquanto o Botafogo era o 17º.

Rodadas depois, o time alvinegro de Ribeirão sucumbiu em diversos jogos e ficou entre os dois últimos colocados da competição ao lado do Paulista de Jundiaí, sendo rebaixado à recém-criada Divisão Intermediária. Seria o fim de um dos principais clássicos do interior paulista na elite do futebol estadual, principalmente porque o Comercial demoraria 26 anos para disputar a Série A-1 novamente.

"Os times foram mal administrados, e acompanharam a crise geral dos clubes do interior", justificou Raí, que ainda apontou ideias para que os dois rivais locais não voltem a viver tal situação novamente. "A solução seria ter grandes investidores, talvez até locais. Mas tem que ter gente com poder e credibilidade para mobilizar estes atores", definiu o ex-camisa 10, bicampeão mundial com o São Paulo e tetra com a Seleção.

Os 26 anos de espera do Come-Fogo

Depois do fatídico 1986, o Comercial viveu anos instáveis. Caiu à Série A-3 (terceira divisão), foi campeão em 1993, alternou subidas e descidas até, enfim, retornar à sonhada elite, após boa campanha na A-2 na temporada 2011. O Botafogo, por sua vez, viveu uma das maiores épocas de sua história ao ser vice-campeão brasileiro da Série C em 1996 e da B em 1998, atingindo uma histórica primeira divisão nacional. Contudo, não se manteve e foi rebaixado. Em nível estadual, chegou a ser vice-campeão em 2001, mas anos depois caiu à A-3. Conquistou a terceira divisão em 2006 e, posteriormente, retornou ao principal patamar de São Paulo.

Em 2012, finalmente os dois grandes clubes de Ribeirão Preto estão de volta à primeira divisão paulista e, neste sábado, às 19h30 (de Brasília), disputam o "Come-Fogo" após 26 anos de espera. Bom para a cidade, bom para o torcedor e também para ídolos consagrados, como Raí, um dos grandes nomes da história desse confronto.

"Me lembro de vários Come-Fogo desde o juvenil. Meu primeiro gol no Come-fogo foi no juvenil, nunca vou esquecer, foi meu primeiro gol importante. Foi um chute de fora da área, nem acreditei", afirmou o ex-camisa 10, que ainda relembrou da passagem de seu irmão - futuro ídolo corintiano - pelo clássico ribeirão-pretano.

"Como torcedor, minha maior lembrança foi acompanhando o grande time na época do Sócrates, ele fazia 'chover'", afirmou o ídolo são-paulino, que poderá rever um "Come-Fogo" na elite neste sábado, após mais de duas décadas e meia de espera. "Os times vão melhor quando há esta rivalidade", concluiu Raí.

Provocações revivem clima de rivalidade

A cidade de Ribeirão Preto já transpira seu grande clássico desde que foi confirmada a volta do Comercial à primeira divisão do Campeonato Paulista. Não apenas entre os torcedores, que fizeram fila para comprar ingressos, mas especialmente entre os próprios clubes.

O presidente do Comercial, Nelson Lacerda, por exemplo, alfinetou o arquirrival ao dizer que o clássico deste sábado será "só Come-Come". "Eu acho que vai ser só Come-Come, pois pelo que vi (sobre o revés do Botafogo por 4 a 0 contra o São Paulo) vai ser Come-Come mesmo", definiu.

O Botafogo respondeu com o técnico Lori Sandri, que cutucou o desafeto ao relembrar episódio em que o cartola havia prometido desfilar em carro aberto para comemorar o título da Copa Paulista - o time alvinegro acabou derrotado pelo Paulista. "Não sou eu que falo que vou desfilar em carro de bombeiros", cutucou.

História do maior clássico de Ribeirão Preto

O primeiro Come-Fogo oficial foi disputado no dia 19 de dezembro de 1954, no antigo estádio Luís Pereira. O empate por 1 a 1 foi um divisor de águas na história dos dois clubes, e foi justamente por ele que o apelido folclórico deste jogo foi dado pelo cronista esportivo Lúcio Mendes. Nascia aí o maior clássico do futebol de Ribeirão Preto.

Antes dessa data, que marcou o primeiro choque entre ambos na era profissional, contudo, as duas principais agremiações da cidade já disputavam alguns confrontos na era amadora. Até então haviam sido 12 vitórias do Comercial e apenas três do Botafogo, com outros quatro empates.

A história mudou de figura depois do profissionalismo, com o time tricolor se impondo perante seu arquirrival. Nessa nova etapa e até os dias de hoje foram 54 triunfos botafoguenses, com outros 29 do rival alvinegro e 51 empates. O clube botafoguense, aliás, viveu melhores dias e chegou até a disputar a primeira divisão brasileira.

Nos últimos 26 anos, as duas equipes se enfrentaram por Série A-2 paulista, Série C brasileira, Copa Paulista e amistosos. Que a partir de 2012, portanto, Botafogo e Comercial escutem as palavras de Raí e jamais deixem o Come-Fogo longe da primeira divisão paulista novamente. O futebol paulista agradece. Ribeirão Preto também.

Ficha técnica do último jogo na Série A-1:

COMERCIAL 0 X 0 BOTAFOGO

Data: 20/07/1986
Estádio: Palma Travassos, em Ribeirão Preto
Público: 15.714 pagantes
Renda: cr$ 330.740,00
Árbitro: Dulcídio Wanderlei Boschila

COMERCIAL: Moacir; Gaspar, Marlan, Nenê e Odirlei; Derval, Paulo Bem e Manguinha (Ronaldo); Lúcio, Roberto Carlos e Rômulo (Glauco)

BOTAFOGO: Gasperin; Edevaldo, Lúcio, Valdir Carioca e Ari; Miel, Marco Antônio Boiadeiro e Raí; Newton (Helinho), Peu (Nélson Bertolazzi) e Mário Sérgio

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