Juliana Veloso mira 2012 e rebate críticos: "pensam que eu já era"

Melhor brasileira dos saltos ornamentais, Juliana Veloso ainda acredita em bons resultados e sonha com medalha olímpica aos 30 anos. Foto: Fluminense/Divulgação

Juliana Veloso ainda sonha com vaga para Londres 2012

A consolidação como maior atleta brasileira dos saltos ornamentais, os 30 anos de idade e o filho Pedro, nascido em 2009, não tiraram a gana de Juliana Veloso pelo sonho de uma medalha inédita para o Brasil. Em meio aos treinos para o Mundial de Xangai (de 16 e 31 de julho), onde ela espera conquistar o índice para os Jogos Olímpicos de 2012, a atleta contraria quem não acredita na continuidade do trabalho.

"Muita gente pensa que a Juliana já acabou, mas não estou nem aí. Não quero provar nada para ninguém, simplesmente continuo saltando, e faço o que gosto. Vejo que estou cada dia melhor. O dia que eu olhar e ver que não vou mais para frente, que eu não posso melhorar, eu paro. Mas enquanto isso não acontecer, eu vou continuar", afirmou.

Juliana, que conquistou a primeira medalha nos saltos ornamentais para o Brasil em um Pan-Americano (Santo Domingo, 2003), afirma contar apenas com o apoio do Fluminense, da sua treinadora Andrea Boheme e do patrocinador. Sem citar entidades ou nomes, ela se diz magoada com a falta de incentivo.

"Não pensam em investir em mim para 2012. Eu tenho certeza, não pensam em mim", desabafa. No entanto, a atleta tem confiança de que segue seu rumo para representar o Brasil nos Jogos. "Continuo sendo a melhor do Brasil e a representante do esporte no País. Nos campeonatos brasileiros quem vai bem sou eu e quem representa e vai bem lá fora também sou eu", afirmou.

Gravidez e mudanças

Há quase dois anos, a vida de Juliana mudou radicalmente. Até então a rotina se resumia às 9 horas diárias de treino, às competições de saltos ornamentais, às aulas na faculdade de jornalismo e ao tempo que passava com o namorado. Com dores no pulso após uma cirurgia realizada em fevereiro de 2009, Juliana procurou o médico, e recebeu o que descreve ser a noticia mais fantástica e assustadora da sua vida: ela estava grávida.

"Meu médico falou que eu tinha que aguentar, porque meu filho não podia tomar remédios. Tomei um susto, aliás, dois. Ele achava que eu sabia que estava grávida, mas não queria contar para ele. Só que eu nem imaginava. Meu segundo susto foi quando ele me falou do tempo de gestação. Durante o exame, ele viu que era um menino, e que eu já devia estar próxima dos 6 meses de gravidez. Como eu podia estar grávida e com tanto tempo de gestação e não saber?"

Juliana conta que não ganhou peso. Ela tomava pílula e não sentiu nenhum sintoma de gravidez. Sem saber, visitou a Disney World e andou em todas as montanhas russas. "Jamais faria isso se soubesse que estava esperando o Pedro", disse.

Com a chegada de Pedro, que está prestes a completar dois anos, Juliana passou a dedicar apenas quatro horas por dia aos treinos - a carga horária passa para seis horas quando as competições se aproximam. Nada comparado às nove horas que fazia antes do nascimento. "Hoje não dá mais, tenho filho, marido, casa e faculdade", conta.

Em busca da série perfeita

Mesmo com todas as mudanças, Juliana Veloso olha para frente e vê margem para melhora. Ela abandonou a plataforma de 10 m, prova em que conquistou a prata no Pan-Americano de 2003, em Santo Domingo, e passou a se dedicar apenas ao trampolim de 3 m.

De acordo com a atleta, no trampolim, a idade não é empecilho. As quedas são menos doloridas e as lesões são menos frequentes. Além disso, essa prova também traz boas recordações. Em 2003, Juliana havia se preparado para a plataforma, mas também teve uma surpresa ao saltar e conquistar o bronze no trampolim.

"Eu não treinei, não estava preparada e nem ia saltar o trampolim. Mas saltei e ganhei a medalha de bronze. Foi o resultado de uma fase ótima que eu estava", lembrou.

A nova série de saltos está exigindo dedicação e cobrança maiores por parte da atleta. Juliana Veloso considera que se preparar bem os saltos, ficará em igualdade com as demais atletas.

No momento, ela tem nota máxima dez em apenas um dos saltos. Nos outros quatro, tem nota máxima oito. Ela trabalha para aumentar o potencial de todos os saltos. Segundo Juliana, os resultados não aparecerão de imediato, mas a série deve ter continuidade e ser colocada à prova em competições com um objetivo maior. "Estou visando uma final olímpica no ano que vem. E se eu quero chegar entre as seis melhores do mundo, não posso recuar agora".

Mesmo com a série aperfeiçoada, Juliana acha muito difícil bater as chinesas na modalidade, que devem ficar com prata e ouro em 2012. "Mas ficar entre a terceira e a sexta colocação é muito possível. Não é fácil, mas também não é impossível", afirmou.

Juliana conta que gosta de trabalhar sob pressão. Quanto mais nervosa antes das provas, melhor o trabalho. A bronca da técnica Andrea Boheme, para ela, serve como estimulante e a adrenalina é um complemento para conseguir realizar os saltos da forma mais perfeita possível.

Futuro

Única representante brasileira nos saltos ornamentais femininos no Mundial de Xangai, Juliana considera que poderia competir no Rio, em 2016. Mas ela pondera e diz que até lá as prioridades em sua vida podem mudar.

"Ainda tenho caminho até 2016. Mas o que acontece com as mulheres, principalmente, é que temos que cuidar da família. E acaba o seu tempo. E nem sempre as atletas mais velhas conseguem patrocínio. Já é difícil para as mais novas, imagina as mais velhas. Investimento não tem para ninguém".

Comentários